Clayton Cubitt é aquilo a que muitos poderiam chamar um “artista completo”. Fotógrafo, realizador, escritor, Cubitt é um artista transversal que, através de múltiplos formatos, procura transmitir a sua abordagem, muitas vezes controversa, do mundo.
Clayton James Cubitt nasceu em Nova Orleães, filho de um canadiano e de uma hippie. Terá sido concebido na parte de trás de uma Volkswagen durante uma roadtrip, algures no início dos anos 70, e a sua infância foi passada na costa sul dos Estados Unidos. Após a escola secundária, mudou-se para norte, onde ainda vive. Atualmente está sediado em Nova Iorque.
Profissionalmente, o seu trabalho tem estado principalmente ligado ao mundo da moda e alguns dos seus clientes incluem algumas das maiores revistas de moda a nível global. O seu trabalho mais pessoal é, porém, “feito de enormes contrastes”, abrangendo áreas tão distintas como o erótico e o documentário.
“O meu trabalho é feito de enormes contrastes, entre as artes plásticas e a arte comercial e entre temas tão variados como a moda, o retrato e o documentário. Aquilo que une todas estas coisas é um desprezo pelos conceitos de permitido e não permitido, alto ou baixo, sagrado ou profano, profissional ou pessoal.”
O seu trabalho é marcado por uma estética polida e limpa, por vezes quase plástica, mas que consegue ser, ao mesmo tempo, “austera e negra”. A sua abordagem de temas controversos como o orgasmo feminino valeu-lhe algum mediatismo.
Enquanto fotógrafo, tornou-se conhecido em 2005, data em que realizou o fotodocumentário “Operation Eden”, no qual retratou os sobreviventes do furacão Katrina. A série fotográfica é uma reação às imagens disseminadas pelos média norte-americanos. Em “Operation Eden”, Cubitt mostrou de forma incrivelmente intimista a realidade daqueles que viram as suas vidas destruídas pelo furacão. Mais recentemente, ficou conhecido pela polémica série de vídeos “Hysterical Literature” na qual, diferentes mulheres, leem excertos do seu livro favorito até atingirem um orgasmo.
“Hysterical Literature” teve origem numa outra série de vídeos anteriores, “Long Portraits”, que acabariam até por inspirar um anúncio da Superbowl. Segundo Cubitt, os vídeos tinham como objetivo explorar a experiência de tirar um retrato, assim como a fadiga e a distração que fazem parte do processo. Durante 5 minutos, os modelos tinham de manter o contacto visual com a câmara e estender a “pose” durante vários minutos. Mas o fotógrafo depressa chegou à conclusão de que estes “retratos” eram “demasiado anónimos”, ou seja, que pouco ou nada diziam sobre quem era filmado. Na procura por um retrato mais verdadeiro, Cubitt criou então um primeiro vídeo, durante o qual tentou entrevistar uma mulher enquanto ela era distraída por um vibrador. Mas, descontente com o resultado, concluiu que a gravação se assemelhava demasiado a um interrogatório, e que a sua presença se fazia sentir em demasia. E assim, limando arestas, chegou ao conceito de “Hysterical Literature”.
O nome é uma referência ao conceito de histeria feminina (“female hysteria”), desenvolvido principalmente durante a Época Vitoriana e utilizado para definir qualquer tipo de comportamento feminino considerado fora da norma. O uso de um vibrador para causar o orgasmo nos vídeos, remete também para os primeiros tratamentos desenvolvidos que, para além de um primeiro tipo de vibrador elétrico, incluíam isolação ou hidroterapia. O seu objetivo era também fazer referência à confusão e à vergonha que eram associadas ao comportamento feminino e à sexualidade da mulher.
Mas, mais do que falar sobre sexo, o fotógrafo procurou fazer um retrato intimista de cada mulher. Os vídeos são uma conversa de cada mulher com ela própria. Existe um espaço para a auto-expressão que é marcado, ao mesmo tempo, pela batalha do corpo contra a mente. E, claro, a presença de dois dos temas favoritos de Cubitt: uma mistura entre arte e sexo.
“Pus a arte sobre a mesa e o sexo debaixo da mesa, e foi assim que Hysterical Literature nasceu.”
Com a escolha do preto e branco procurou tornar os vídeos o menos sexuais possível, resumindo-os a uma simplicidade estética que apenas remotamente poderia ser associada com pornografia. Ainda na área da realização, Cubitt tem também realizado alguns videoclipes, nomeadamente do duo sul-africano Die Antwoord, com quem colabora ativamente.