Cresci rodeado de exemplos de pessoas com uma aparência semelhante à minha – homens brancos – a ocupar a maioria dos cargos de liderança. Via-os nos espaços que frequentava, e através dos media, onde também, na ficção, a maioria dos personagens heroicos se parecia comigo. Ter estas representações de pessoas que nem eu a serem glorificadas e a conquistar tanto, enraizou em mim, e em tantos outros rapazes brancos, uma expectativa daquilo que um dia também eu poderia – e talvez até merecesse e devesse – ser. A sociedade espera isso de mim, e o privilégio resultante do papel social que ela me imprimiu leva a que um “bom futuro” esteja mais facilmente ao meu dispor. Isto é um reflexo do patriarcado e supremacia branca que ainda premeiam a nossa cultura – que, ademais, são insidiosos por não serem óbvios a olho nu para quem não vive ou estuda a discriminação social.
Imaginemos agora o cenário de uma mulher negra: quantos casos de sucesso de pessoas que nem ela encontrou para se inspirar? Com quantas personagens de filmes e séries se conseguiu identificar e sentir reconhecida? E culturalmente, espera-se dela o que se espera de mim?
Ainda é muito comum vermos cargos de poder, nas mais variadas organizações, a serem tendencialmente ocupados por homens brancos, enquanto funções na base da pirâmide, como limpeza e manutenção – que são igualmente importantes – são atribuídas a mulheres racializadas e/ou imigrantes. Se a mim, por conta do meu género e etnia, me foi incutida a narrativa de que devo ser ambicioso, inteligente e bem-sucedido, a elas ainda são erguidas barreiras que as impedem de sonhar mais alto e as conduzem para o trabalho reprodutivo e precário.
Este é apenas um caso entre as dimensões da diversidade que não são incentivadas a usufruir de boas oportunidades, consequência de dogmas culturais que então se expressam nas realidades económicas dos grupos sociais – as quais, por sua vez, determinam fatores de sucesso como a formação académica ou onde a pessoa vive.
Assim, a representatividade positiva de pessoas que não homens brancos nas organizações e nos media é necessária porque, através da inspiração por exemplos, pode-se incentivar a mobilidade social e contribuir para dissipar as desigualdades sociais. Além disso, a pluralidade é sempre positiva para as organizações, pelo que a representatividade promoverá uma cultura inclusiva no local de trabalho, valorizando a diversidade e contribuindo para uma melhor vida em sociedade.