Chegou o novo governo. Para uns uma boa surpresa e para outros cheio de sinais negativos.

Nestes momentos existe sempre a expectativa, especialmente por parte daqueles que consideram que os governos devem ser constituídos por iluminados e seres superiores, de que um dia existirá um governo com esse cariz, de que isso é possível e de que isso se traduz em bons resultados. Rejeito esta teoria e acredito que para o governo devem ir bons políticos e capazes e conhecedores das áreas que irão tutelar. Ponto!

O PSD, ao longo dos últimos anos, tentou passar a ideia de que os governos do PS tinham sido tomados pela doideira das nomeações, das indemnizações, dos amigos e das famílias. Como se já não tivesse governado ou viesse a governar. Esteve mal e não pensou no precedente que estava a abrir ao utilizar esta linha argumentativa. É verdade que esses casos existiram, em demasia, mas, também é verdade que ao analisá-los ou criticá-los, não devemos optar pela generalização e pela demagogia (caminho cada vez mais seguido no nosso espaço público).  Sabemos todos e bem, que este tipo de situação é transversal a todos os setores da sociedade e associá-lo apenas à política ou, mais ainda, ao utilizá-la para justificar os maus resultados dos últimos governos do PS, não é sério.

Os ministros e os secretários de Estado eram da máquina do PS ou os gabinetes estavam recheados de militantes do PS e por aí fora. E agora? O governo é a máquina do PSD e os gabinetes serão preenchidos por quem? Conseguem adivinhar? As nomeações para os vários organismos do Estado contarão com quem?

Não tem lógica ter-se utilizado este assunto como arma de ataque político nos últimos anos, quando se sabe que esta prática é comum a ambos os partidos do arco da governação. Não quero com isto dizer que é correta ou que não deva ser limada ou mesmo corrigida em alguns casos (já escrevi sobre isso), mas ela existe e a forma de como a direita e o PSD a utilizaram para fazer oposição e debate político nos últimos anos terá consequências para o novo governo. Estamos na era da demagogia e do populismo, pelo que conhecemos bem o impacto desta temática na vida política.

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Este governo precisava de alguns ingredientes básicos: experiência política; gente conhecedora das áreas que vai tutelar e pessoas com uma grande capacidade de diálogo e negociação.

Se ao nível ministerial, em alguns casos, esses ingredientes parecem existir, na equipa de secretários de Estado o facilitismo reinou, com elementos com pouca experiência nas áreas que tutelam e outros sem uma postura sólida e adequada às exigências que irão enfrentar, particularmente aquelas que surgirão no âmbito das negociações parlamentares.

O número de ministérios e secretarias de Estado é praticamente igual ao do governo anterior, muito, acredito eu, pela urgência em começar a trabalhar e não perder tempo com toda a logística e burocracia que envolve sempre este tipo de alterações. E se o governo foi cauteloso nesta matéria, não o foi em algumas junções, nomeadamente nas áreas da educação e da habitação.

Como em qualquer governo, também existem os casos de estudo, como é o do Ministério da Juventude e Modernização. Recorde-se que nos últimos governos, incluindo os do PSD, existia uma Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, sob tutela, ou dos Assuntos Parlamentares ou da Presidência. Uma secretaria de Estado conjunta, muito pela existência do IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude, que é o organismo responsável pela implementação das políticas públicas destas duas áreas. Assim, com este governo a Juventude ganhou um ministério (perdendo a tradicional secretaria de Estado conjunta com o Desporto) e o Desporto uma secretaria de Estado na tutela dos Assuntos Parlamentares, continuando, apesar disso e por enquanto, ambas na esfera do IPDJ. Teremos mais um instituto público, como outros, tutelado por dois ministérios diferentes, não percebendo bem de que forma isso contribuiu para a boa gestão no Estado. Relativamente a estas duas áreas continua-se a complicar. Uma secretaria de Estado da Juventude e outra do Desporto, ambas na esfera do Ministério da Presidência e seguíamos viagem, sempre com a possibilidade de, no âmbito do IPDJ, equacionar voltar a separá-las. Juventude e Modernização (qual e do quê?) é um sinal de que pouco ou nada de transformador se fará nestas áreas.

Parece-me ainda curioso que esta forma de fazer política e oposição ao PS nos últimos anos, apelando constantemente à transparência e à verdade, não se identifica em nada com a atitude do novo primeiro ministro e governo, pouco comunicativo, silêncios prolongados e, estranhamente, pelo menos por enquanto, sem aquele separador no site do governo, criado pelo governo de Pedro Passos Coelho e mantido por António Costa, que nos dá a conhecer a composição e respetivas nomeações dos diferentes gabinetes do governo.

É um equívoco pensar que se podem formar governos com indivíduos perfeitos e imaculados. A verdade é que ninguém detém a perfeição. A chave para o sucesso deste e qualquer governo reside na humildade, no esforço e na precisão. Com estes valores como alicerce, e com uma postura de respeito e seriedade perante o parlamento, os resultados serão sempre melhores.

O novo governo tem demonstrado uma enorme necessidade em se estabelecer como um modelo de zelo, integridade e eficácia, mas para isso é essencial evitar a prática recorrente de culpar os governos anteriores sempre que surgem os desafios, algo que já aconteceu nos primeiros dias com o caso dos exames nacionais. Embora possa ser tentador desviar a responsabilidade para evitar críticas imediatas, uma abordagem tão superficial não corresponde ao que se propôs.