O livro Nó valeu a Daniel Jonas o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes, anunciou esta segunda-feira a Associação Portuguesa de Escritores (APE). O júri, constituído por António Mega Ferreira, Fernando J. B. Martinho e José Manuel Mendes tomou a decisão “por unanimidade”.
Livro de sonetos, Nó foi publicado no ano passado pela Assírio & Alvim. A decisão deve-se ao “mérito muito assinalável do seu trabalho poético, que convoca a tradição lírica ocidental para uma recomposição textual lúcida e fortemente irónica, cosmopolita, atenta aos lugares e tempos de um presente recolhido e transfigurado”, pode ler-se na informação enviada pela APE aos jornalistas.
“Fui completamente surpreendido. Não sabia sequer que estava nomeado“, disse ao Observador o poeta portuense de 42 anos. “Os únicos livros meus que foram distinguidos foram livros de sonetos, o que acho muito curioso”. Curioso porquê? “Porque acho que é material um bocadinho excêntrico, fora do tempo. Achava que não haveria nenhum interesse em atacar aquele tipo de leitura e que as pessoas achariam que publicar em soneto era algum tipo de exibicionismo“, confessou.
Daniel Jonas nasceu no Porto em 1973, licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Universidade do Porto e obteve o grau de Mestre em Teoria da Literatura na Universidade de Lisboa. Estreou-se na poesia em 1997, com O Corpo Está com o Rei. Seguiram-se Moça formosa, Lençóis de veludo (2002), Os Fantasmas Inquilinos (2005), Sonótono (2007), Passageiro Frequente (2013) e o mais recente Nó, em 2014.
“[O soneto] ajuda-me a concentrar as minhas energias. Funciona como uma espécie de jogo, de sudoku literário, são como palavras cruzadas que eu tenho de preencher naquela grelha e traduzir uma ideia sendo refém daquele género, o que me parece logo desafiante”, disse, sobre a opção de escrever em 14 versos. No entanto, nos próximos meses quer publicar Bisonte, também com a Assírio & Alvim. “Um livro mais livre, à semelhança de Os Fantasmas Inquilinos“, adiantou.
O também tradutor e dramaturgo (é autor da peça Nenhures) foi, este ano, um dos sete finalistas do prémio Poeta Europeu da Liberdade, atribuído de dois em dois anos pelo festival de poesia de Gdansk, na Polónia. Em 2008, venceu o Prémio Pen Clube de Poesia com Sonótono (Cotovia), ex-aequo com Segredos do Reino Animal, de Hélder Moura Pereira (Assírio & Alvim).
“Do ventre da baleia ergui meu grito:
Senhor! (dizer teu nome só é bom),
Em fé, em fé o digo, mesmo com
Um coração pesado e contrito
Que és de tudo verdade e não mito,
O coração do amor, de todo o dom,
Conquanto seja raro o bem e o bom
E toda a luz aqui me falhe, és grito
Que chama toda a chama de esperança
E acorda a luz que resta à réstia eterna,
Conquanto viva o mártir na espelunca
Da vida (quem espera amiúde alcança)…:
Possa o nazireu preso na cisterna
Sofrer de ser só tarde mas não nunca”.Nó
O júri analisou 77 obras a concurso e escolheu seis finalistas: Escuro, de Ana Luísa Amaral, Nó, de Daniel Jonas, Ritornelos, de Joana Emídio Marques, A misericórdia dos mercados, de Luís Filipe Castro Mendes, O fruto da gramática, de Nuno Júdice, e Jóquei, de Matilde Campilho.
O vencedor recebe um prémio de 12.500 euros. Eugénio de Andrade, Natália Correia, Manuel Alegre, Vasco Graça Moura e Manuel António Pina são alguns dos poetas já premiados no passado. O também portuense Fernando Guimarães foi o vencedor da última edição, de 2014.