Durante o fim do Império Romano, na fase de maior decadência, os líderes distribuíam cargos e riquezas entre si, garantindo lealdade e poder enquanto o império se desmoronava sob o peso da sua própria corrupção e ineficiência.

Num claro paralelismo, a nomeação dos administradores para a empresa metropolitana que irá gerir a rede Unir parece ser mais uma oportunidade para o “deleite público do cartão do partido” do que um verdadeiro esforço para resolver os problemas que assolam a rede de transportes.

A implementação da rede Unir desde dezembro de 2023 trouxe à tona vários problemas de incompetência e ineficiência no processo operacional, desde o arranque em falso da operação, os autocarros “suecos”, falhas de informação à população, e muitos outros casos. A nomeação de uma equipa responsável por gerir a operação (da Unir e do Andante) pode ser efetivamente uma forma de resolver estes problemas para o futuro. Dando-lhe capacidade, estrutura e principalmente tempo. No entanto, se a administração for dominada por interesses políticos em vez de competência técnica, a solução pode ser apenas superficial.

Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da AMP e autarca de Vila Nova de Gaia, mencionou que a nomeação dos administradores será uma “negociação de nomes” entre os partidos e os presidentes de câmaras. Esta afirmação revela um processo intrinsecamente político, onde a competência técnica pode ser relegada para uma segunda derivada a favor de alianças partidárias. Cá estaremos para avaliar se a sua preocupação com quadros que “façam upgrade” não é mais que uma tática de “trompe-l’oeil”.

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A comparação com o festim dos romanos é inevitável de se fazer: irão as nomeações visar necessariamente a melhoria do serviço público, ou apenas a manutenção de poder e influência entre as elites políticas? É que bem sabemos como a história romana nos ensinou que um sistema corrupto e ineficaz tende a colapsar sob o seu próprio peso.

A tensão entre a necessidade de competência técnica e a realidade das nomeações políticas é palpável e, para evitar que esta nova empresa se torne mais um exemplo de despesismo e ineficiência, é crucial que os administradores nomeados possuam o conhecimento e a experiência necessários para enfrentar os desafios complexos da rede de transportes. A administração de uma empresa pública deve ser pautada pela eficiência, transparência e responsabilidade, orientada por princípios de mercado e meritocracia, minimizando a interferência política e focando na entrega de resultados para a população.

A AMP e os seus líderes têm a responsabilidade de garantir que a nova empresa metropolitana será administrada de maneira transparente e eficaz, onde as nomeações são baseadas em mérito e competência técnica, não em alianças políticas. Somente assim será possível transformar a rede Unir num sistema de transporte eficiente e confiável, que realmente sirva aos interesses da população da Área Metropolitana do Porto.

A nossa história está repleta de lições sobre os perigos dos interesses políticos e do nepotismo; cabe aos líderes de hoje e cabe-nos a nós aprender com esses exemplos e evitar repetir os mesmos erros.

É necessário abrir o caminho para que a administração pública sirva verdadeiramente ao bem comum, com eficiência e responsabilidade.