Pela primeira vez, foram realizadas cirurgias de colocação de próteses ao joelho e à anca em São Tomé e Príncipe. Até fevereiro de 2023, nenhum cidadão são-tomense tinha tido a oportunidade de, no seu país, realizar umas das intervenções cirúrgicas mais banais em Portugal e mais frequentes na União Europeia.

Tal só foi possível devido a uma missão humanitária que muito me honra ter integrado. Organizada pela A.N.D.A.R. – Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatóide e pela sua presidente Arsisete Saraiva, esta missão, que representou a reconhecida generosidade do nosso país, levou a São Tomé e Príncipe uma equipa de profissionais de saúde portugueses, entre os quais sete médicos.

Colmatar desigualdades e melhorar o acesso à saúde são emergências inequívocas, especialmente comprovadas depois do que enfrentámos durante a pandemia da COVID-19, um pouco por todo o mundo. São, também, dois dos objetivos do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.

A que outros procedimentos cirúrgicos não terão acesso inúmeras pessoas, nas mais distintas geografias? Quantas vidas estarão em risco, neste preciso momento? Direito aos cuidados de saúde é direito à vida. Ninguém, em qualquer parte do mundo, deve ser privado dele. Por isso, sabemos que o nosso apoio não pode ficar por aqui.

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Rumo a São Tomé e Príncipe, levámos a nossa experiência em várias especialidades da medicina – da Ortopedia à Medicina Geral e Familiar, Reumatologia, Dermatologia, Saúde Oral e Pediatria – mas também material educativo e bens alimentares não perecíveis de que o país precisava. Tivemos ainda a oportunidade de ser acompanhados por uma farmacêutica e um informático, que possibilitaram a melhoria da informatização de uma farmácia local.

Acima de tudo, levámos vontade política para converter o nosso espírito de solidariedade em ação efetiva.

Além das centenas de consultas e várias intervenções cirúrgicas realizadas, sabemos que, para caminharmos em direção à diminuição significativa das desigualdades e de um acesso cada vez mais universal à saúde, é essencial fornecer ferramentas para o futuro. Para que este trabalho possa ser desenvolvido de forma autónoma e emancipada, aproveitámos este momento para reforçar pontes com os profissionais de saúde são-tomenses, capacitando recursos humanos e impulsionando o uso da tecnologia na sua área de atuação.

É assim que fazemos a diferença na vida das pessoas. Solidariedade exige ação. E ação gera mudança. O Estado português, com especial atenção para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, também o sabe. Reconhecendo o compromisso desta iniciativa humanitária, prontamente cooperaram connosco na concretização dela. Não posso deixar de sentir um enorme orgulho do nosso país na multiplicação de esforços que foi feita, em nome de uma solidariedade além-fronteiras.

A diplomacia de saúde precisa desta força e atuação transdisciplinar. Todos temos de responder à chamada: filantropos, ONGs, diplomatas, profissionais de saúde, cuidadores informais, assistentes sociais, educadores e professores, impulsionadores da digitalização e inovação tecnológica, entre tantos outros. Há espaço e trabalho para todas as mãos. E esta solidariedade só o multiplicará. Estarei aqui para responder à chamada, sempre, em nome da literacia em saúde e do acesso de todos a cuidados necessários.