Quantos de nós soubemos o salário dos nossos pais? E quantos debatemos valores de rendas e empréstimos com os nossos amigos ou familiares? Admitamos, os rendimentos, os gastos e investimentos – em suma, o dinheiro – são um elefante na sala, um tema tabu na maioria dos círculos sociais e essa é a primeira acha na fogueira da iliteracia financeira.

Segundo um estudo recente da Comissão Europeia, Portugal é o segundo país da União Europeia com pior literacia financeira, apenas à frente da Roménia. Os dados revelam que apenas 16% da população tem um elevado nível de literacia financeira, quase metade do valor dos portugueses que apresenta um nível baixo (28%). O mesmo estudo mostra que há um desconforto com a utilização de ferramentas financeiras digitais – algumas delas já há muito integradas no dia-a-dia da nossa sociedade, como o home banking – e uma maior confiança nos investimentos realizados junto de entidades estabelecidas. Em simultâneo, mais de metade (59%) afirma não ter qualquer confiança ou estar pouco confiante de que conseguirá viver confortavelmente durante os anos da sua reforma. É urgente construir riqueza, é urgente capacitar as pessoas para as questões e as oportunidades financeiras. É urgente, mas estamos a agir?

Nas últimas semanas, a discussão tem girado à volta da promoção da literacia financeira nas escolas – que é essencial para termos gerações futuras mais empreendedoras, promotoras de riqueza e de desenvolvimento social e económico. Mas alerto para um trabalho que deverá ser feito não em substituição, mas em paralelo: a capacitação da atual população ativa em Portugal. Segundo o Eurostat, a população portuguesa é a que está a envelhecer a um ritmo mais acelerado na União Europeia, com metade desta a apresentar uma idade superior aos 46,8 anos de idade, em 2022, a segunda idade mediana mais elevada no conjunto dos países analisados. Não devemos, por isso, ignorar a população que já não regressará aos bancos da escola, mas que precisa de, ainda assim, assegurar o seu presente e garantir condições para a sua reforma.

É neste contexto que os empregadores podem e devem atuar. À semelhança do que acontece com o reskilling e upskilling, para promover e atualizar competências de trabalho, e com a saúde mental, especialmente após a pandemia, também a saúde financeira deve ser vista como uma prioridade. Colaboradores mais conhecedores e confortáveis com a sua situação financeira acrescentarão mais valor do que aqueles que passam o dia a tentar perceber como gerir os seus rendimentos, como poupar ou investir.

Não quero com isto dizer que é uma responsabilidade do empregador. É, na verdade, um esforço conjunto em que todos têm um papel importante – empresas, famílias, sociedade e governo -, começando pela vontade individual do trabalhador. Mas ignorar as vantagens para as empresas pode ser prejudicial. Esta preocupação com a saúde financeira pode atuar como uma ferramenta de atração e retenção de talento, além de melhorar aspetos como a produtividade e o absenteísmo.

Se queremos uma sociedade e uma economia mais competitivas, devemos entender que a falta de consideração sobre o tema e de comunicação sobre dinheiro é o primeiro grande entrave. Evoluamos da regra que dita a etiqueta “não se fala de dinheiro à mesa” e falemos mais de oportunidades e desafios de gestão de rendimentos e investimentos, partilhemos experiências e conhecimentos, e consideremos a saúde financeira tão importante como a saúde mental. Vamos abater estes elefantes figurativos um a um para uma sociedade mais próspera.

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