Não sabemos quanto vamos gastar, mas sabemos quem manda.
Depois de o CEO da Endesa, Nuno Ribeiro da Silva, ter alertado que a eletricidade iria sofrer um aumento de cerca de 40% já nas faturas de julho – aumento justificado pelo mecanismo ibérico para controlar o preço do gás na produção elétrica – o Governo não se deixou ficar sem resposta. Governo, ou António Costa? Não sabemos bem, comparando a “intensidade” do despacho publicado pelo primeiro-ministro, e as declarações de João Galamba, Secretário de Estado do Ambiente e da Energia.
Como se sabe, António Costa não é virgem neste tipo de confrontos com as grandes empresas. Não só não é virgem, como se denota o seu particular prazer na demonstração (legítima, diga-se) de poder perante estas entidades. Desde a tragédia de Pedrógão Grande, em que o primeiro-ministro foi ao Parlamento dizer que a Altice tinha cometido “falhas graves”, passando pelos “negócios criativos” da EDP aquando da venda de seis barragens do Douro (processo ainda hoje em avaliação pela Autoridade Tributária), terminando na “lição” que a Galp teria de levar, pela forma como encerrou a refinaria de Matosinhos. Uma questão de personalidade, de identidade política ou apenas folclore comunicativo? Ainda não sei. Nem sei se interessa.
No caso da Endesa, enquanto que João Galamba afirmava ser “impossível” verificar-se uma subida de 40% na fatura da energia através do mecanismo ibérico, explicando os trâmites do processo de forma mais “solene”, António Costa assumiu o papel de “polícia mau” e comunicou de forma perentória que o Estado não poderá pagar qualquer fatura da Endesa sem validação prévia do “polícia bom” (João Galamba), perante as “ameaças de práticas especulativas nos preços a praticar” pela empresa.
Entretanto, a ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos – veio dizer que iria estar “particularmente atenta” ao comportamento dos comercializadores, e a Endesa acabou por comunicar que iria manter os preços contratuais até dezembro, já depois da polémica estar instalada.
A pergunta remete-se então ao primeiro ponto deste texto, e nomeadamente para quem não é tão interessado pela ciência de perceber realmente quem manda nisto tudo: quanto iremos nós, consumidores, pagar no final do mês? Quais as reais implicações do mecanismo ibérico nas nossas contas? Como sabemos que ele vai funcionar? Tem a Endesa razão ao alertar para a eventual surpresa dos consumidores no preço que iremos pagar? Que informação levamos hoje, no momento de renovar – ou não – contrato com essas operadoras?
Acredito que a discussão deveria estar centrada aí, e acredito que seja esse o caminho que as outras entidades partidárias tentarão adotar, no esclarecimento de algo que nos afeta a todos, ainda mais num período de inflação e com outra recessão económica à espreita. Seja o Governo, ou a própria ERSE – que poderia ser mais explicativa do que o foi até agora – alguém nos deveria informar e explicar de forma cuidada e detalhada, como irá todo o processo funcionar.
Hoje ainda não sabemos disso. Só sabemos, uma vez mais, quem manda nisto tudo.