Chama-se Peludim porque é peludo, mas também é pequeno e carismático. A personagem principal do livro infantil A Viagem de Peludim foi concebida a dedo para ilustrar duas ideias essenciais: que as crianças são naturalmente curiosas sobre a sua sexualidade e que importa falar da (des)contrução da identidade de género. Questões fundamentais que, em última análise, pretendem proteger os mais novos da violência sexual.

A obra da autoria de Sara Rodi (responsável por diversos livros infantojuvenis) e Vânia Beliz (licenciada em psicologia clínica e mestre em sexologia) é uma aventura pelo mundo da educação sexual que, assumindo a forma de um conto para crianças, vai respondendo a algumas das perguntas mais frequentes de quem ainda só tem um palmo e meio de altura. “Como é que os bebés nascem?” é só um entre muitos exemplos.

O livro faz-se ainda acompanhar por um guia para orientar os adultos — pais, educadores e professores — nos temas mais complicados ou que causem maior constrangimento. Porque nem sempre é fácil para um pai chamar pénis em vez de pilinha ou explicar como é que o mano ou mana foi feito.

Nesse sentido, e aproveitando o lançamento do livro (no passado dia 16 de janeiro), falámos com Vânia Beliz para perceber o que é a sexualidade numa criança de poucos anos, as perguntas mais frequentes que elas fazem quando a conversa é sobre sexo — e as principais dificuldades dos pais em responder  — e qual a importância da educação sexual na escola e em casa.

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A capa do livro, todo ele ilustrado.

No prefácio do livro, escrito pelo pediatra Mário Cordeiro, lê-se que o ser humano tem uma componente de sexualidade em todas as fases da sua vida. Com que dificuldade se associa o termo sexualidade a uma criança?

As pessoas têm muita tendência para não entender ou para confundir o conceito da sexualidade, que ultrapassa em muito as questões da genitalidade. Quando falamos no desenvolvimento psicossexual das crianças, falamos da satisfação que existe desde o momento em que ela nasce, à gratificação que sente quando é alimentada e cuidada, e isso não tem nada que ver com genitalidade nem com a sexualidade adulta em que normalmente pensamos quando esta palavra está em causa. As pessoas esquecem-se de todas as outras variáveis que estão à volta da sexualidade. Nós somos seres sexuados, mas temos uma parte que ultrapassa em muito o nosso instinto de nos reproduzirmos. Nós relacionamo-nos com os outros, temos emoções, raciocinamos. Tudo isso faz de nós seres sexuados e com sexualidade. Tudo o que tenha que ver com a forma como nos relacionamos com os outros e, não apenas com sexo ou com a prática sexual, está englobado na sexualidade.

Ainda a criança não nasceu e já os pais projetam nela conceitos de sexualidade, como por exemplo conceitos de género. Quando um bebé está para nascer, o pai ou a mãe constrói todo um universo orientado na questão exclusiva do género — se for menino conduzem tudo para o universo do azul. Quando a criança começa a crescer e a explorar o meio à sua volta, e no processo vai construíndo a sua personalidade, isso já é a sexualidade. As crianças passam por um período de exploração para tentar entender a sua identidade e isso é a sexualidade.

Ainda no prefácio, Mário Cordeiro fala também na questão da erotização do peito da mãe, por exemplo, e dos jogos de sedução com a figura paternal do sexo oposto…

Sigmund Freud também falava nisso. Isso tem que ver com a questão do desenvolvimento psicossexual da criança que começa por uma fase oral, em que toda a estimulação e todo o prazer da criança se centra na boca. Ela satisfaz a sua fome no mamar, no peito da mãe. Esse primeiro momento tem que ver com a relação que o bebé começa por criar com a mãe, que é a primeira relação que nós enquanto seres humanos temos com o outro. De seguida, a criança passa por um período em que começa a relacionar-se com os outros e há uma altura em que, por exemplo, as meninas tendem a ter uma preferência pelo pai e os meninos uma tendência para se aproximarem da mãe (complexo Electra e complexo de Édipo, respetivamente). Isso tem que ver com a experimentação dos papéis, com a descoberta de que existe outra pessoa para além da criança. Depois existe uma fase de latência, em que os meninos e as meninas passam por um período em que não existe um grande interesse um pelo outro, não há curiosidade, mas isso desperta na puberdade.

