As grandes instituições internacionais (FMI, Banco mundial, UE…) afirmam numa só voz que para salvar o clima e o planeta temos de substituir os combustíveis fósseis por energias renováveis, acabar com os carros a combustão… em suma, eletrificar tudo e todos (inclusive os humanos). Ou seja, vamos substituir a nossa dependência dos combustíveis fósseis por uma outra dependência dos minerais, fazendo assim da indústria mineira o “redentor” da humanidade e do planeta! Que grande ironia, não é? Mas será que uma das indústrias mais poluentes está mesmo em capacidade de nos salvar dum futuro no mínimo incerto?
Qual é a realidade finalmente?
Até 2050, estima-se que para cumprir os acordos de Paris (tratado mundial assinado em 2015 cujo objetivo é reduzir o aquecimento global), será necessário produzir pelo menos 5 a 10 vezes mais metais do que hoje. Vamos assim extrair em trinta anos tantos metais quanto os que extraímos desde o início da história humana! Considerando que a mineração e a metalurgia já representam 12% da energia consumida no mundo e são responsáveis por cerca de 8% das emissões de gases com efeito de estufa no mundo, faça os cálculos.
Para agravar ainda a situação, o empobrecimento global das jazidas a nível mundial tem como consequência o aumento das poluições e da quantidade de energia consumida. Basicamente, quanto mais baixo for o teor dum mineral, mais poluente é uma mina. Não há volta a dar.
A própria ONU num relatório recente do seu programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) alerta sobre os impactos : “Os nossos sistemas de consumo e produção irão acumular impactos catastróficos nos sistemas terrestres e ecológicos processos que sustentam o bem-estar humano e a diversidade da vida em nosso planeta”.
Além dos efeitos ambientais perniciosos, a corrida aos metais estratégicos incita as grandes potências mundiais a instaurar uma política imperialista cada vez mais agressiva, que pode originar novos conflitos (Ucrânia e República Democrática do Congo, por exemplo).
Em conclusão, os factos demonstram de maneira cristalina que o extractivismo contribuiu em grande medida para as alterações climáticas, para a poluição dos solos e das águas, para a destruição da biodiversidade e participa na instabilidade política e social do mundo. A recente narrativa da mineração “verde” não passa dum embuste, com o objetivo claro de manipular a opinião pública para continuar a explorar cada vez mais a natureza e os seres vivos (onde podemos incluir o próprio ser humano).
Não haverá, portanto, uma solução mineira para a crise ecológica global que estamos a enfrentar. Pelo contrário: a expansão desenfreada da mineração que se vislumbra só irá agudizar a crise ecológica em curso e irá gerar de certeza, uma intensificação das tensões geopolíticas e dos conflitos. Continuar a dar a entender que se pode combater a crise ecológica eletrificando tudo e todos – expandindo massivamente a mineração -, é uma mentira descarada e criminosa.
Sendo certo que temos de apostar no desenvolvimento das energias renováveis, na eficiência energética, ou na reciclagem, antes de mais, temos de reduzir drasticamente a produção e o consumo de recursos e de energia. Só assim poderemos alcançar um modelo de sociedade verdadeiramente sustentável e respeitador dos limites naturais do nosso planeta: vários especialistas afirmam que temos de reduzir o consumo energético mundial em 3/4. Claro que os decisores deste mundo não querem ouvir falar nessa perspetiva.
Portanto, cabe aos movimentos sociais e a todos os cidadãos, assumir o futuro do nosso planeta e exigir as alterações sociais, políticas e económicas que se impõem. Se não mudarmos o nosso modo de vida esbanjador e predador (refiro-me ao modo de vida do mundo “ocidental” no sentido lato) a bem, teremos que o fazer a mal mais tarde. E não vai ser bonito. Temos de acordar desta apatia generalizada na qual os poderosos deste mundo nos mantêm e nos querem manter. Os nossos filhos e netos irão agradecer-nos. Ou não…