José Sócrates aproveitou o comentário, que esta semana fez excecionalmente ao sábado no telejornal da RTP, para enviar uma “mensagem de amizade pública” aos “camaradas” Armando Vara e José Penedos, ambos condenados no âmbito do processo Face Oculta.

Sobre a condenação de Vara e Penedos, José Sócrates não teceu comentários, adiantando que se tratava de um assunto que entrava na “dimensão pessoal” da sua vida e que não tinha espaço para um comentário de ordem política. Contudo, não deixou que a questão das escutas das conversas telefónicas entre si e Armando Vara passasse em branco, referindo-se aos “pistoleiros do costume” – “todos esses que escrevem nos jornais instruídos por lá sei quem” – e que envolveram o seu nome no processo.

“É abusivo, desclassificado e criminoso a tentativa de me envolverem neste processo”, referiu José Sócrates.

O ex-primeiro-ministro lembrou que os juízes referiram no acórdão que tinham lido as escutas e confirmado que em nada se relacionavam com o processo em questão. Sobre o facto de as escutas ainda existirem, apesar de o Tribunal ter mandado destruí-las há quatro anos, Sócrates afirmou que isso dizia “muito da justiça portuguesa”.

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“Estas escutas foram obtidas de forma ilegal e não foram destruídas”, disse, referindo que é importante ter uma justiça que “não seja alvo de campanha”, lembrando que as escutas tinham sido realizadas e transcritas de forma ilegal ao longo de meses, sem que fosse pedida autorização ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça.

Sinal claro de mudança para o PS

Sobre os resultados das eleições nas federações do Partido Socialista (PS), que deram a vitória a António Costa num primeiro round, José Sócrates afirmou tratar-se de um “sinal claro” de que o PS deseja uma mudança na sua liderança.

O ex-primeiro-ministro adiantou que as eleições primárias do PS são “o grande acontecimento político da rentrée política” e que vão determinar o fim do ciclo político do Governo de Pedro Passos Coelho

“A direita política percebeu muito bem que António Costa era o seu adversário”, referiu, dando conta de dois factos, que considera “objetivos”: a sondagem que apontou Costa como o preferido do PS (pelos portugueses) para o cargo de Primeiro-Ministro e os resultados das federações, dando destaque ao resultado de Lisboa em que Marcos Perestrello, apoiante de António Costa ganhou com mais de 80% dos votos. “Aquilo foi um arraso”, disse.

 

Sobre o facto de a dívida pública ter atingido 134% do PIB, no primeiro semestre, José Sócrates referiu que o Governo de Passos Coelho é “o campeão do crescimento da dívida pública” e que o programa de austeridade tem conduzido a Europa à estagnação económica e à ameaça da deflação.

“A questão política hoje trava-se em função de Banco Central Europeu versus Alemanha e a Europa tem de fazer uma escolha. É preciso convencer a Alemanha e, se não for possível, vencê-la”, referiu, adiantando que Portugal continua a ser um “fiel seguidor” das teorias “dogmáticas” da Alemanha.