Miguel Pais do Amaral fez chegar à Parpública uma proposta para comprar 61% do capital da TAP em quatro páginas. Na carta, o empresário pedia mais tempo para avaliar o impacto da greve e pedia garantias do Estado sobre a dívida. Pais do Amaral assumia que a sua proposta não era vinculativa, o que o levou à exclusão do concurso e queria até julho para apresentar uma proposta completa.

A dimensão reduzida da proposta, conta esta sexta-feira o jornal de Negócios, prendia-se sobretudo com a falta de tempo para elaborar uma iniciativa completa.

Questionado sobre a decisão do Governo de afastar o seu consórcio da corrida, Miguel Pais do Amaral adiantou à Lusa que o tempo dado para apresentar a proposta foi curto e que apresentou três condições no documento que fez chegar à Parpública, a gestora das participações do Estado.

“Pedimos um prazo adicional para podermos analisar o impacto da greve [dos pilotos realizada entre 01 e 10 de maio] nas contas, precisávamos de mais seis semanas para analisar a greve que ocorreu cinco dias antes da data de entrega da proposta”, explicou.

“Esta foi uma greve brutal que vai ter um impacto enorme nas contas da empresa”, sublinhou.

Por outro lado, devido “à degradação da situação da empresa”, o consórcio pedia que “houvesse da parte do Estado uma tomada de medidas junto dos credores para obter condições satisfatórias sobre a dívida”, acrescentou. Miguel Pais do Amaral salientou que a partir do momento em que o Estado saia da TAP, os credores podem vir reclamar a dívida da operadora aérea, a qual é superior a 1.000 milhões de euros. E por isso, “era essencial que o Estado desse esse apoio”, considerou o empresário.

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A terceira condição dizia respeito à “necessidade de obtenção de um acordo de médio/longo prazo com os sindicatos”, disse. Ou seja, o consórcio da Quifel pretendia que se estabelecesse um acordo prévio com os sindicatos, que garantisse ao novo dono paz social no grupo TAP. “Estas são as três condições que não se enquadram no caderno de encargos”, mas que uma “análise menos rigorosa permitira passar”, apontou.

O empresário lembrou que tinha apresentado uma proposta para a compra da transportadora aérea portuguesa em julho do ano passado, “a pedido do Governo” com a indicação que o processo arrancava em setembro.

Se a privatização tivesse ocorrido na altura, o empresário diz que teriam “tido tempo”, já que o curto espaço para a apresentação da proposta vinculativa “prejudica um consórcio com as características” como o por si liderado, que não é uma companhia aérea e necessita da aprovação dos investidores, explicou. Ou seja, se não tivesse havido “múltiplos atrasos” no processo privatização, que já tinha sido suspenso em 2012, o consórcio teria tido a possibilidade de “reunir todas as condições necessárias”.

Pais do Amaral adiantou que continua interessado na TAP, pelo que vai “esperar calmamente” pelo desenrolar do processo: “Caso não se concretize [a privatização], o nosso interesse mantém-se”.

O Governo relançou em novembro do ano passado o processo de privatização na TAP que prevê a alienação de até 66% do grupo dono da transportadora aérea nacional. Sérgio Monteiro disse que a proposta de Pais do Amaral para a compra da TAP “era não vinculativa, logo não cumpria um dos requisitos do caderno de encargos”, e foi afastada.

O Governo decidiu hoje em Conselho de Ministros passar dois candidatos à compra da TAP à fase de negociação, afastando o consórcio de Miguel Pais do Amaral e continuando a negociar com Gérman Efromovich e David Neeleman.