Começou a corrida contra o tempo em Espanha. As próximas duas semanas serão de negociações intensas entre os partidos para tentar garantir maiorias que inviabilizem governos autonómicos e municipais do Partido Popular (PP). Apesar de o partido de Mariano Rajoy ter conquistado nove das treze regiões autónomas, não obteve maioria absoluta em nenhuma – e conseguiu curta margem face aos adversários. Regiões como Castela La Mancha, Aragão ou mesmo Madrid, ganhas pelos populares, poderão ir parar às mãos da esquerda, caso os socialistas (PSOE), o Podemos e o Ciudadanos se entendam.
A primeira cartada e a mais simbólica joga-se em Madrid, tanto na câmara municipal como na região, onde o Podemos espera poder coligar-se com o PSOE para arredar o PP de vez do panorama político da capital (a palavra escrita pelo El País é “desbancar”). Na câmara, a candidata popular Esperanza Aguirre apenas obteve um vereador a mais do que a plataforma Ahora Madrid, apoiada pelo Podemos e outros grupos políticos. Para ter maioria camarária são precisos 29 vereadores: o Ahora Madrid tem 20 e o PSOE tem nove. A conta é fácil, o entendimento também não parece ser difícil, ainda que ninguém o diga abertamente e as manobras sejam sobretudo atrás do pano.
O mesmo se aplica à comunidade de Madrid, onde PSOE e Podemos coligados obtêm 64 deputados, menos um do que o necessário para a maioria absoluta. O Ciudadanos, que também está aberto a acordos tanto ali como noutros sítios de Espanha e tanto com socialistas como populares, elegeu 17 deputados, o que, mais uma vez, inviabilizaria um governo do PP, que elegeu 48 deputados.
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Objetivo número um do Podemos: correr com o PP
Mariano Rajoy identificou o Podemos como principal adversário político nestas eleições, relegando o PSOE para um papel secundário, e o partido de Pablo Iglesias retribuiu-lhe a atenção: para o Podemos, o mais importante é que a direita não governe. O partido vai coligar-se “com quem esteja disposto a dar uma volta de 180 graus às políticas de austeridade que demonstraram ter sido um fracasso e mostrem um compromisso de tolerância zero contra a corrupção”, disse Pablo Iglesias esta segunda-feira à noite, numa entrevista ao canal de televisão La Sexta.
O dirigente não quer falar abertamente de acordos pós-eleitorais, mas vai realçando a importância de os diferentes partidos falarem entre si. “Nós vamos apresentar um programa que vai entusiasmar os votantes socialistas”, disse Iglesias, piscando o olho a Pedro Sánchez, líder do PSOE, que já mostrou estar disponível para falar. É que ninguém quer repetir o que se passou na Andaluzia, onde, depois de três votações parlamentares, a eleita pelo PSOE Susana Díaz ainda não conseguiu tornar-se presidente da região.
Para quase todas as regiões vão ser necessários acordos de governo, seja para o PP como para o PSOE, que nas autonomias precisa de partidos como o Podemos ou o Ciudadanos para formar executivos e que nos municípios espera poder apanhar a boleia do partido de Iglesias para o poder. Na segunda-feira à noite, Pedro Sánchez anunciou que ligaria já esta terça aos líderes daqueles dois grupos partidários para discutir “princípios e ideias”. O bipartidarismo pode ainda não ter morrido, mas é claro hoje tanto para populares como para socialistas que estes partidos emergentes são uma realidade inelutável.
Barcelona: depois do feito histórico, a governabilidade
A situação na câmara de Barcelona é simétrica à de Madrid, mas os protagonistas invertem-se: se na capital espanhola a plataforma de pequenos partidos ficou a um vereador da vitória, na capital catalã a oposição ficou a um vereador da Barcelona en Comú, plataforma que fez história ao conseguir eleger, pela primeira vez, uma mulher para aquela câmara municipal.
Ada Colau conseguiu destronar Xavier Trias, do Convergência e União (CiU), partido do presidente da Catalunha, Artur Mas, que tem feito da independência a principal bandeira dos últimos meses. Como Trias é um forte apoiante de Mas, a derrota do até agora alcalde é vista também como um revés no processo independentista, restando saber a dimensão da perda. Para já, as eleições autonómicas de setembro próximo mantêm-se agendadas, mas a independência está longe de ser a prioridade de Colau.
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A nova alcadessa garante que o será com ou sem maioria, mas anunciou esta segunda-feira, escassas horas depois da vitória eleitoral, que vai falar com a Esquerda Republicana (ERC), com os socialistas (PSC) e com a Candidatura d’Unitat Popular (CUP) para garantir estabilidade governativa. Se conseguir acordo com todos fica com 23 vereadores, mais dois do que o necessário para a maioria, e só assim tem ampla liberdade para aplicar o seu programa eleitoral.
As propostas do Barcelona en Comú partem da ideia de que é necessário devolver a cidade aos cidadãos, pelo que Ada Colau quer lutar pela transparência dos processos autárquicos, por uma democracia mais direta e aberta ao cidadão comum, além de apostar na educação e num modelo urbanístico menos determinado pelo carro. Uma das propostas mais polémicas de Colau durante a campanha foi a de encerrar ao trânsito automóvel a Avenida Diagonal, um dos principais eixos da cidade, que a atravessa de uma ponta à outra.