Faltou-nos aqui uma outra fase a seguir à oral, que é a anal, relacionada com a altura em que as crianças controlam os esfíncteres (e é uma coisa que, normalmente no desenvolvimento, lhes é gratificante). Esta é a altura em que se mudam as fraldas e na qual eles seguram o cocó. Isso são zonas de prazer para a criança porque são coisas que elas são capazes de controlar. Se houver um desenvolvimento adequado, a criança vai passar por estas fases todas e vai construindo a sua personalidade. Se houver alguma falha no desenvolvimento da criança, poderá haver algumas perturbações quando for adulta.

Que tipo de perturbações?

Depende. Podemos estar aqui a falar de questões relacionadas com o outro. Nós sabemos que as pessoas que tiveram más experiências do ponto de vista da vinculação — pessoas cuja relação com a mãe não foi sólida ou segura — podem ter uma tendência para serem adultos com dificuldade em relacionarem-se com os outros. Existem muitos problemas ao nível do relacionamento com o outro que têm como base as relações de infância, aquilo que aconteceu com os nossos progenitores e com a nossa família. Cada vez mais se sabe que os primeiros anos de vida são muito importantes: as experiências que temos nos primeiros três anos de vida são cruciais para o nosso desenvolvimento psicológico. A nossa personalidade começa-se a formar numa determinada altura, mas essas primeiras experiências são extremamente importantes.

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Uma das ilustrações do livro.

A questão da sexualidade é um tema que desperta curiosidade entre pais e filhos. Que tipo de perguntas é que as crianças fazem com mais frequência?

As crianças não são todas iguais. O que acontece é que quando começam a aperceber-se de que há outros seres diferentes, principalmente nas questões do corpo, começam a ter muita curiosidade. Aos dois, três anos — principalmente se lidarem com crianças de um género diferente — começam a perceber que não somos todos iguais. Depois há aquela altura em que as crianças começam a ir para a creche e a partilhar as casas de banho, assistem à mudança de fraldas umas das outras e realmente começam a ver que há ali algumas diferenças. Da mesma forma que fazem perguntas sobre outras coisas, também começam a questionar porque é que ele ou ela tem “isto aqui”. A criança consegue facilmente identificar que tem diferenças e é curiosa em relação a tudo o que a rodeia e começa a questionar os pais — há crianças que começam a questionar muito cedo. E a criança também começa a perceber que o corpo dela é diferente do dos adultos e é capaz de fazer perguntas como estas: “Porque é que o pai tem uma pilinha grande e o mano tem uma pilinha pequenina?” ou “porque é que a mãe tem sangue no pipi?”. Elas são naturalmente curiosas e são altamente observadoras.

Imagino que nem sempre seja fácil para os pais responder a estas questões…

Acho que os pais devem falar sobre estas questões como falam sobre outros temas quaisquer. Acho que o grande problema da sexualidade é as pessoas acharem que não se pode falar disto porque são coisas erradas. Também há uma coisa muito importante de se perceber: as pessoas não têm de ser forçadas a ter uma determinada postura. As pessoas não estão todas obrigadas a ser muito abertas e a falar todas de sexo como se falassem de culinária. O que é preciso perceber é que existem algumas questões que, se não forem abordadas com as crianças, podem colocá-las em risco. Porque se os pais não falarem com elas sobre os cuidados que devem ter quando vão à casa de banho ou os cuidados que têm de ter com o seu corpo perante outras pessoas… Se essas coisas não forem faladas com as crianças, facilmente elas podem ser um alvo numa situação de violência sexual.

