Diminuir o conflito entre a presença do lobo e as atividades humanas, em regiões rurais onde os hábitos culturais de coexistência se perderam, é o objetivo do projeto “Life MedWolf – Boas Práticas para a Conservação do Lobo em regiões Mediterrânicas”, que já iniciou ações piloto para melhorar a convivência entre homem e o lobo.

Castelo Branco, que este sábado acolheu a primeira reunião dos parceiros, está entre as três regiões abrangidas pelo projeto, juntamente com a Guarda e uma província italiana, Grosseto.

Segundo o presidente do Grupo Lobo e coordenador nacional do projeto Life MedWolf, Francisco Petrucci-Fonseca, já estão a ser criadas ações piloto para demonstrar às pessoas que é possível tomar medidas que diminuam o prejuízo causado pelo lobo. Essas ações passam pela distribuição gratuita de cercas para proteção de gado bovino e pela disponibilização de cães de gado, para ajudar a proteger os rebanhos.

“É óbvio que o projeto não chega a toda a gente porque é uma base de demonstração. Ninguém está à espera de eliminar todos os prejuízos que o lobo possa causar, mas queremos é que esses prejuízos diminuam e, portanto, diminua o conflito com o lobo”, sublinhou à agência Lusa o presidente do Grupo Lobo, uma associação sem fins lucrativos que trabalha para a conservação do lobo e do ecossistema onde vive em Portugal.

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Os projetos-piloto, a decorrer na zona compreendida entre o rio Douro e o rio Tejo, foram selecionados pela Escola Superior Agrária de Castelo Branco com base em critérios predefinidos e incluem oito criadores de gado da região. “São esses [criadores de gado] que estão neste momento a ser ajudados no terreno e que vão demonstrar aos restantes que é possível diminuir os prejuízos”, realça Francisco Petrucci-Fonseca.

“Temos muitos anos de experiência e de ligação a este problema da convivência entre o homem e o lobo, geradora de muitos conflitos, não só através dos criadores de gado, mas também por causa de algumas associações radicais”, disse o coordenador do projeto, acrescentando que o Estado tem vindo a melhorar o seu papel na proteção do lobo-ibérico. Mas apesar da legislação em vigor existem neste momento “casos graves de lobos mortos ilegalmente”. “Não o conseguimos quantificar mas é uma situação muito grave. A lei não está a ser aplicada porque não temos meios. Sabemos as dificuldades que os serviços oficiais têm”, acrescenta.

Apesar disso, a população de lobos-ibéricos (Canis lupus signatus) está a aumentar em Portugal, tal como acontece com as populações de lobo-cinzento (Canis lupus) na Europa, disse o presidente do Grupo Lobo. “Na zona entre o sul do Douro e o norte do Tejo, o lobo está a aumentar a sua presença. Isto não é só um fenómeno que existe em Portugal, mas estende-se a toda a área de distribuição do lobo na Europa.” O investigador adiantou ainda que quer começar a fazer um censo de lobo em Portugal, cuja população atual se estima em 300 indivíduos.