A tecnologia tem evoluído de forma tão acelerada e exponencial que, atualmente, vivemos numa sociedade baseada no conceito IoT – Internet of Things, com grande influência na indústria, levando, até, ao que muitos defendem como a nova revolução industrial. Nesta nova sociedade onde tudo está ligado, onde a informação e os dados podem ser facilmente partilhados, agora é possível adicionar novas potencialidades e funcionalidades, desde o mais simples aparelho do nosso quotidiano até às grandes linhas de produção industrial.
Da mesma forma, graças à grande capacidade de processamento e armazenamento, um e outro cada vez mais acessíveis, surgem no nosso dia-a-dia conceitos mais complexos como a Inteligência Artificial e Big Data, como uma poderosa ferramenta de apoio à decisão.
A escola não pode ignorar esta evolução e a integração da tecnologia na educação é indispensável para que os nossos alunos, que se encontram em processo de educação e formação, conheçam e dominem as diferentes abordagens e potencialidades que a tecnologia vem proporcionando à vida económica, social e cultural, constituindo-se, além disso, numa mais-valia para a aquisição de conhecimentos e competências importantes — que os qualificam e lhes permitirão enfrentar com vantagem, ao longo da vida, os desafios de uma sociedade que acelera na era digital como nunca.
No tempo em que vivemos, infelizmente de grande instabilidade, fruto da pandemia que enfrentamos, a integração da tecnologia na educação tem sido em muitos casos a “tábua de salvação”. Reconheço que é, sem dúvida, um investimento importante para um fim que resolve o problema no imediato. Contudo, integrada desta forma, poderá vir a perder a utilidade no futuro.
A tecnologia tem de ser integrada na educação como um meio, para que as escolas disponham de mais ferramentas para explorar novas metodologias inovadoras. Com acesso a novos conteúdos e plataformas, as escolas podem aprofundar a diferenciação pedagógica e proporcionar ao aluno um percurso de aprendizagem ao seu ritmo e com maior autonomia. Através do acesso a recursos educativos digitais que facilitam o acesso à informação e ao conhecimento de uma forma universal, podem assegurar a inclusão de cada aluno, respondendo, de forma mais eficaz, ao contexto ou necessidades especiais de cada um. A integração da tecnologia terá também de valorizar a formação, o trabalho cooperativo e a partilha de práticas pedagógicas no desenvolvimento profissional dos professores e de outros técnicos.
Urge construir um novo conceito de escola, uma escola que privilegie metodologias ativas e abordagens pedagógicas que coloquem os alunos no “comando” da sua aprendizagem e aposte, igualmente, no impacto positivo da incorporação da tecnologia nos processos e nos ambientes de aprendizagem — assumindo-a, efetivamente, como um elemento fundamental para o desenvolvimento das competências presentes no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.
Na Madeira, para dar resposta a esta transformação educacional que inclui uma visão para a inovação no ensino, na aprendizagem e na avaliação, com o foco nas competências do século XXI, tais como pensamento computacional e crítico, criatividade e colaboração, passando pela utilização de dados no apoio à tomada de decisões, a Secretaria Regional de Educação, Ciência e Tecnologia concebeu um Plano de Ação Estratégica para a lnovação Educacional nas escolas da RAM, que está a ser progressivamente implementado desde 2018. Este Plano de Ação Estratégica integra, entre outros, o Projeto dos Manuais Digitais para todos os alunos das escolas públicas da Região, a partir do 5.º ano; a criação de salas de Ambientes lnovadores de Aprendizagem; a criação da disciplina de Ciências da Computação; a formação de professores; a disponibilização a todas as escolas dos ensinos básico e secundário de equipamentos e recursos para as Ciências Experimentais, Ciências da Computação, Programação e Robótica Educacional.
Num processo de implementação de projetos ou programas desta dimensão, os desafios são, naturalmente, proporcionais e o sucesso da sua implementação passa, por esta razão, por alguns aspetos essenciais que não podem deixar de ser considerados:
- Ouvir e ter o compromisso de todos, seja das escolas e/ou parceiros envolvidos;
- A formação dos diversos intervenientes é fundamental, tanto na preparação inicial como no acompanhamento e desenvolvimento do processo;
- Desenhar uma solução adequada às necessidades e objetivos, que tenha em consideração o máximo de variáveis possíveis e que seja escalável no tempo;
- Ter uma estrutura de apoio centralizada, que regule o funcionamento geral e que, em articulação com as escolas, tenha uma capacidade de resposta imediata na resolução das solicitações que vão surgindo.
O desafio passa por termos um programa ou projeto que seja o mais unificado e abrangente possível, que tenha em conta aspetos importantes como a formação, a segurança, tanto a nível do acesso aos conteúdos como dos equipamentos e recursos, e que, ao mesmo tempo, corresponda e se adeque de modo particular às necessidades de cada um.
Em jeito de conclusão, a integração da tecnologia na educação é claramente um meio que permite uma melhoria ao nível da qualidade das aprendizagens dos alunos, tornando-os mais autónomos e comprometidos na construção do seu próprio saber. Isto num processo educativo muito mais enriquecedor, personalizado e criativo e que lhes possa conferir competências para os desafios futuros de uma sociedade que é cada vez mais digital e baseada na utilização da tecnologia.
Caderno de Apontamentos é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.