Também é importante falar com as crianças sobre o seu corpo e respetivas satisfações. É normal que o menino queira mexer no pénis e que a menina queira mexer na vulva porque são zonas do nosso corpo que reagem ao estímulo. O prazer que o menino tem com quatro anos a mexer no pénis não é o mesmo prazer que um homem adulto tem. Estamos a falar de construções completamente diferentes do que é o prazer consoante as idades. Mas o que é certo é que se o menino mexer no seu pénis com quatro ou cinco anos, ele sente algo bom e agradável e por isso é que o faz, o que é uma situação muitas vezes constrangedora para os pais. O que é importante é que os pais façam uma autoavaliação de como é que eles se sentem em relação à sua sexualidade, porque o que verifico é que muitos pais não estão à vontade consigo próprios, logo não vão estar à vontade para responder às perguntas dos filhos. Uns nem sabem bem como responder e nem sabem as respostas, principalmente na adolescência.

O que é que os pais têm mais dificuldade em explicar?

Os pais têm muita dificuldade em falar não tanto com os mais pequeninos, mas sim com os adolescentes. Os pais acham que só vão falar com eles sobre prática sexual quando eles pedirem o preservativo ou quando elas já tiverem o período. As coisas não são assim: nós sabemos que estes assuntos devem ser falados como outros quaisquer. Se falamos que eles não devem consumir drogas ou álcool, porque é que não falamos sobre isto, sobre a prática sexual? Porque é que se espera para falar quando muitas das vezes já aconteceu? Os pais têm um medo terrível de dar um preservativo ao filho de 12 ou 13 anos, pensando que é por dar o preservativo que ele vai querer experimentar. Não! Quando falamos aos filhos sobre drogas e os seus perigos eles também vão a correr experimentar? A questão é que um rapaz não deve usar um preservativo pela primeira vez quando fizer sexo pela primeira vez. Ele deve experimentar colocá-lo para que, um dia que tenha a sua primeira vez, saiba como é que funciona.

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A sexualidade ainda é um tema tabu?

As pessoas têm muito medo de falar destas coisas, mas compreende-se. A minha mãe viveu na altura do Estado Novo, quando as mulheres não tinham qualquer capacidade para falar em sexualidade. Vimos de uma situação de grande constrangimento e onde tudo era proibido. Os homens há cerca de 40 anos eram incentivados a procurar o sexo pago para não fazerem com as mulheres coisas que eram consideradas imorais. Nós temos esta herança. Isto não se consegue descontruir em 10 ou 20 anos. É normal que eu tenha mulheres avós que não consigam falar com as netas sobre período, sobre namorados…

Mas como profissional incentiva os pais a terem uma maior abertura face a estas conversas?

Eu incentivo, mas o nosso primeiro objetivo é ajudar os pais a conseguir fazer isso de forma descontraída e sem dificuldade, porque eu sei que existem muitos pais que têm dificuldade em falar destes temas precisamente porque não conseguem lidar com as temáticas — “Como é que eu agora vou falar com a minha filha sobre homossexualidade?”. Quando começamos a trabalhar com os pais percebemos que muitas vezes existe essa dificuldade porque eles próprios não fizeram uma autoreflexão sobre estas temáticas na sua própria intimidade. Se os pais não respondem aos filhos, as crianças só precisam de olhar à sua volta para encontrar as respostas. O problema é que às vezes elas vão buscar as respostas a sítios onde estão incorretas ou são inadequadas.

É precisamente nessas circunstâncias que o livro A Viagem de Peludim parece ser tanto para pais como para filhos…

Sim. Havia algumas temáticas que nós identificámos como sendo difíceis de falar — de onde vêm os bebés ou até a questão de os pais chamarem nomes aos genitais que não sejam os corretos. Isso são temas sobre os quais as crianças, dentro da faixa etária do livro (dos três aos oito anos), mais perguntam. Então, tentámos construir uma história que abordasse essas questões, mas que depois com uma ferramenta para os pais, que é o guia, tivesse umas notinhas que permitissem aos adultos — de acordo com a curiosidade e a maturidade das crianças, bem como a vontade dos pais — explorar mais alguma coisa. Porque há crianças que podem ficar satisfeitas simplesmente com uma justificação e há crianças que querem ir mais além. Nesse contexto, podemos ajudar os pais.

