Antes morrer do que ser capturado pelo inimigo, terá pensado Adolf Hitler a 30 de abril de 1945. O ditador tinha 56 anos, sendo que os últimos seis tinham sido passados a lutar pela vitória da Alemanha na II Guerra Mundial, que ele próprio tinha originado. No dia em que passam 70 anos sobre o dia em que Hitler se suicidou no seu bunker, em Berlim, o Observador faz o apanhado de alguns dos livros que saíram sobre um dos homens mais odiados da história, dos fundamentais aos mais recentes, passando pela ficção.

Hitler's Last Day written by Emma Craigie of Pitcombe . Picture by Chic Photographic

O primeiro livro é precisamente sobre o último dia de vida de Hitler. Em Hitler’s Last Day: Minute By Minute, Jonathan Mayo e Emma Craigie relatam cronologicamente tudo o que se sabe sobre o que se passava, não só dentro do bunker, mas também dentro de uma Alemanha prestes a ser derrotada. O livro sobre as últimas 24 horas do ditador foi publicado em abril pela Short Books e, por enquanto, não existe tradução portuguesa.

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Já tem alguns anos, mas é a obra fundamental para quem quer conhecer a fundo o percurso do austríaco que liderou o III Reich. Hitler, do historiador britânico Ian Kershaw, publicado em Portugal pela Dom Quixote, apanha o período entre a ascensão e a queda do ditador. As quase mil páginas de biografia, de onde se destacam várias dezenas de fotografias e mapas, foram amplamente elogiadas pela crítica especializada. Ideal para quem não tem nenhum livro sobre o ditador nazi e procura uma obra muito completa.

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Do jornalista alemão especializado em história alemã Guido Knopp chegou a Portugal, pela Esfera dos Livros, Os Segredos do III Reich. O título não engana. Nas 328 páginas encontra-se condensado o período de 12 anos em que Hitler governou a Alemanha, desde o momento em que o Partido Nacional-Socialista subiu ao poder, em 1933, até ao final da II Guerra Mundial, em 1945. A sinopse aguça a curiosidade sobre o que o leitor poderá descobrir: “As verdadeiras origens familiares de Hitler, sobre as quais tentou criar um verdadeiro mito; a proveniência do dinheiro que permitiu ao Führer financiar as suas campanhas e sustentar uma vida luxuosa; ou os mistérios sobre as suas mulheres, uma história que começa com a estranha morte da sua sobrinha e termina com o suicídio de Eva Braun”.

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Falando no início do III Reich, em março chegou a Portugal, pela Jacarandá Editora, As Primeiras Vítimas de Hitler, de Timothy W. Ryback. O autor recua até às primeiras semanas de poder de Hitler, mais concretamente até ao dia 13 de abril de 1933. Nessa manhã, o procurador-adjunto Josef Hartinger recebeu um telefonema para que comparecesse no recém-inaugurado campo de concentração de Dachau, porque quatro presos tinham sido alvejados a tiro. Os guardas das SS falaram em tentativa de fuga mas o que Hartinger encontrou – uma jaula de arame farpado no meio de um deserto industrial, cadáveres atirados sem cerimónia para um paiol, ferimentos de bala a curta distância nas cabeças dos quatro judeus – convenceu-o de que algo não batia certo. Os atos deste homem para denunciar a natureza criminosa do regime nazi e os nomes das primeiras vítimas de um governo que deu origem à II Guerra Mundial ficam aqui imortalizados.

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Há quem diga que é possível saber muito sobre uma pessoa, mediante os livros que ela lê. Neste caso, já se sabe muito sobre o homem, mas nada sobre o que ele leu. O que lia um dos homens mais odiados do mundo? Do mesmo autor, Timothy W. Ryback, há a destacar A Biblioteca Privada de Hitlerpublicado em Portugal, em 2011, pela Civilização Editora. Em quase 500 páginas, procura-se desvendar as influências culturais que fizeram parte da formação de Adolf Hitler, das suas ideias e obsessões, desde os tempos em que combateu na I Guerra Mundial até à sua morte, em Berlim.

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É difícil frequentar a Internet sem se cruzar um dia com o famoso excerto do filme “A Queda”, em que Hitler se revolta ao perceber que a derrota está próxima. Por trás do argumento está um livro, Inside Hitler’s Bunker, de Joachim Fest. A diferença em relação a Hitler’s Last Day: Minute By Minute é que, nas 190 páginas, o autor foi além das últimas 24 horas, incluindo também os últimos dias de declínio. A versão portuguesa está esgotada, mas o livro, editado originalmente pela Picador, está disponível em inglês.

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O Império de Hitler saiu em 2008 e as críticas positivas começaram a multiplicar-se. Foi preciso esperar por 2013 para ter nas mãos uma tradução portuguesa (Edições 70), mas antes tarde do que nunca. Em cerca de 800 páginas, Mark Mazower narra a vida da Europa ocupada sob domínio nazi e as histórias de quem teve de viver os horrores da II Guerra Mundial, ao mesmo tempo que incide sobre os planos do Partido Nazi. Para quem se interessa mais pela II Guerra Mundial do que por Hitler.

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Mas nem só de factos históricos se fazem os livros com o nome do ditador. Saiu em março deste ano em Portugal, pela editora Nova Delphi, O Evangelho Segundo Hitler. E se Judas tivesse denunciado Jesus Cristo aos romanos não por maldade, mas por um bem maior que o mundo desconhece? No primeiro livro de ficção do brasileiro Marcos Peres, um dos ditadores mais odiados da história desempenha um papel semelhante ao de uma versão de Judas criada pelo argentino Jorge Luís Borges: ele não é a fonte de todo o mal, mas sim um homem que sacrifica o seu nome e reputação por um bem maior. Sabe que será odiado para todo o sempre, mas acredita que todo o mal que vai fazer é um mal necessário. É difícil de imaginar, mas e se Hitler tivesse tentado subjugar países e povos, e tivesse condenado à morte milhões de pessoas, por um bem maior? É difícil de imaginar. Mas nada como ler e tentar perceber a crítica por detrás da trama principal.

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E se Hitler voltasse agora à Alemanha, o que aconteceria? Como seria recebido? E o que acharia do país? Foi mais ou menos este o exercício que o escritor alemão Timur Vermes fez em Ele Está de Volta, livro que chegou a Portugal há cerca de um ano e meio pela editora Lua de Papel. Tudo acontece em 2011, em Berlim. Adolf Hitler acorda num terreno baldio com uma forte dor de cabeça. O uniforme tresanda a querosene. Olha à sua volta e não encontra Eva Braun. Nem uma cidade em ruínas, nem bombardeiros a riscar os céus. Em vez disso, descobre ruas limpas e organizadas, cheias de turcos e de pessoas com aparelhos estranhos colados aos ouvidos. Começa assim o romance que foi um “bestseller” na Alemanha, e que ficciona o ditador que se matou no final da II Guerra Mundial bem vivo na era dos reality shows e do YouTube, qual estrela desejada pelas televisões, numa Alemanha da crise, do Euro ameaçado e da austeridade que vê nele um Tiririca, ou um Beppe Grillo.