Celebra-se hoje, dia 7 de Abril, o Dia Mundial da Saúde, este ano como tema “Saúde para Todos”. A par da comemoração desta data, a Organização Mundial da Saúde (OMS) celebra este ano o seu 75º aniversário e, por isso, abordará de forma mais incisiva as questões ligadas à saúde pública mundial.

Tomando esta temática como fundamental nos nossos dias, diria que o principal desafio nos próximos anos será continuar a incrementar políticas de saúde que combinem medidas de promoção da saúde, prevenção e tratamento da doença. Adicionando, como é claro, a melhor conjugação no que diz respeito a recursos humanos, financeiros e técnicos necessários para a garantia do acesso aos cuidados de saúde.

Em Portugal, as transformações sociais e económicas das últimas décadas, a par de algumas políticas de saúde, permitiram uma melhoria dos indicadores de saúde, importa agora intensificar estratégias de saúde na área da prevenção – como por exemplo a implementação de políticas no âmbito do consumo de álcool, tabagismo, atividade física e alimentação saudável – que têm um impacto positivo, nomeadamente na redução da mortalidade a longo prazo.

A OMS relembra-nos que mais de 10 milhões de mortes prematuras poderiam ser evitadas, até 2025, se os países implementassem as “best buys” para doenças não transmissíveis suportadas no relatório da World Health Assembly em 2017. Este documento permite aos decisores políticos orientar as políticas de saúde em prol dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, nomeadamente do número 3, relativo a “Saúde de Qualidade”, apresentando de forma sistemática um conjunto de intervenções recomendadas (“boas escolhas”) para enfrentar as doenças não transmissíveis (doença cardiovascular, diabetes, cancro e doença respiratória crónica) e os seus determinantes (tabaco, álcool, hábitos alimentares inadequados e inatividade física).

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Por cada dólar gasto nestas intervenções recomendadas, a OMS estimou um retorno mínimo de sete dólares em 2030. No entanto, Portugal tarda em dar mais expressão a estas “best buys” e a investir financeiramente em cuidados preventivos. Continuamos a gastar menos do que muitos outros países europeus em prevenção (41€ per capita em comparação com 102€ como média da União Europeia, que representa 2 % do total das despesas de saúde face aos 3 % da média europeia).

Importante será relembrar, ainda, que a OMS estima que, a cada ano, mais de 13 milhões de mortes no mundo, se devam a causas evitáveis, onde se inserem os hábitos alimentares inadequados. E, por cá, elas representam um grande fardo com cerca de um terço de todas as mortes.

Assim, parece-me mais do que evidente, que a aposta em políticas de prevenção da doença e promoção da saúde devem continuar a ser uma prioridade começando, desde já, pelo acesso a uma alimentação adequada de todos os cidadãos que, para além de ser um Direito, é uma forma de acrescentar mais anos de vida saudáveis aos anos vividos.

Nesta área, as competências dos nutricionistas enquadram-se perfeitamente no desafio lançado pela OMS, nomeadamente pela intervenção destes profissionais no planeamento e gestão de medidas na área da promoção da saúde e prevenção da doença, para a alteração de comportamentos alimentares, incluindo o necessário reforço da literacia nutricional e alimentar, mas também na produção científica, ou ainda na gestão dos serviços de nutrição nos cuidados de saúde, zelando pela redução do risco nutricional, nos doentes hospitalizados e na população na comunidade. A sua ação atempada levará a uma importante minimização dos custos do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

As evidentes alterações da sociedade portuguesa, cada vez mais envelhecida e com elevada prevalência de doenças crónicas, bem como, ao mesmo tempo, com novos estilos de vida, incluindo os alimentares (certamente, também, pela conjuntura económica nacional e internacional), pressionam o SNS que deveria ter uma intervenção claramente mais preventiva.

O objetivo deverá ser alcançar-se uma transição nutricional, através da mudança de comportamentos, tal como defendido pelo prestigiado investigador Barry Popkin, para um padrão alimentar saudável e é aqui que a intervenção do nutricionista pode marcar a diferença.

A intervenção nutricional em situações de doença é obviamente também eficaz, mas esta intervenção antes do seu aparecimento é uma arma poderosíssima nas questões de saúde para TODOS.

A aposta e investimento em intervenções concretas e sustentadas no tempo poderão, de facto, alterar o atual cenário epidemiológico do nosso país, sobrecarregado de doenças crónicas, e garantir uma população portuguesa cada vez mais saudável.

Não tenhamos assim dúvidas da importância vital do dia de hoje – 07 de abril – mas não o esqueçamos nos outros dias do ano.

Alexandra Bento

Bastonária da Ordem dos Nutricionistas