O meu nome é Diana e eu gosto de escrever. Gosto de escrever como quem gosta de pintar, tocar ou desenhar. Gosto de escrever por prazer, jeito e necessidade. Na escola nunca tive muita habilidade para a coisa, mas atualmente gosto de pensar que até me safo. Ou isso, ou aqueles que me são próximos gostam mesmo muito de mim.

Mas o que parece ser um simples verter daquilo que mais nos pesa na alma é, na verdade, um penoso exercício indispensável para a leveza de espírito. Pois a escrita nunca vem quando mais preciso. A escrita não atende a chamamentos, por mais desesperados, nem cede a pressões internas ou externas. A escrita só se me apresenta quando já não faço questão e, sobretudo, quando penso já não necessitar dela.

Eu sinto-me bem quando escrevo. Sinto-me mais leve e desafogada. Mas a verdade é que eu nunca sei sobre o que escrever. Sobre tudo e sobre nada. As ideias inaugurais saem-me de forma espontânea, a adversidade reside em desenvolvê-las. Procuro inspiração, onde quer que esta possa ser encontrada. Sei que palavra puxa palavra e conteúdo puxa conteúdo, mas a força propulsora parece inalcançável. Sinto-me frustrada. Sinto-me sobrecarregada e sem meios de fazer escoar a carga.

Fazendo uso da faculdade humanamente popularizada de converter a dificuldade de assumir os próprios erros na facilidade de pôr as culpas em cima do outro, eu culpo, em primeiro lugar, o meu computador, pela minha falta de assiduidade na escrita. É velho e demasiado lento, não tem o word e a spacebar nemsemprefunciona. Culpo os meus cadernos e as minhas canetas sempre meticulosamente desadequados à árdua tarefa que é coordenar pensamentos de velocidades supersónicas com a vulgar aceleração da escrita humana. Culpo o meu emprego, por me sugar até ao tutano toda a energia criativa destinada a este exigente passatempo. Culpo a internet pela minha fraca capacidade de concentração, pelos seus títulos apelativos e pelos anúncios pop up que me levam a perder-me num mar de acontecimentos supérfluos que nada de proveitoso acrescentam à minha escrita ou à minha vida, no geral. Culpo a música, a que coloco de fundo. A que conheço e a que não conheço, as letras que me fazem cantar com toda a minha alma e as que esquadrinho a fundo com a minha apaixonada veia musical. Não gosto de escrever sem música, mas não vejo como escrever com.

Talvez eu escreva melhor sobre pressão. Ou talvez só precise mesmo de um computador mais funcional. O que quer que seja, ainda não foi desta que descobri o antídoto para a falta de inspiração, ou o caminho mais acessível para desembaraçar o emaranhado de pensamentos acumulados. Mas em todo este toma lá, dá cá de culpabilidades, nesta fundamentada permuta de culpa, já escrevi todo este texto, o que já não foi nada mau, e já deu para aligeirar a alma para os próximos tempos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR