Num período em que Portugal e os outros países da UE atravessam uma fase de grandes dificuldades económicas, que afetam de forma severa inclusivamente a alimentação de parte importante da população, surge em Bruxelas a possibilidade de vir a aumentar brutalmente o preço da carne de frango, a proteína animal atualmente mais consumida pelos portugueses.

A aplicação das propostas presentemente em apreciação pública iria permitir principalmente que os frangos de carne se movimentassem nos aviários com maior à-vontade, mas, em contrapartida, em termos de sustentabilidade económica, social e ambiental essas propostas iriam ter efeitos altamente nefastos.

Recentemente foi posto em apreciação pública, para posterior aprovação pela Comissão Europeia, um parecer emitido pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), que, em nome das condições de bem-estar das aves, visa entre outras, duas medidas cuja implementação afetaria enormemente o custo de produção dos frangos de carne: reduzir a densidade de alojamento de 33kg/m2 para 11kg/m2 e limitar a taxa de crescimento a um máximo de 50g/dia (quando atualmente, a partir de certa idade, ultrapassa as 90g/dia).

A aprovação destas medidas implicaria, por um lado, que a área dos aviários teria de aumentar mais de três vezes, e, por outro, que o índice de conversão alimentar sofreria um incremento acentuado, exigindo uma maior área cultivada para produzir os alimentos vegetais necessários ao aumento de um quilo de peso vivo – tudo contribuindo assim para que o preço do frango de carne mais do que duplicasse.

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Estamos perante a possibilidade de um desastre de enorme impacto nomeadamente para os portugueses, que encontram na carne de frango uma proteína de elevado valor nutritivo, de baixo custo e que muito apreciam, o que assume uma enorme relevância quando entre nós a taxa de pobreza ronda os 20%, não obstante as políticas públicas sociais direcionadas aos mais vulneráveis. Recentemente, o Governo português criou, inclusivamente, para toda a população, o cabaz alimentar sem IVA, incluindo 44 alimentos essenciais (onde consta obviamente o frango de carne).

Seria necessário aumentar substancialmente o custo da alimentação das aves, o que implicaria um incremento muito substancial da área cultivada com cereais e oleaginosas (quando no mundo há 800 milhões de seres humanos subnutridos e em pobreza extrema) e, adicionalmente, seria necessário mais do que triplicar a área ocupada com aviários, o que exigiria um elevado dispêndio em construções e equipamentos, e, ademais, implicaria uma ampla impermeabilização de solos. Adicionalmente, uma menor densidade de alojamento corresponderia um menor calor de comunidade, o que implicaria um maior aquecimento do ambiente, recorrendo a um consumo bastante mais elevado de combustíveis fósseis, com os consequentes efeitos negativos em termos de emissão de gases de efeito de estufa e de dispêndio de divisas.

Seria um investimento que muito provavelmente a Europa não poderá realizar por não corresponder ao sentido prevalecente da opinião pública nem se adequar às políticas ambientais. Assim sendo, que alternativas se perspetivam?

Aumentar as importações de carne de frango, produzida em condições nem sempre em consonância com as regras impostas na UE, o que não deixa de constituir mais um passo no sentido do declínio europeu, à semelhança do que já se tem verificado noutras áreas de atividade, nomeadamente defesa militar, energia, indústria e digital; acresce no caso específico de Portugal o défice crónico da balança comercial agrícola e agroalimentar, da ordem dos 3,8 mil milhões de euros.

Em Portugal, o consumo de carne de aves deixou de ser um luxo, reservado para doentes ou dias de festa, para atualmente ser a carne mais consumida no país, atendendo ao preço, ao sabor e ao valor nutritivo, com a particularidade de, como os atuais frangos têm uma elevada velocidade de crescimento, na sua maioria serem consumidos jovens quando apresentam uma carne com uma textura muito apreciada quando grelhada – a forma de consumo mais apreciada pelos portugueses.

A partir da década de 1950 a avicultura experimentou um crescimento notável em Portugal, tanto no setor dos ovos como no da carne. Um frango abatido aos 28 dias de idade atingia o peso vivo de 316g e um índice de conversão alimentar de 4,4, isto é, precisava de consumir 4,4kg de alimento por kg de aumento de peso vivo; em 2022, à mesma idade um frango apresentava um peso vivo de 1600g e um índice de conversão alimentar de 1,3.

Os progressos obtidos tiveram reflexos muito positivos no preço da carne de frango e no ambiente, na medida em que melhoraram substancialmente a eficiência alimentar, baixando assim o custo de produção e, adicionalmente, passaram a necessitar de uma menor área para cultivar os cereais e as oleaginosas componentes da ração consumida pelos frangos.