Paulo Lino Rodrigues, piloto da TAP, consultor do sindicato mas não sindicalizado, é o homem que Governo e a equipa à frente da TAP responsabilizam pelo fracasso das negociações e pela greve de quatro dias na companhia aérea nacional. Os relatos dos últimos dias de negociações indicam que foi o homem que ficou responsável por representar a plataforma dos 12 sindicatos nas negociações com o Governo que deu o “não” final, na quarta-feira à noite, a uma proposta de entendimento. Pelo meio, ficaram momentos tensos nas reuniões com Pires de Lima, ministro da Economia, um dos quais levantados quando Lino Rodrigues disse que a TAP tinha “custos altos” e que voava para locais “periféricos”.

A história de Lino Rodrigues no sindicato dos pilotos é conturbada. Em outubro de 2014, o Jornal de Negócios escrevia já que estava no centro de uma colisão dentro do sindicato dos pilotos, que estava à beira de eleições: a lista B, liderada por Manuel Santos Cardoso e que acabou por vencer, anunciou um “acordo de entendimento” para contratar a P. Rodrigues Consultores, empresa liderada por Lino Rodrigues. A lista A contestou esse acordo – mas não se ficou por palavras: fez um comunicado dizendo que o sindicato, em 2008, lhe teria pago 1,2 milhões de euros para este mediar as negociações com a administração. Acrescentando que, para isso, foi “cobrada uma quota suplementar aos pilotos”.

O acordo, que os jornais da época dizem ser de valor menor, mas substancial (525 mil euros) acabaria por levar a uma denúncia de um grupo de pilotos do SPAC (Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil) e a uma investigação do Ministério Público, que foi entretanto arquivada. Mas também à expulsão de 48 pilotos do sindicato, por se recusarem a pagar a quota suplementar”.

No comunicado de outubro, aquando das eleições internas, estavam sublinhados vários “factos” – assim colocados – todos eles pondo em xeque o homem que agora liderou as negociações pelos pilotos.

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  • Dizia que naquela altura, em 2007, 400 associados abandonaram o sindicato, “a grande maioria” afirmando “que se demitiu devido ao pagamento da quota suplementar”;
  • Que Lino Rodrigues cobrou “60.000 euros pela elaboração do acordo da PGA de 2009, que não é mais do que um copy/paste parcial do antigo acordo entre a SATA e a TAP, só que com proteções e regalias inferiores”
  • Que se propôs a renegociar um acordo com a TAP, que implicava o pagamento de uma anuidade aos pilotos, que tinha sido ele próprio a negociar antes.

Na altura, a lista de Manuel Santos Cardoso defendia que a contratação seria “um mero, mas muito eficaz, instrumento ao serviço dos pilotos, subordinado às instruções das assembleias-gerais e aos comandos da direção”.

Esta semana, já depois de quebradas as negociações entre a Plataforma sindical e o Governo, começou a circular na empresa uma carta perguntando, à cabeça, “quem é o estratega da plataforma sindical?”. O texto, que reproduz depois o comunicado de outubro da lista derrotada ao sindicato, respondia assim à sua própria pergunta: “Um jornal identificou como estratega da Plataforma Sindical o piloto Paulo Lino Rodrigues. O Comandante Lino, como é conhecido, não é dirigente do SPAC, nem sócio sequer” – deixou de o ser em 2012, segundo dizia a lista derrotada. “Subordina a sua actividade a um único objetivo: ganhar (muito) dinheiro à custa do colegas”.

O contrato de consultoria atual não é conhecido, nem o seu valor.

Na TAP e também no Executivo, falou-se nos últimos dias de uma divisão na plataforma, motivada pelo braço de ferro entre os pilotos e o Governo, acentuado pela palavra decisiva dos primeiros no não às negociações.