Ao primeiro olhar de esguelha é quase tudo parecido, ou parece ser. Uma sensação “normal”, diz Alejandra Salazar, para quem “desconhece” e não desconfia das aparências. Depois, quando experimenta, lá percebe que, além de diferente, a sensação é estranha, mais ainda se vier do ténis, o que implica estar habituado a ter uma metade do campo só para si, uma raquete com cordas e um sem número de pancadas e efeitos à escolha para bater a bola. Aqui não. Na mão também está uma raquete, embora mais pequena, sem cordas e com buracos, e as regras obrigam a que estejam duas pessoas em cada lado do campo, para formarem uma dupla. Depois, e sobretudo, há paredes altas que não se mexem, mas também jogam. Ou seja, “não tem nada a ver”.
Confuso? Caso não o conheça diga olá, esta modalidade chama-se padel. Não é o caso de Alejandra, que a cumprimentou há muito, quando era ainda muy jovencita, porque não é portuguesa. Ale, a sua alcunha, é espanhola e natural do país onde hoje está uma das potências da modalidade. Por lá o padel explodiu há décadas e não há dia em que não se levante “com vontade de jogar” e de “melhorar” na modalidade em que já fez muita coisa — aos 29 anos, Alejandra é campeã espanhola de padel, foi número um do ranking mundial da modalidade em 2009 e, no ano seguinte, sagrou-se campeã do mundo.
O Observador encontra-a em Lisboa, num dia em que a chuva parece estar sempre por um triz e pouco mais de uma dezena de pessoas se junta no Racket Centre, em Alvalade, para umas aulas de padel a convite da marca Futuro. Alejandra chama umas quantas para um campo, coloca-se de um lado da rede e vai atirando bolas para o outro lado para, à vez, cada pessoa dar umas pancadas. As palavras de ânimo repetem-se, as correções e ensinamentos, também. “Tens que dar espaço à bola, com o braço esticado. Não fiques colado a ela!”, diz, às tantas, a uma, antes de, a outras tantas aconselhar que “o cotovelo, na pancada, tem de ficar sempre apontado para baixo”.
Noutro campo, ali mesmo ao lado, tão ou mais sorridente, está Ana Catarina Nogueira a ensinar uns truques a outros participantes. Já tem 32 anos e esperou até aos 27 para conhecer o padel porque, lá está, desde os 13 que andava ocupada com o ténis — ainda hoje é a atleta com mais participações na Fed Cup, a prova de seleções da modalidade. Chegou tarde ao padel, sim, mas sobrou-lhe tempo suficiente para, nos últimos cinco anos, ser campeã nacional e, em 2010, vencer o campeonato do mundo. Ana admite que, ao início, o ténis lhe facilitou a vida quando, dois ou três anos depois de deixar de jogar a sério, a “convidaram para experimentar padel”. Gostou tanto que “se tornou viciante” e passou a achar “o padel mais divertido que o ténis”.
Tinha saudades de competir, de estar a jogar algo sério com uma raquete na mão, e o padel agarrou-a — como tem agarrado muitas pessoas em Lisboa, cidade já vão existindo cada vez mais campos. Entre o desconhecido e a moda parece bastar um pequeno passo e Ana acha que está quase a ser dado. “É um desporto muito mais social por ser jogado a pares. É dinâmico e comunicativo. Permite que toda a família possa jogar: marido e mulher, pai e filho, avô e neto. E isso é uma das vantagens que tem ajudado o padel a criar muitos adeptos”, argumenta.
Voltando às aulas, é raro o momento em que Alejandra se cala. E, visto de fora, percebe-se porquê. Pode parece fácil, mas, como diz a espanhola, “o mais difícil ao início é entender as distâncias em relação à bola”, igual à utilizada no ténis. “Tens de saber quando dar a pancada, se é melhor bater na bola antes ou depois de tocar na parede, por exemplo”, indica, lembrando as paredes, quase todas com quatro metros de altura, que rodeiam o campo e servem para a bola tabelar e os jogadores as aproveitaram para, com ressaltos de bola, enganarem os adversários.
Por cada jogada, como no ténis, a bola só pode bater uma vez no chão, mas pode tocar às vezes que forem nas paredes. E mais: quando os ricochetes se esticam e atiram a bola para lá da muralha das paredes, os jogadores podem sair do campo para irem bater a bola. Aqui ficam uns exemplos.
Os portugueses já começam a piscar o olho ao padel, mas o país ainda está a uns aninhos (e uns praticantes, um número de campos e uma quantidade de divulgação) de distância do México, onde a modalidade foi criada, da Argentina ou de Espanha, onde Alejandra Salazar vê “campos a aparecerem em todo o lado”. Bem dizem os portugueses que, mesmo devagar, se acaba por chegar longe. Ana Catarina Nogueira concorda: “Siiiim. Ainda estamos um bocado distantes, como é natural. Lá existem muitas escolas para os miúdos jogarem desde pequenos. Mas ao longo dos anos vamo-nos aproximando.” Está dito.
Infografias: Andreia Reisinho Costa.