O PSD não gostou de saber os salários que vão receber os novos administradores da RTP e está a pressionar para que estes sejam rapidamente revistos em baixa. Depois de, este sábado, a Comissão de Trabalhadores da empresa ter criticado duramente a “excepção salarial” aberta para o novo presidente – que vai ganhar 10 mil euros -, o vice-presidente social-democrata diz ao Observador que concorda com esta tomada de posição:

“Tendo tomado conhecimento da situação revelada pela comunicação social, o PSD avalia como muito ponderada e responsável a declaração da Comissão de Trabalhadores. Nessa circunstância, o PSD espera que venha a imperar o bom-senso e o Conselho de Administração possa dar o exemplo”, afirma Marco António Costa.

Segundo o despacho do Ministério das Finanças, ontem publicado em Diário da República, o novo presidente do conselho de administração da RTP vai ganhar 10.000 euros por mês, um valor superior ao do seu antecessor no cargo, Alberto da Ponte. O despacho autoriza Gonçalo Reis e o vogal da administração, Nuno Artur Silva, a optarem pela remuneração média dos últimos três anos do lugar de origem, um regime previsto no Estatuto do Gestor Público (o que levará Nuno Artur Silva, ex-Produções Fictícias, a receber 7.390,29 euros, sem despesas de representação).

O anterior presidente da RTP, Alberto da Ponte, abdicou deste regime, obtendo em 2013, de acordo com o último relatório e contas disponível no ‘site’ da televisão pública, uma remuneração bruta anual após deduções de 91.987,39 euros, ou seja, 7.665,6 euros por mês. Na altura, os dois vogais tinham um ordenado mensal de 6.132,50 euros.

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Marco António Costa vai, aliás, mais longe, pedindo responsabilidade ao novo órgão que controla a RTP – o Conselho Geral Independente, criado pelo ministro Adjunto, Miguel Poiares Maduro – e que teve a responsabilidade da contratação da nova equipa da RTP e também pela negociação da remuneração – a par das Finanças.

“Aguardamos que o CGI, que agora tem a tutela efetiva da RTP, possa prestar esclarecimentos públicos sobre a situação”, diz o também porta-voz do PSD ao Observador. 

No comunicado emitido este sábado, a Comissão de Trabalhadores da estação pública faz também um desafio à administração que tomou posse este ano: “Entende a CT que, querendo certamente o Conselho de Administração ser um bom exemplo, chegou o momento em que os trabalhadores da RTP têm o direito de exigir, no mínimo, a reposição de todos os cortes salariais”, refere a comissão de trabalhadores (CT) da televisão pública, em comunicado.

A Comissão relembra que os trabalhadores da RTP têm sofrido os cortes salariais aplicados à função pública e nunca foram abrangidos por qualquer exceção.

“Não sabemos se o melhor exemplo deve vir ´de cima´ ou ´de baixo´, mas bastará aos elementos do CA tentarem por um momento colocar-se no lugar dos que trabalham na RTP para perceberem que a situação criada – a manter-se – não é um exemplo motivador para coisa nenhuma”, adianta o comunicado da CT. A comissão de trabalhadores da RTP diz ainda que “um CA que admite retribuir-se com o nível de salários que consta do despacho da secretária de Estado do Tesouro, certamente que verificou a saúde orçamental da empresa e está disposta a rever a situação salarial dos trabalhadores”.