A música tem milhares de anos e há até quem afirme que pode preceder o homo sapiens. A razão da sua popularidade, segundo escreve o neurologista Facundo Manes no El País, está nos efeitos que a música provoca no cérebro humano.
Segundo o professor argentino de neurologia e neurociências cognitivas, a audição de música “liberta dopamina no cérebro”, estando a música por isso “entre os elementos que mais prazer causam na vida (…) tal como a comida, o sexo ou as drogas”.
A música comunica assim com o cérebro, de uma forma mais eficaz para o nosso bem-estar do que as palavras. Como afirma Facundo Manes, a melodia, “em vez de facilitar um diálogo em grande medida semântico, como [acontece com] a linguagem, (…) parece mediar um diálogo mais emocional“. A consequência é que, ao contrário das palavras, a música consegue de imediato “regular o estado de espírito e (…) a fisiologia humana”, podendo assim induzir estados de espírito positivos.
É devido a estas características, provocadas pelo efeito da música no cérebro, que a esta é também, hoje em dia, utilizada com fins terapêuticos, através de um método conhecimento como musicoterapia, que usa a música como ferramenta para recuperar ou melhorar as faculdades linguísticas e motoras, ou simplesmente para acalmar os pacientes. O método é usado pelo impacto imediato da melodia em quase todas as regiões do cérebro, um fenómeno ainda não totalmente compreendido e que foi muito estudado, por exemplo, por Oliver Sacks, o famoso neurologista falecido no final do mês passado, que dedicou grande parte da sua vida ao estudo dos efeitos surpreendentes da música no cérebro humano.
A musicoterapia tem sido estudada nos últimos anos, e os seus benefícios têm vindo a ser confirmados. Um estudo publicado no passado mês de agosto, uma equipa de cientistas ingleses publicou, no The Lancet Journal, os resultados de um estudo que analisava o impacto da música nos pacientes que enfrentam uma cirurgia. Os resultados mostraram que a música tem um impacto positivo nesses pacientes, reduzindo a ansiedade e a necessidade destes recorrerem a medicamentos para as dores.
Segundo conseguiu apurar o cientista Robert Zatorre, que Facundo Manes cita no seu artigo, a resposta do cérebro à música é também influenciada “pelo que se escutou anteriormente, dado que o cérebro tem uma base de dados armazenada e criada a partir de melodias conhecidas”. O que torna as respostas das pessoas variável, dependendo das suas experiências anteriores enquanto ouvintes.
Pode-se dizer, portanto, que ouvir música já não é apenas algo que se faz por gosto: é também uma experiência que beneficia à saúde e ao corpo humano.