O ex-presidente da Câmara de Oeiras Isaltino Morais assegurou nesta quinta-feira, na apresentação do seu livro “A Minha Prisão”, em Lisboa, que a publicação não é para sua defesa e excluiu a possibilidade de voltar à vida política. No grande auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que foi pequeno para as centenas de pessoas que quiseram marcar presença na apresentação do livro “A minha prisão”, Isaltino Morais esclareceu que o objetivo é “despertar a curiosidade das pessoas”.

“O meu objetivo, sobretudo, é mostrar como é possível, de uma forma que passa totalmente despercebida ao cidadão comum, as perversidades que se podem fazer ao Estado de Direito, quando não se chega ao apuramento da verdade. O que resulta daí não é Justiça, é tirania e é arbítrio”, afirmou, em declarações aos jornalistas. Isaltino Morais disse tratar-se de um livro sobre “política judicial, política prisional e política em geral”, mas excluiu qualquer possibilidade de regressar à política.

“Quero descansar, quero escrever mais e não estou a pensar em envolver-me na política ativa neste momento, mas eu tenho os meus direitos ativos. Cumpri, injustamente, prisão, não devo nada a ninguém, sou um cidadão livre. Fossem todos os políticos escrutinados como eu fui e a política era muito mais limpinha”, frisou o ex-autarca.

“A minha prisão”, que relata os 429 dias em que Isaltino Morais esteve preso, na sequência da condenação pelos crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais, foi colocado à venda na passada sexta-feira e, de acordo com o autor, está já no topo dos mais vendidos.

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Na apresentação do seu livro, Isaltino Morais apelou para que não lhe falassem de Luís Marques Mendes, advogado e comentador, antigo ministro do Governo de Cavaco Silva e ex-dirigente do PSD, ou de Paula Teixeira da Cruz, atual ministra da Justiça, apontados como “alvos” na publicação. “Quem me prendeu não foram eles, foram os tribunais, foram os juízes que me condenaram”, disse.

Isaltino Morais criticou ainda afirmações do ex-procurador-geral da República Pinto Monteiro e do antigo presidente do Supremo Tribunal de Justiça Noronha do Nascimento “O doutor Pinto Monteiro disse, a propósito do meu caso, que uma pessoa acusada em praça pública, tinha de ir a tribunal. A sua profecia cumpriu-se. Noronha do Nascimento disse, também na altura, que eu já devia estar preso. Portanto, o Isaltino tinha mesmo de ser preso”, contou.

Perante a “incompetência” do sistema judicial, Isaltino Morais disse ainda que o Presidente da República e o primeiro-ministro deveriam ter atuado. “Eu não estou aqui a fazer-me de vítima. Mas o Presidente da República não viu, o primeiro-ministro não viu, a Assembleia da República não viu e escondem-se cobardemente, com medo, pela separação de poderes”, sustentou.

“E se acontecesse consigo?”, pergunta, na capa da obra editada pela Esfera dos Livros, o ex-presidente da Câmara de Oeiras e ex-ministro das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente do Governo de Durão Barroso, que, em quase meio milhar de páginas, reclama “a defesa da honra”, por ter sido condenado por crimes que reclama não ter cometido.

O recluso número 721, que partilhou cela com condenados por homicídio, tentativa de homicídio, pedofilia e furto de automóveis, aproveita para ajustar contas com magistrados e políticos, que participaram no processo ou que comentaram o seu caso no espaço mediático.