A S&P, a agência de ratings mais influente do mundo, subiu esta sexta-feira a notação de crédito de Portugal para o nível mais elevado antes de sair da gama de ratings considerados mais arriscados. A agência norte-americana espera que as políticas de consolidação orçamental continuem, “independentemente do resultado das eleições” de dia 4 de outubro.
“Contamos que, na sequência das próximas eleições legislativas de outubro, o novo governo se comprometa com políticas que suportem o crescimento económico e a continuação da consolidação das contas públicas”, escreve a S&P em relatório difundido esta sexta-feira. A agência denota, aliás, que para esta subida de rating foi assumido que existe um “compromisso dos vários partidos quanto à consolidação orçamental em curso”.
“Na nossa opinião, caso as reformas estruturais em curso não continuem, nas áreas do mercado laboral e da produtividade, isso poderá penalizar a atividade futura de investimento em Portugal e na economia portuguesa, o que será negativo para o crescimento”, nota, ainda, a agência.
O rating passou de BB para BB+, o nível menos negativo na escala da S&P dentro da classificação de dívida especulativa. Isto significa que, apesar desta melhoria do rating, a S&P continua a recomendar a dívida portuguesa apenas aos investidores que assumem maiores riscos nas suas carteiras, em oposição àqueles mais conservadores – como os fundos de pensões – que tendem a limitar-se ao investimento em ativos com notação de risco de qualidade.
Para que o rating de Portugal deixe de estar em grau especulativo (vulgo lixo) suba para investimento de qualidade, será necessário subir mais um patamar, para BBB-, o que nesta altura não se prevê para breve porque o novo rating tem uma perspetiva estável. Esta subida já tinha algum grau de probabilidade tendo em conta que a perspetiva positiva.
Portugal passa, assim, a ter um rating BB+ aos olhos da Moody’s, o mesmo nível que a agência Fitch. A Moody’s, que tem uma nomenclatura diferente, tem uma notação de Ba1, o que também é o nível mais elevado antes de sair de lixo. A canadiana DBRS é a única agência reconhecida pelo BCE onde Portugal goza de uma notação de qualidade.
O que (mais) diz a S&P sobre Portugal
Esta é a primeira vez que esta agência sobe o rating de Portugal desde a crise, depois de o ter cortado para BB (dois níveis em lixo) em 13 de janeiro de 2012. Eis o retrato que a S&P faz de Portugal, neste momento:
- “A recuperação económica e consolidação orçamental têm continuado, em linha com aquela que é a nossa expectativa, colocando o rácio de dívida pública líquida numa trajetória de redução depois de 15 anos consecutivos de aumento”.
- “Prevemos uma continuidade global no que diz respeito às políticas [que têm sido seguidas], independentemente do resultado das eleições que se avizinham, em outubro”.
- “Decidimos, portanto, aumentar o nosso rating para a dívida de longo prazo de Portugal, para BB+ face a BB”.
- “A perspetiva estável para o rating leva em consideração as nossas projeções de uma recuperação económica generalizada e uma consolidação orçamental gradual. Mas contrabalança [essas projeções otimistas] com os riscos de um enfraquecimento do contexto de crescimento no exterior e com os riscos associados à demora da desalavancagem [redução da dívida] do setor privado”.
Em outubro, quando se previa que uma outra agência – a Fitch – subisse a notação de Portugal para acima de “lixo” (o que não viria a acontecer), explicámos as implicações destas decisões das agências de rating.
Ministra das Finanças: “Notícia positiva” que encoraja a “continuar nestas políticas”
A ministra das finanças reagiu à decisão da agência Standard and Poor’s (S&P) de melhorar o rating de longo prazo de Portugal, dizendo que esta decisão é o reconhecimento de “uma melhoria continuada da situação económica do país”.
“[A decisão da Standard and Poor´s] representa o reconhecimento, por parte da agência de rating, de que houve uma melhoria continuada da situação económica do País, recuperação do emprego e também que há um processo de consolidação orçamental que permite que a dívida pública tenha entrado numa trajetória descendente pela primeira vez em 15 anos”, disse Maria Luís Albuquerque.
“É, naturalmente, uma notícia positiva, que olhamos como um encorajamento para continuar nestas políticas, tanto mais que a própria agência de rating alerta que os riscos que podem levar, eventualmente, a uma nova descida, são precisamente não se continuar com as reformas estruturais, ou de haver um desvio significativo àquilo que são as metas orçamentais entretanto definidas”, advertiu.
A ministra das finanças, que falava em Setúbal, acrescentou ainda: “O que eu leio naquelas palavras é que não poderá haver um desvio, após as eleições, dessas políticas e dessas medidas, a não ser que se queira correr o risco de haver novamente uma descida do rating. Fazerem neste momento uma subida do rating é uma boa notícia, que reconhece os resultados já alcançados e o próprio comunicado contém os elementos necessários para que haja uma nova subida, que é essencialmente a continuação deste caminho, de reformas, de crescimento e de consolidação das contas públicas”, frisou.
A ministra das Finanças advertiu, no entanto, que não obstante o comunicado da Standard & Poor´s não antecipar qualquer movimento do rating de Portugal a curto prazo, isso não significa que tal não possa vir a acontecer.
“De momento não antecipam que haja, a muito curto prazo, nem uma subida nem uma descida, mas isso não impede as agências de rating de fazerem movimentos mais bruscos, num sentido ou noutro, como aliás, nós já assistimos no passado. Na prática o que estão a dizer é que reconhecem a melhoria e que ficam à espera para ver [e para decidirem] qual é o próximo movimento”, avisou.