Nós quisemos acima de tudo respeitar o espaço das famílias porque nós não podemos estar a lançar um livro onde queremos respeitar o outro e a diversidade e, depois, desrespeitar a opinião das famílias — e não só temos famílias que são mais conservadoras, como temos muitos pais que são contra a educação sexual nas escolas, que dizem que não querem que os filhos estejam em sessões onde se fale sobre sexo porque isso é um assunto que deve ser falado em família. Temos um guia para os pais e um guia para os professores porque também pretendemos que o livro seja uma ferramenta para poder ser trabalhada em sala de aula.

É pilinha e pipi ou pénis e vulva? Os pais referirem-se ao pénis como pilinha é algo errado?

Não é a questão de ser errado. Muitas vezes pergunto aos pais “O que chamam a isto?” e mostro a mão. Eles respondem “mão”. Depois pergunto porque é que chamam pilinha ao pénis. Tem muito que ver com o facto de, mais uma vez, os genitais serem uma zona do corpo que é tabu. Nós ensinamos muitas vezes as crianças — até para a questão da prevenção do abuso — os nomes corretos do corpo e depois explicamos às mais pequeninas que a zona dos genitais são as partes íntimas e que precisam de estar protegidas, que é por isso que usamos cuecas e é por isso que elas estão por baixo da roupa. E há uma coisa muito importante — muitas vezes dizemos às meninas que elas têm o pipi, mas o que é o pipi? Depois, quando exploramos isso, percebemos que elas identificam o pipi como a parte de fora, o conjunto. Para nós, mulheres, isto é muito importante. Porque uma coisa é a nossa genitália externa, a vulva, outra é a vagina. Dizer que os homens têm pénis e que as mulheres têm vagina é uma coisa muito redutora porque as mulheres não têm só uma vagina — a vagina é um canal que fica dentro da mulher. O que nós observamos nas mulheres é a vulva. Se a criança não conhecer o seu corpo não vai poder defender-se numa situação de violência sexual, não vai poder identificar o que aconteceu. Se nós conhecermos o nosso corpo, mais facilmente vamos conseguir falar sobre ele. É nesse aspeto que acho que é preciso capacitar as crianças para os nomes certos para conseguirem, desde cedo, falar sobre as coisas.

O livro é aconselhado a crianças dos 3 aos 8 anos. Não é um leque muito abrangente de idades?

É, é um leque muito abrangente. Para os mais pequeninos a história conta-se pelas imagens — não é para os pais pegarem no livro e lerem como se fosse uma história contínua. É um livro para os mais pequenos irem explorando as imagens e para despertar conversas sobre elas, como por exemplo aquela em que o pai está a aspirar a casa. Essas questões de género podem ser trabalhadas desde os três anos. Tentámos que as imagens fossem interessantes para os mais pequeninos e, ao mesmo tempo, que a história (com as explicações do guia) fosse interessante para os mais velhos.

Há uma imagem no livro que mostra o corpo de um rapaz e de uma rapariga já crescidos, pretendendo ilustrar o que acontece anatomicamente à medida que o tempo passa. Não será demais para uma criança pequena ver essa imagem ou é tabu da nossa parte pensar assim?

