O presidente do Novo Banco, Eduardo Stock da Cunha, desvalorizou nesta sexta-feira o impacto na entidade do processo judicial envolvendo dois diretores do Novo Banco, que transitaram do BES, e foram constituídos arguidos após buscas conduzidas na quinta-feira. “Duas pessoas em seis mil [colaboradores] são 0,03%. Acha que me vou preocupar?”, questionou Stock da Cunha, que falava aos jornalistas à margem de uma conferência em Lisboa, promovida pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP), sobre o financiamento de pequenas e médias empresas (PME).
O gestor diz que a sua missão é trabalhar “para as mais de seis mil” pessoas do banco, para os depósitos dos clientes e para os créditos às PME. “Estou preocupado com as milhares de empresas portuguesas a quem damos crédito, com os milhões de portugueses que nos confiam os seus depósitos e com os mais de seis mil colaboradores do banco”, sublinhou. “Todas as instituições têm problemas algumas vezes com os seus colaboradores”, reconheceu contudo Stock da Cunha.
Dois diretores do Novo Banco, que transitaram do BES, foram constituídos arguidos após as buscas de quinta-feira das autoridades no âmbito das investigações relacionadas com um processo-crime do universo Espírito Santo, confirmou à Lusa fonte próxima do processo. “São dois diretores, de um universo de 500 diretores que trabalham no Novo Banco”, revelou hoje a referida fonte.
A notícia foi avançada pelo jornal Público e também pela estação televisiva TVI, tendo a mesma fonte afirmado à Lusa que os dois responsáveis que foram constituídos arguidos estavam ligados à comercialização de dívida das ‘holdings’ do Grupo Espírito Santo (GES) aos balcões do Banco Espírito Santo (BES). A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou entretanto que dois elementos que transitaram para o Novo Banco foram constituídos arguidos, após as buscas de quinta-feira no âmbito de investigações do processo-crime do universo Espírito Santo.
Stock da Cunha falou com os jornalistas no final da conferência da CIP, que contou com a presença de várias figuras de peso do meio político, empresarial e académico, bem como do setor financeiro. Casos do ministro da Economia, António Pires de Lima, do presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Carlos Tavares, do presidente da Euronext Lisboa, Luís Laginha de Sousa, e dos líderes da Caixa Geral de Depósitos (CGD), do Banco Comercial Português (BCP) e do Novo Banco, José de Matos, Nuno Amado e Eduardo Stock da Cunha, respetivamente.
Durante a tarde, foram discutidos os temas relacionados com o financiamento das PME portuguesas, com a generalidade dos oradores a reconhecer a forte dependência das mesmas face ao financiamento bancário e a necessidade de haver uma abertura do leque ao nível das fontes de crédito das PME. O recurso das PME ao mercado de capitais ou às linhas de capital de risco existentes foram duas das soluções apontadas para resolver este problema.
Da parte da banca, os responsáveis presentes, entre os quais também estava Maria Celeste Hagatong, administradora do Banco BPI, salientaram que existem soluções disponíveis além do crédito típico, mas que falta atualmente procura por parte das empresas. A necessidade de as PME se recapitalizarem, em vez de se endividarem, foi também tratada ao longo do debate, com Carlos Tavares a insistir no tema.
A forte concorrência existente neste momento entre os bancos para captarem bons clientes do segmento empresarial pode ter um efeito perverso, segundo defenderam alguns especialistas, com o presidente do BCP a considerar que se está a correr o risco de “entrar nos excessos do passado”. Segundo Nuno Amado, há um conjunto de empresas que têm um nível de ‘spread’ que, levando em conta os riscos associados à concessão de crédito, pode indicar que os bancos estão a fazer margens “que já entram num nível de concorrência excessiva”.