A missão de escolher uma canção decente nos últimos Festivais da Canção tem sido tortuosa, mas houve alturas em que cada edição lançava vários temas para as rádios e para os tops de discos. No tempo do vinil, era até comum que todas as canções concorrentes fossem editadas em single. Com mais uma final do Festival RTP da Canção à porta, confira connosco alguns sucessos que não chegaram à Eurovisão, mas ficaram na nossa memória.
1971. “Cavalo à Solta”, Fernando Tordo (3.º lugar)
http://www.youtube.com/watch?v=JYWOkZ13ZFg
“Minha laranja amarga e doce”, assim começa a letra de José Carlos Ary dos Santos para a terceira participação consecutiva de Fernando Tordo no Festival. A melodia nasceu primeiro, quando Tordo ia na Avenida de Roma, e foi de tal maneira forte a inspiração que teve de parar em casa de João Maria Tudela e pedir-lhe para usar um gravador. A canção não foi além do terceiro lugar, no ano em que Tonicha venceu com “Menina”, mas continua a ser uma das mais conhecidas do reportório de Fernando Tordo, que viria a vencer o festival em 1973, com “Tourada”, e em 1977, como membro do grupo Os Amigos, com “Portugal no Coração”.
1974. “No Dia Em Que o Rei Fez Anos”, Green Windows (2.º lugar)
http://www.youtube.com/watch?v=-k7ljSQd9nI
O grupo Green Windows começou por ser formado pelos membros do Quarteto 1111 e respetivas companheiras, mas teve várias entradas e saídas na sua curta história. O nome foi dado pelo produtor inglês Dick Rowe, inspirado no nome popular do Museu de Arte Antiga (Janelas Verdes). O seu maior êxito foi “Vinte Anos” (vem viver a vida, amor…). No ano em que Paulo de Carvalho venceu o Festival com aquela que viria a ser a senha da Revolução (“E Depois do Adeus”), os Green Windows concorreram com 2 canções: “No Dia Em que o Rei Fez Anos” e “Imagens”. A primeira continua a fazer parte do alinhamento dos concertos de José Cid. Nesse mesmo ano, esteve ainda a concurso “A Rosa Que Te Dei”, de José Cid.
1976. “Estrela da Tarde”, Carlos do Carmo (6.º lugar)
http://www.youtube.com/watch?v=9oS5Mc2pTn8
No ano em que Carlos do Carmo interpretou as oito canções em competição, a vencedora foi “Flor de Verde Pinho”, escrita por Manuel Alegre. No entanto, a “Estrela da Tarde”, com música de Fernando Tordo e uma letra fantástica de José Carlos Ary dos Santos, é decerto a mais recordada e continua a ser revisitada por outros artistas. Só nos últimos anos, foi cantada por Mafalda Arnauth, António Zambujo, Ana Bacalhau e Amor Electro.
1981. “Ali Babá”, Doce (4.º lugar)
Depois de um segundo lugar no ano anterior, com o tema “Doce”, as Doce foram desta vez vencidas pelo “Playback” de Carlos Paião. As roupas e poses ousadas do quarteto formado por Fátima Padinha, Teresa Miguel, Lena Coelho e Laura Diogo foram alvo de críticas nos jornais, mas o single de “Ali Babá” foi um dos discos mais vendidos do ano. O grupo venceria finalmente o Festival no ano seguinte, com “Bem Bom”, tentando ainda uma quarta participação em 1983, com “O Barquinho da Esperança” (letra de Miguel Esteves Cardoso e música de Pedro Ayres Magalhães).
1983. “A Cor do Teu Batom”, Herman José (2.º lugar)
http://www.youtube.com/watch?v=YGXweZiz3yo
Depois do êxito musical de “Saca o Saca-Rolhas” e “A Canção do Beijinho”, e a poucos meses de estrear “O Tal Canal”, o verdadeiro artista subiu ao palco do Coliseu do Porto a 5 de março de 1983. Com letra de António Pinho, música de Tozé Brito e orquestração de Pedro Osório, o “doce tom” da canção estava um pouco acima do tom de Herman, que mais tarde confessou ter tido dificuldade em levá-la até ao fim. Ainda assim, ficou a escassos 23 pontos da vencedora “Esta Balada Que Te Dou”, de Armando Gama, que viria a casar com a apresentadora desta edição, Valentina Torres.
1983. “Vinho do Porto, Vinho de Portugal”, Cândida Branca Flor e Carlos Paião (4.º lugar)
No mesmo ano, dois jovens cantores em ascensão juntaram-se em dueto patriótico numa cantiga que elogia o vinho do Porto. Carlos Paião não desanimou com o penúltimo lugar de “Playback” na Eurovisão em 1981 e voltou a tentar a sorte. Cândida Branca Flor alcançara um segundo lugar no ano anterior, com o igualmente famoso “Trocas e Baldrocas“, com letra e música de Carlos Paião. Vale a pena ver o vídeo desta canção, não só para recordar dois artistas que viriam a ter um fim trágico, como também para apreciar a sua cândida coreografia.
1985. “Umbadá”, Jorge Fernando (4.º lugar)
http://www.youtube.com/watch?v=gFy9hoBj4Us
Não podia faltar nesta lista! O próprio Jorge Fernando admitiu no “5 para a Meia-Noite” não saber o que quer dizer “umbadá”. A inspiração para escrever esta música surgiu-lhe quando ia a caminho da casa de fado onde era guitarrista. O certo é que o refrão simples pegou e, 30 anos depois, a música continua no nosso ouvido, como ficou comprovado pela viralidade desta crónica de Ricardo Araújo Pereira nas Manhãs da Comercial.