As inovações do setor digital, se nos inspirarmos da vida de Ada Lovelace (condessa de Lovelace, 1815 – 1852, filha de Lord Byron, pioneira da ciência informática), viriam das pessoas capazes de associar a beleza à engenharia, o humanismo à tecnologia e a poesia aos processadores. “Ela virá da parte desses criadores que se sentem encantados quando as artes e as letras encontram as ciências, e dotados de um sentido de admiração rebelde…”, Walter Isaacson. O debate ao qual temos assistido, desde há um ano, sobre a questão do impacto na utilização da inteligência artificial e dos robôs merece discernimento.

A história da informática arranca verdadeiramente com Douglas Engelbart, nos anos 1960, inventor e pioneiro da informática, célebre por ter inventado o rato: símbolo da fusão entre o homem e a máquina.

Desde a célebre história dos luditas, as tecnologias levantam duas questões recorrentes : (1) a da eterna substituição dos homens pelas máquinas versus a tese do aumento das riquezas partilháveis graças às máquinas, assim como (2) a questão de saber se a informática iria beneficiar o maior número possível de utilizadores, sendo sinónimo de difusão de saber ou se, pelo contrário, a tecnologia iria limitar o acesso ao conhecimento tal como desejavam algumas comunidades universitárias nos anos 1960 ,em São Francisco (um pouco paradoxalmente).

Na Baía de São Francisco, formaram-se grupos de hippies para defender esta ideia de que a tecnologia deveria absolutamente permitir mais liberdade num contexto bastante contestatário em relação ao establishment, à burocracia. Era necessário colocar o humano no seio do desenvolvimento económico.

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Atualmente, chegamos ao mesmo ponto com os robôs e a inteligência artificial. Interrogamo-nos se estas tecnologias permitirão uma maior justiça social melhorando o acesso ao emprego, ou se, pelo contrário, elas contribuirão para o aumento da concentração das riquezas e ao surgimento emergente de uma sociedade seletiva fundada na capacidade de adaptação.

A informática desenvolveu-se consideravelmente desde a lei de Grosh dos anos 1960, engenheiro informático e astrónomo americano que demonstrou o seguinte: os custos de um sistema informático aumentam como a “raiz quadrada” da sua potência. Posteriormente, conhecemos  a célebre lei de Moore que demonstra que a queda dos custos dos componentes eletrónicos é reduzida para metade todos os 18 meses. Podemos dizer que a informática passou a sua história à procura do crescimento dos rendimentos. Nem tudo foi fácil, as burocracias pesadas resistiram à mudança.

A chegada e a massificação do microprocessador democratizou a utilização dos computadores pessoais e também no seio das empresas. Progressivamente,surgiram os programas informáticos, seguidos da estatística. Atualmente, dia após dia, os robôs e a inteligência artificial impõem-se cada vez mais e marcam um ponto de viragem na história, uma vez que são, evidentemente, transversais aos diferentes setores de atividade (não se trata de um quarto setor contrariamente ao que ouvimos frequentemente, ele é transversal). A maior parte dos setores é abrangida pela automatização dos processos e pelos robôs. Lentamente, mas de forma segura, a inteligência artificial e os robôs penetram nas organizações.

Como todos os fenómenos económicos, e Joseph Schumpeter já o tinha demonstrado, estamos perante  um ciclo que se produz em dois tempos: o passado (1980 – 2015) e o futuro (2015 – 2040). Com Schumpeter, por exemplo, o ciclo de Kondratiev criado nos anos 1920 pode durar entre 40 e 60 anos.

Atualmente, quando lemos a atualidade económica, somos projetados de forma espontânea no raciocínio linear e o impacto das tecnologias sobre o emprego não é exceção. O efeito ou é positivo, ou negativo, nunca existem dois períodos, por exemplo, com a constatação de um período onde o efeito é negativo e um segundo período, onde o efeito é positivo. Este debate é evidentemente conhecido dos economistas e pesquisadores, mas a atualidade económica não o divulga. Por isso, as opiniões permanecem dogmáticas com os prós e os contras, os tecnólogos e os avessos à tecnologia. Infelizmente, a realidade não se resume a: “os dois têm razão” ou a verdade está no meio termo, mas simplesmente que o impacto das tecnologias sobre o emprego, como qualquer outro fenómeno humano, segue um ciclo, com um período bastante desfavorável ao emprego, que denominamos o passado (1980 – 2015 aproximadamente) seguido de um período favorável ao emprego (2015 – 2040), o futuro. Desta forma, os avessos à tecnologia têm razão no que diz respeito ao passado, mas os tecnólogos têm razão no que diz respeito ao futuro (seguem abaixo as características dos dois períodos).

Durante estes dois períodos, é a economia da oferta que se intensifica, assim como a concentração das riquezas. Portanto, é necessário uma adaptação individual, juntamente com a política económica, para fazer desta revolução digital um meio de aumentar as riquezas de forma equitativa.

É igualmente importante distinguir três pontos: as profissões que vão desaparecer, as que irão enriquecer e aquelas que se irão criar. Sejam estas profissões manuais ou cognitivas, quanto mais rotineiras forem as tarefas, mais probabilidades terão de serem robotizadas ou automatizadas. E no que toca a este último ponto, nem todos poderão tornar-se Big Data manager. Tornar-se-á necessário adaptar-se no plano individual e no plano da política económica. No campo individual, existem várias formas de se adaptar!

Davenport e Kirby (2016) irão desenvolver a tese do crescimento. É a ideia de sinergias entre os homens e as máquinas. Para adaptar-se, algumas qualidades serão solicitadas: ser capaz de acrescentar valor através da utilização de dados, ser criativo e intuitivo, ser capaz de manipular conceitos que encontrarão eco junto de clientes de alto nível, ser capaz de desenvolver uma inteligência múltipla, dominar os programas e suas decisões automáticas, ser também capaz de supervisionar equipas e, finalmente, o conhecimento profundo de uma rede num contexto de grande capacidade de anticipação das futuras tecnologias formam um conjunto de vantagens que protegerão os trabalhadores face ao desemprego tecnológico ou a diminuição da sua produtividade (uma vez que é a produtividade do capital tecnológico que irá aumentar).

Cada um deve escolher a sua abordagem. Os indivíduos que saberão escolher a sua própria abordagem saberão adaptar-se. Cada um deverá ser capaz de escolher a sua relação no mercado. A boa notícia é que grande parte da atividade cerebral não pode ser codificada.

É também a oportunidade de reformular totalmente a política económica. Evidentemente, o rendimento básico universal, financiado pelo “dinheiro de helicóptero”, isto é, diretamente para o consumidor e criado mais a nível europeu do que a nível francês, pela consolidação dos mínimos sociais, é uma solução, tal como a taxa sobre os robôs. A generalização desta medida parece-nos essencial para os países da União Europeia. Desta forma, a transformação digital permitirá assegurar a igualdade de oportunidades sem cair no totalitarismo tecnológico.