Há uma nova peça a ser investigada no puzzle que compõe a Operação Marquês: a empresa Odebrecht, ligada ao antigo Presidente da República do Brasil, Lula da Silva, detentora da Bento Pedroso Construções, uma construtora que venceu em consórcio com outras empresas vários concursos públicos durante os anos em que Sócrates foi primeiro-ministro.
As ligações entre a construtora e o antigo primeiro-ministro estão no radar da equipa de investigadores liderada pelo procurador Rosário Teixeira, depois de ter conseguido a adjudicação de várias obras, segundo apurou o jornal i, junto de fontes próximas da investigação.
O mesmo jornal dá vários exemplos de obras ganhas pela Bento Pedroso Construções – comprada há 26 anos pela Odebrecht – em consórcio com empresas como a Brisa, o grupo Soares da Costa e empresas do universo Lena, de Carlos Santos Silva, amigo de infância de José Sócrates e alegado testa de ferro do antigo primeiro-ministro. Todas reunidas, por exemplo, no Consórcio Elos, que venceu o concurso para a construção da linha do TGV entre Poceirão e Caia, obra que viria a cair por ordem do Executivo liderado por Pedro Passos Coelho.
As três (Brisa, Grupo Lena e Bento Pedroso Construções) voltaram a ganhar a concessão do Baixo Tejo, que prevê a construção, conservação e exploração de várias infraestruturas durante um período de 30 anos – uma das oito Parcerias Público-Privadas rodoviárias lançadas por José Sócrates, como lembra o i.
Novo negócio, novas parcerias: além da obra do TGV e do Baixo Tejo, a construtora detida pela Odebrecht ganhou, também, a concessão da via rodoviária da Grande Lisboa, num consórcio liderado pela Mota-Engil, composto, ainda, pela OPCA e pelo BES. O acordo previa um investimento de 292 milhões de euros, tendo como contrapartida as receitas obtidas durante 30 anos.
A construção da barragem do Baixo Sabor é mais um dos exemplos onde a construtora portuguesa surge em pareceria com uma empresa de Carlos Santos Silva, a Lena Engenharia Construções: em 2008, José Sócrates e Manuel Pinho, então ministro da Economia, assinaram em Bragança o acordo para a construção da barragem, no âmbito do Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico, aprovado pelo Executivo de José Sócrates um ano antes.
As ligações de Lula da Silva à Odebrecht e a José Sócrates
O antigo Presidente do Brasil surge várias vezes referenciado como tendo ligações à empresa brasileira. Lula viajou em algumas ocasiões a convite da Odebrecht – por exemplo, a 22 de outubro de 2013, Lula da Silva participou na cerimónia comemorativa dos 25 anos do grupo brasileiro na qualidade de orador convidado do evento.
Ainda segundo o i, Lula da Silva esteve em Luanda, Angola, desta vez convidado pela Fundação Eduardo dos Santos (FESA). Na altura, Lula teceu vários elogios à Companhia de Bioenergia de Angoa (Biocom), um grupo composto pelas angolanas Sonangol e Damer e a brasileira Odebrecht.
De resto, a admiração mútua e a amizade entre José Sócrates e Lula da Silva são conhecidas – o antigo Presidente brasileiro é o autor do prefácio da obra de Sócrates, “A Confiança no Mundo”, tendo participado na apresentação do livro do antigo primeiro-ministro. Na altura, Lula da Silva desafiou mesmo José Sócrates a “voltar a politicar”, acrescentado, ainda, que era muito cedo para Sócrates “deixar a política”.
Segundo o i, o antigo Presidente do Brasil terá sido a ponte entre os contactos da América Latina e José Sócrates, enquanto representante da Octapharma. Mais: Lula terá mesmo facilitado os contactos entre Sócrates/Octapharma e o Ministério da Saúde brasileiro e o Instituo Butantan, um centro de pesquisa biomédica em São Paulo.