24 de fevereiro de 2022. Desde o fatídico dia em que a Rússia decidiu invadir a Ucrânia em larga escala militar, temos assistido diariamente não só a um processo lento e moroso, que parece não ter fim a nível militar e humano, e que tem provocado já milhares de mortes em solo europeu, mas também a um definhamento igualmente lento e moroso de quem continua, de forma tão incessante como exasperada, a colocar um “contudo” numa equação que, por mais complexa que seja na sua resolução, é evidente na sua definição.

De forma notória (esquecendo os pobres Alexandres Guerreiros desta vida), e numa primeira camada, temos a posição do PCP desde o primeiro momento, posição essa que tem motivado – com legitimidade – uma forte resposta de um lado da política portuguesa (e com um silêncio comedido de quem nos governa, infelizmente). E essa posição, que tem tanto de firme como de ilógica, por mais horripilante que seja a nível ético – colocar os princípios morais e humanos em segundo plano, por questões de ligação histórica e monetária é preocupante, no mínimo – ao menos é assumida de forma pública e constante – é a mesma desde 1974 e que nos deixa sem margem de dúvidas sobre qual é a posição do Partido Comunista.

Numa outra camada, temos os “mas”. Os “mas”, dignos de uma conjunção adversativa que lhes permite alegar quase a mesma coisa que os seus homólogos comunistas, mas de uma forma mais cinzenta e humana que, ouvido na televisão ou nos jornais, não parece assim tão grave. Mas é!

Na semana anterior, por exemplo, ouvi atentamente o comentador Daniel Oliveira alertar sobre como a possível entrada da Finlândia da NATO poderá ser um ponto de “escalada de confrontação sem retorno” no conflito com a Ucrânia.

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Noutro plano, na mesma semana, a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, referiu que uma “expansão da NATO não é a solução” para a construção de uma Europa mais segura. Já Mariana Mortágua, fez questão de nos recordar a todos que a “NATO é uma organização acusada de crimes de guerra”, entre outras coisas. E caso estas personalidades fossem a nossa fonte de informação, provavelmente pensaria algo como “Mas o que pretende esta insolente Europa, provocando de forma contínua alguém que nos pode matar a todos?”

Ou seja, uma posição de coragem adotada pela Suécia e pela Finlândia, na procura de um espaço que lhes garanta defesa numa guerra que já esteve mais longe de acontecer, e que pretende inibir quem deseja precisamente que ela aconteça, trata-se de uma provocação claramente evitável sobre um bully – que tem o nome de Vladimir Putin – que deve ser deixado sozinho até que ele decida chamar os seus militares de volta para casa, quando eventualmente se aborrecer da guerra.

Como fã de analogias para tornar simples o que é complicado, e olhando para estas observações, tento mesmo esquecer todas as possíveis conexões históricas ao Krémlin, tento desvalorizar o ódio partilhado pelos Estados Unidos, ou mesmo ignorar as tentativas – falhadas – de diabolizar Zelensky, para compreender o incompreensível.

E por isso imagino apenas a situação hipotética de o filho ou uma filha de uma destas pessoas chegar a casa depois de ter sido agredido na escola por um bully. Será que seriam confrontados com o facto de terem provocado o referido agressor?

Em suma, e agora sem analogias: Isto deveria ser uma luta de todos nós, portugueses e europeus, contra um alvo tão óbvio como perigoso. Mas não é. E não sendo, só espero que no final deste trágico acontecimento não nos esqueçamos de quem faltou a ela.