O conceito do metaverso é importante para compreendermos a transformação económica e digital. Quando praticamos desporto num clube, quando fazemos as nossas compras, quando nos encontramos uns com os outros, quando visitamos um museu, ou vamos ao shopping, ou até mesmo quando vamos ao cinema ou realizamos uma experiência científica na Antártida, existe um movimento físico, um acto social concreto. O metaverso possibilita estas mesmas utilizações, excepto que estamos sentados numa cadeira com um headset de realidade virtual. Fazemos desporto com um jogo, PS4 por exemplo; fazemos compras num showroom a 360° em plena virtualidade. Podemos instalar-nos, agora, na nossa sala de cinema, ou seja, nas nossas casas com (por que não) uma visão 3D.

Neste metaverso, existem basicamente duas opiniões :

(1) Um metaverso aberto, comum, democrático. Você e eu podemos desenvolver um universo metaverso a partir da adição de tijolos tecnológicos : a inteligência artificial vai ajudá-lo a orientar-se, com uma moeda eletrónica para proceder aos pagamentos (os criptoativos de que fazem parte os tokens, estas famosas fichas de pagamento). Poderíamos acrescentar mais ferramentas que fazem parte deste mundo : a videoconferência em casa, os modelos 3D, os óculos 3D, as redes sociais para comunicar e conhecer novas pessoas, as plataformas de colaboração e blockchain. Quanto às impressoras 3D, absolutamente essenciais no sistema com a IA, elas permitiriam a construção de praticamente tudo o que você deseja enquanto navega na Internet de casa.

A segunda opção é o metaverso fechado. Ele só é autorizado para certos intervenientes do sector público ou privado (a Defesa por exemplo, os jogos para crianças, etc…). Para construir este mundo virtual privado, já existem um certo número de actores, tais como Epic Games ou Roblox, mas são americanos. Através da adição dos tijolos tecnológicos, eles conseguem adaptar-se a um sistema mais aberto no mundo de amanhã.

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Emmanuel Macron propõe um metaverso europeu

Emmanuel Macron propõe um metaverso europeu que possa concorrer com os Americanos e os Chineses, que já estão à nossa frente. Mark Zuckerberg e Facebook anunciaram por outro lado vários milhares de milhões de investimento no metaverso. A Europa já regista algum atraso no que toca à questão da IA, da 5G e, agora, o metaverso. Sobre o metaverso propriamente dito, como o chinês Tik-Tok parece estar a liderar, em parte, face ao americano Facebook, existe a ideia de que um metaverso chinês poderia ganhar velocidade sobre o dos americanos. É neste contexto que Emmanuel Macron propõe apoiar o desenvolvimento de certos tijolos tecnológicos chave, como os motores 3D. A ideia seria criar concorrentes europeus face ao Unreal Engine da Epic Games e ao Unity e o seu motor epónimo , para citarmos dois exemplos.

A ideia de Emmanuel Macron, tentadora à primeira vista

Este metaverso europeu permitiria, para além de recuperar o atraso, a obtenção de vantagens económicas importantes. Facilitaria as parcerias tecnológicas na Europa permitindo a constituição de monopólios. Todos os atores europeus do sector Tech reunir-se-iam em torno de um projeto comum, que o sistema seja aberto ou fechado de resto. Sobretudo, o metaverso é um mundo poderoso para valorizar mais do que o dinheiro, nomeadamente colocando questões sob o ponto de vista tecnológico no que toca aos assuntos ambientais e sociais, ou seja os critérios ESG das empresas associadas ao metaverso. Na medida em que estas empresas permanecerão bem «reais» mas dotadas de um mundo metaverso em formato 360° virtualizado, o cumprimento de toda uma série de regulamentações, em particular através da IA, será facilitado. As ferramentas colaborativas virão reforçar a partilha de valores coletivos. Com a inovação tornando-se o motor, a economia aproximar-se-á da inovação dos estúdios, como no cinema, e eis como na Europa poderemos finalmente apostar quinhentos milhões num metaverso industrial: a indústria 4.0 europeu.

Mas cuidado, Emmanuel Macron parece surfar uma onda

Este projeto de metaverso europeu enfrenta diversos obstáculos : vejamos o mimetismo da sociedade americana, longe de ser exemplar (o desenvolvimento de um mundo visionário perigoso e da cibercriminalidade). Isolar a Europa sobre este assunto parece pouco realista, da mesma forma que os esforços da China ou da Rússia para isolar os seus cidadãos do resto da Internet. Por que não falar do mundo de amanhã através de projetos inclusivos, societais e coordenados a nível europeu, como no tempo do Airbus ? Se tivéssemos absolutamente de falar do mundo de amanhã, seria necessário, em primeiro lugar, controlar o que se passa hoje. E atualmente o desafio da economia é o poder de compra e o emprego. O que vem fazer um metaverso europeu nestes domínios, sem visão e sem perspectivas sobre o seguimento que irá ter o mercado de trabalho com humanos enclausurados nas suas casas? De que forma serão remunerados? Através dos tokens? Direitos de propriedade multidimensionais? Para que profissões? Quais são as profissões que irão desaparecer, e por outro lado quais as profissões que surgirão com o metaverso? Quem irá monopolizar a renda?

Se se pretende um projeto global como um metaverso europeu, é forçosamente necessário incluir o mercado de trabalho e dar-lhe uma visão, uma vez que emprego e poder de compra formam os dois principais desafios para os franceses. Será também necessário demonstrar que os europeus estarão em uníssono. Ora, nada é menos certo, como pudemos claramente entender com os exemplos da Covid e da guerra na Ucrânia.

Para concluir, esta proposta aparece como oportunista: de que forma o metaverso poderia servir um projeto europeu conectando-o ao motor da inovação, a IA e os dados, o petróleo do conhecimento, sem esquecer a finalidade social e ambiental, e sobretudo o poder de compra e o emprego. Emmanuel Macron propõe, por conseguinte, um Metaverso europeu não o associando, contudo, a uma visão do mundo do trabalho de amanhã, com as suas novas profissões e no contexto de um projeto que envolve a sociedade no seu todo de forma inclusiva a fim de não separar, novamente, os franceses deste projeto (para agradar ao Bpi France e à French Tech de Las Vegas).

Aparentemente a proposta de Macron está aquém das expectativas do mundo de amanhã porque não se insere num ciclo económico e tecnológico de oferta com uma crise do poder de compra e prováveis reivindicações sociais.

Para além disso, este projeto não previne os riscos de um fracasso que possa conduzir a sociedade a um impasse e eles são muitos, porque o metaverso não é apenas uma representação da realidade aumentada, está também desfasado da realidade: o desaparecimento, devido ao virtual, do mercado de trabalho real, no mundo dos avatares e em casa. E o que dizer dos riscos em termos de coesão social de tal projeto: uma desconexão total da realidade, um homem constantemente conectado mas desconectado do mundo real, numa sociedade onde a ultramoralização fantasmagórica da sociedade por detrás dos seus ecrãs e o transumanismo podem ter lugar, onde os alertas individuais chegam a casa porque o capitalismo se instala nas famílias. A gestão dos avatares e a sociedade do teletrabalho (e sobretudo do telelazer), bem como as inteligências artificiais que pensam em lugar do homem, vão moldar um mundo irrealista de alertas permanentes e de desumanização da sociedade civil. Seria, pois, necessário, em primeiro lugar, dar respostas precisas a estas perguntas para saber se o desafio vale a pena.