Não se fala de outra coisa: inflação. Tudo a subir e os rendimentos, lamentavelmente, não são proporcionais. A Guerra na Ucrânia representa um enorme flagelo e uma incerteza enorme para quem lá vive. Sincronicamente, as repercussões para a Europa (sem querer de jeito algum comparar) tiveram também os seus nefastos efeitos. É verdade que a pandemia também ajudou, mas tudo encareceu nos últimos meses.

Uma subida de 9,1% para um país como Portugal é, no mínimo (e num tom um tanto ou quanto jocoso) um desafio. Sem embargo, vejamos a Área do Euro. A taxa de inflação na Alemanha está nos 8,5%, em França 6,8%, Itália 8,4% (dos poucos países onde a taxa sofreu um decréscimo) e em Espanha, note-se, 10,8%.. Estes dados para lá de alarmantes surgem no nosso dia-a-dia que nem borbulhas: desconfortáveis e totalmente desnecessários. Falo por experiência própria: quando comecei a viver sozinha (há seis anos atrás), ia a um supermercado e, com o mesmo montante que gasto hoje, numa mesma superfície comercial, trazia o dobro do que compro hoje.

Há umas semanas, o Jornal Público publicou uma notícia onde comparava cabazes de produtos essenciais desde o início do ano até ao final do mês de Julho. Verificamos uma notória subida no valor do cabaz e, quando analisado ao pormenor, o acréscimo mais flagrante está na farinha, óleo alimentar (assaz utilizado na nossa gastronomia) e no frango.

O mais inconveniente é que a alimentação não é a única nesta conjuntura; tudo o resto não fica atrás e tem-na acompanhado nesta linha ascendente. Refiro-me à restauração, produtos energéticos, atrações culturais, entre outras. O que me leva a pensar que Portugal está a moldar-se a quem o visita, e não a quem nele vive. Menus de restaurantes apenas em inglês, empregados de mesa que não falam o nosso idioma e os preços ao nível dos turistas que massivamente nos visitam em Agosto. Pergunto-me: é razoável pagar 50€ para entrar numa discoteca no Algarve? Os preços dos combustíveis quando dão tréguas? Naturalmente, quem nos escolhe como destino de férias está disposto a pagar esse montante, dada a trivialidade desses valores fora do nosso país. E os portugueses, como se colocam neste quadro?

Esta é a pergunta cuja resposta nem eu própria estava à espera. Continuamos a frequentar restaurantes, discotecas e a adaptar as nossas vidas ajustando-nos a estas quantias. O que me traz a outra questão: está tudo efetivamente mais caro ou as nossas prioridades é que mudaram? Se nos queixamos? Claro que sim, não seríamos portugueses se não o fizéssemos, mas também consentimos e pagamos o que for preciso por 4 horas de diversão. Cedemos porque não queremos perder um plano prazeroso com os nossos amigos ou porque temos a necessidade de mostrar que, ainda assim, mantemos os mesmos hábitos?

Trata-se de um cenário que se traduz num drama social não só para as classes mais frágeis, como para as trabalhadoras e até para a classe média, que assente e se resigna a este panorama.

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