O think tank alemão Halle Institute for Economic Research (IWH) calcula que mesmo que a Grécia recuse pagar a dívida que deve à Alemanha o estado federal alemão terá, mesmo assim, tido lucro com a crise da dívida europeia, com as medidas que foram tomadas para a combater e com as consequências que a crise teve para os fluxos internacionais de investimento. A conclusão do estudo divulgado esta segunda-feira procura contrariar a forma como alguns deputados alemães retratam a Grécia como um fardo para os contribuintes alemães.
A aritmética do IWH é simples. Devido à crise que começou na Grécia, em 2009/2010, os investidores internacionais acorreram à dívida pública alemã como um dos ativos com maior segurança. Esse movimento massivo, que só começou a atenuar-se no verão de 2012, fez subir os preços a que as obrigações do Tesouro alemão eram negociadas entre os investidores. E, no mercado de dívida, preços mais altos nas obrigações representam juros mais baixos, ou seja, isso ajudou a Alemanha a financiar-se aos juros mais baixos da história da zona euro.
O instituto de pesquisa estima que este movimento de fuga ao risco terá feito com que a Alemanha tenha beneficiado de juros 300 pontos base (três pontos percentuais) mais baixos do que teria caso não houvesse esse investimento extraordinário em dívida alemã. Resultado: um orçamento público equilibrado e poupanças na ordem dos 100 mil milhões de euros em juros, calcula o IWH, entre 2010 e 2015.
“Quando se discutem os custos para o contribuinte alemão de salvar a Grécia, estes benefícios não devem ser ignorados”, defendem os especialistas que lideraram o trabalho de preparação deste estudo. E porquê? “Porque estes benefícios tendem a ser maiores do que as despesas, mesmo num cenário em que a Grécia não pague as suas dívidas” à Alemanha. A Grécia deve, entre empréstimos diretos e indiretos (através de garantias ao fundo europeu), cerca de 90 mil milhões de euros à Alemanha, estima o think tank. Este valor inclui o pacote que está, neste momento, a ser negociado, clarifica o instituto de pesquisa.
“Mesmo que a Grécia acabe mesmo por não pagar as suas dívidas, a Alemanha terá tido lucro. Se a Grécia pagar, ou pagar pelo menos um parte, as poupanças [para a Alemanha, são significativas”, conclui o estudo.