As malas de cartão são de outros tempos, agora são mais trolleys. Os destinos também foram mudando. Mas a vontade, ou a necessidade, de emigrar continua e até tem crescido nos últimos anos. Em 2013, havia entre dois e 2,3 milhões de portugueses além-fronteiras, destaca o “Portuguese Emigration Factbook 2014“, divulgado, esta sexta-feira, pelo Observatório da Emigração.

Os emigrantes portugueses correspondem a mais de 20% da população residente em Portugal, o que faz de Portugal “o país da União Europeia com mais emigrantes, em termos relativos”, logo depois de Malta (que tem menos de 500 mil habitantes). Esta conclusão resulta da análise dos dados referentes a 2010, mas o relatório formula-a no presente, o que leva a crer que não terá alterado desde lá para cá.

Em 2013, tal como já tinha sido noticiado no ano passado, terão emigrado pelo menos 110 mil portugueses, quase três vezes mais do que em 2001 e os principais destinos escolhidos foram: Reino Unido (30.121 portugueses), Suíça (20.039), França (18.000) e Alemanha (11.401). O continente europeu é, sem dúvida, o maior porto de abrigo destes portugueses que decidem deixar a terra-mãe. Dos 16 países mais escolhidos, 10 são europeus. Fora da Europa, os países mais escolhidos foram, em 2013, Angola (4.651) e Moçambique (3.759).

“A emigração portuguesa é, hoje, uma emigração basicamente europeia”, concluem os especialistas do observatório.

Mas embora o Reino Unido domine agora as preferências dos jovens portugueses, designadamente dos licenciados, nem sempre foi assim e por isso, olhando para o total de portugueses residentes lá fora, o Reino Unido nem aparece nos cinco países com maior número de residentes portugueses. Nessa lista a França leva a melhor.

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País de destino Número de residentes portugueses
França 592.281
Suíça 211.451
Estados Unidos 158.002
Canadá 140.310
Brasil 137.973

Fonte: Portuguese Emigration Factbook 2014

Notas: França e Canadá [2011]; Suíça e Estados Unidos [2013]; Brasil [2010]

Olhando para o dinheiro que os emigrantes enviam para Portugal, em 2013 as remessas ultrapassaram os três mil milhões de euros, como já tinha sido divulgado no ano passado. Os dados permitem perceber que é de França e da Suíça que chega o maior volume de remessas (894.932 e 738.128 milhões, respetivamente). Aliás, estes dois países estão na origem de “mais de metade das remessas recebidas em Portugal” em 2013. Segue-se Angola, com 304.328 milhões recebidos.

Entre 2012 e 2013, o valor das remessas recebidas em Portugal aumentou 10% e termos nominais.

Em 2012, Portugal foi o 29.º país do mundo que mais remessas de emigrantes recebeu. Nesse ano, a tabela mundial era dominada pela Índia, China e Filipinas.

Jovens e mais qualificados. São assim os novos emigrantes

De resto, o relatório evidencia que a população portuguesa emigrada nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) continua a envelhecer, e nem a nova vaga de emigrantes jovens está a compensar este envelhecimento.

Tal como o Observador já tinha noticiado no ano passado, na sequência da apresentação de um relatório sobre a Emigração pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, este relatório frisa também que a nova emigração é mais qualificada do que a do passado, tendo a percentagem de diplomados do ensino superior na população portuguesa emigrada nos países da OCDE crescido mais de 50% entre 2001 e 2011. Neste último ano, a percentagem de diplomados atingia os 17%.

Falar em “fuga de cérebros” talvez seja precipitado uma vez que os dados disponíveis, dos censos de 2010/11, não permitem afirmar que “essa maior qualificação seja superior à maior qualificação da população portuguesa em geral”. “Até aquela data, o crescimento da população emigrada com um diploma do ensino superior fez-se ao mesmo ritmo do crescimento da população portuguesa diplomada”. Os especialistas admitem porém que com a crise e a quebra do fluxo de emigração desqualificada, nomeadamente para Espanha, e o crescimento da emigração para novos destinos como o Reino Unido, “é possível que esteja a haver mudanças na estrutura das qualificações da emigração ainda não registadas”.