Em Portugal, o temas das medicina não convencionais (como a homeopatia) foi colocado na ordem do dia este mês, depois de o deputado do Bloco de Esquerda, Moisés Ferreira, afirmar à Agência Lusa que “o BE esteve sempre na primeira linha pela regulamentação de uma série de chamadas terapêuticas não convencionais” e ainda que o partido vai insistir para que terapias como a homeopatia sejam legisladas e regularizadas.
As terapias, contudo, são tudo menos consensuais. O cientista alemão Edzard Ernst, por exemplo, dedicou os últimos 20 anos à investigação de medicinas alternativas, como a homeopatia, a quiroprática e a acupuntura – ao todo, a sua equipa já publicou mais de 350 trabalhos sobre a matéria. Este ano lançou um livro, “Um cientista no país das maravilhas”, onde escreveu as suas memórias sobre a luta difícil que teve de enfrentar, na tentativa de desconstruir o que chama de pseudo-terapias: uma luta que teve a oposição de figuras como o Príncipe Carlos, do País de Gales, um dos principais defensores da inclusão destas terapias no sistema público de saúde no Reino Unido, que o chegou mesmo a processar em 2005.
Edzard Ernst começou a interessar-se sobre as medicinas alternativas depois de trabalhar num hospital homeopático em Munique, onde a terapia tem muita fama, e é inclusivamente praticada por médicos reputados, relata o El País. Na obra, traça um retrato crítico dessas práticas: afirma, a partir da investigação que fez que os médicos homeopatas de Munique utilizavam fármacos falsos, cuja utilidade médica nunca foi comprovada e que não têm qualquer validade científica. E, como os de Munique, os de todo o mundo.
Com as suas três centenas e meia de estudos, relata o El País, Edzard Ernst foi demonstrando a ineficácia e inclusivamente os perigos destas medicinas alternativas, e dos tratamentos recomendados pelos que as praticam. E foi desmontando vários argumentos utilizados pelos seus defensores: de que a medicina convencional mata mais, de que a ciência não é capaz de compreender estas terapias ou que os fármacos receitados por estes especialistas são bons por serem naturais e utilizados há centenas de anos. Tudo falácias, provou.
Entre os tratamentos que Edzard Ernst mais criticou, ao longo dos seus estudos, encontram-se os tratamentos osteopatas e quiropráticos, que manipulam a coluna vertebral dos pacientes (provocando sérios problemas), assim como decisões médicas ainda mais graves, que levam doentes a deixar tratamentos duros como a quimioterapia para serem sujeitos a tratamentos inócuos, mas que não curam os pacientes, levando muitas vezes a que morram no processo.
Na obra, citada pelo jornal El País, o cientista alemão mostra-se implacável quanto a estas medicinas não convencionais: transformaram-se em “religião, uma seita cujo credo central deve ser defendido a todo o custo contra o infiel”, que normalmente é o investigador ou cientista. Estes terapeutas e os seus defensores, acusa, “assemelham-se um pouco a crianças brincando aos médicos e pacientes”, e as suas práticas são “um engano perpetuado contra os [pacientes mais] débeis e os vulneráveis”.
Em suma, Edzard Ernst dedicou a sua vida académica a demonstrar que os remédios e tratamentos destas medidas não convencionais não são mais do que placebos (substâncias neutras administradas em vez de um medicamento, que não levam à cura dos pacientes), e a demonstrar que os médicos que os receitam violam a ética médica.