Um exame de pôr os olhos em bico. Milhões de estudantes submetem-se ao Gaokao, o teste mais decisivo da vida académica dos chineses. A pressão dos pais, dos professores e da nação é imensa, preparando tudo para que “o sucesso do resto da vida” resida naquele exame.
O Gaokao, cujas matérias obrigatórias são matemática, chinês e um idioma estrangeiro, são o culminar de anos de estudo. É considerado como a oportunidade de ter êxito na vida ou de se tornar num “falhado”. Este facto ganha dimensão maior num país como a China, cuja empregabilidade tem como requisito um curso universitário. Quanto mais reconhecida é a universidade, melhor é o emprego.
Vigilância extrema
Por detrás de qualquer exame são comuns as histórias relacionadas com cábulas ou copianços. Apesar de não ser exceção, o Gaokao é rigorosamente vigiado pelas autoridades.
De acordo com a BBC, os funcionários de Pequim, a capital chinesa, proíbem a entrada de qualquer “objeto computorizado” nos locais de exame. De maneira a ninguém ter acesso aos enunciados antes do tempo, as folhas de exame são localizadas com um sistema GPS. Dentro das salas de exame, as autoridades vigiam cada movimento dos estudantes através de várias câmaras. Inclusive drones que captam a atividade de qualquer dispositivo eletrónico.
O exame “mais fácil”
Cada província chinesa determina o seu enunciado de exame, por isso muitos estudantes chineses optam por se inscrever nas regiões com as perguntas mais fáceis. E, de acordo com a BBC, milhares de estudantes rumam para a Mongólia Interior, região com o exame considerado mais acessível de todos. Mas a inscrição não é assim tão fácil quanto parece: depende de residência local. É por isso que 1465 estudantes que queriam efetuar a prova na Mongólia Interior foram desqualificados, por não cumprirem esse requisito mínimo.
A pressão paternal
No dia da realização do Gaokao, os funcionários dos estabelecimentos de exame não têm de lidar apenas com o nervosismo dos estudantes, mas também com a ansiedade dos pais. A situação é de tal maneira extrema, que alguns colégios tiveram de criar unidades de assistência paternal: salas de espera com água, cadeiras e sombra. Em Pequim estas unidades estavam equipadas médicos de emergência, caso existissem casos de insolação para os que esperam à porta.
E os pais têm poder. Há dois anos, as famílias de 1200 estudantes queixaram-se ao Ministério da Educação de que uma prova de compreensão de leitura inglesa, na província de Anhui, escutava-se mal devido a uns altifalantes defeituosos. As queixas permitiram a repetição do exame.
A persistência chinesa
Anos após anos, vários estudantes insatisfeitos com os seus resultados repetem a prova. Um exemplo é Wang Xia, de 86 anos, que fez o exame pela 15º vez. Para além de ser provavelmente o estudante mais velho do país, é também o mais persistente.
“Não jogo mahjong, não tenho nenhum passatempo em particular, mas gosto de ler e aprender. Talvez não estejam de acordo, mas quero muito passar a este exame, porque isso faz parte da minha estrutura espiritual”, disse Wang à BBC.
Texto editado por Filomena Martins.