Há uma coisa muito interessante: acho que hoje em dia qualquer criança tem acesso à nudez muito facilmente e é importante que elas percebam que nós não somos todos iguais. Há mulheres com mamas maiores e homens com pénis mais pequenos. Os pais não se devem despir à frente dos filhos se não se sentirem à vontade, mas têm que, de alguma forma, evitar passar para as crianças a ideia de que a nudez é uma coisa errada e uma coisa feia. Daí é que vêm muitos dos problemas que temos com a nossa imagem corporal, a dificuldade que nós temos em despir-nos à frente dos nossos parceiros ou parceiras. Todas estas coisas vêm do que se ensina na infância, às vezes de forma indireta. Uma mãe que diz a uma criança “não mexas na pilinha senão ela cai”… Há coisas tão erradas ou tão negativas que se dizem às crianças que não traumatiza todas e nem causa problemas em todas, mas causa problemas em algumas. Eu acho que a imagem a que se refere — em que as personagens dizem o que vão ter quando forem grandes, seja pelos ou maminhas — já prepara as crianças, porque elas sabem que lhes vai acontecer alguma coisa. Às vezes os pais não falam sobre estas coisas com as crianças. Eu ainda tenho meninas que lhes aparece o período e elas não sabem o que aquilo é, em 2016.

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No livro há uma óbvia (des)contrução dos estereótipos associados à identidade de género. Porquê tanto enfoque nesta temática?

Eu acho que nunca se falou tanto desta questão como prevenção da violência. As crianças têm de ter liberdade para fazerem o que desejam e o que as deixa felizes, e isso não deve ser condicionado pelo género. Posso contar uma experiência que me fez pensar muito quando comecei a trabalhar: uma vez fiz uma atividade sobre brinquedos e vi miúdos com cinco anos a dizer que não podiam brincar com aquilo porque era algo de menina. Cheguei a perguntar: “se pudesses, gostavas de brincar?”. Um respondeu “talvez, mas acho que os meus pais não iam deixar.” E as próprias crianças não deixam: eu assisti a meninas que muitas vezes eram as primeiras dizer “tu não podes dar banho ao bebé porque és menino”, etc. Como é que uma criança de três anos diz isto?

Mas porque é que este debate é cada vez mais importante?

Cada vez mais temos percebido que determinados comportamentos de violência têm como base estas questões de género, como por exemplo a violência doméstica. Os estudos levam a perceber que só podemos melhorar a perceção e o respeito pelos outros desde muito cedo se ensinarmos as crianças que somos iguais… Não é bem iguais, mas que temos os mesmos direitos, as mesmas oportunidades. É muito importante abordarmos estas questões com os pais — eles sofrem imenso quando projetam num bebé determinadas expetativas e a criança, depois, não é assim. Os pais ficam muito preocupados quando as crianças não correspondem às suas expetativas. A orientação sexual de uma criança não se constrói nos primeiros dois ou três anos de vida. Não é por um menino brincar com um pónei cor-de-rosa que vai ser gay, como muitas pessoas acreditam.

Ainda há pessoas que pensam assim e não tem que ver com escolaridade. Não são as pessoas menos informadas que pensam assim. Tenho casos de mães que foram às compras com os meninos que acabaram por pedir uma boneca e que, quando chegaram a casa, os pais queimaram-nas nas braseiras. Acontece os filhos estarem a chorar e os pais darem-lhes um estalo e dizerem “cala-te, não és nenhuma menina para estares a chorar”. Que homens vão ser estes, que não lhes permitiram chorar ou ser sensíveis? É neste tipo de coisas que temos que ajudar os pais a pensar. Se queremos que os nossos filhos sejam mais felizes temos de equacionar a forma como equacionamos a sua educação. Será que não estamos — seja por medo, seja por desconhecimento — a condicionar a felicidade das nossas crianças?

Como vê a educação sexual nas escolas e na sociedade?

Neste momento, a educação sexual nas escolas, e segundo o meu conhecimento, é muito pouca. Os professores dizem muitas vezes que não têm acesso a formação na área. As crianças e os jovens querem saber muito mais do que aquilo que é explorado na escola. Só que não existe formação, não existem materiais para se trabalhar nas escolas. Existe, sim, uma grande lacuna nesta área. Acho que a educação sexual é uma coisa tão completa para a construção da nossa personalidade e fica assim, um bocadinho deixada ao abandono. E porque a educação sexual não é só falar de sexo e de genitalidade, deveria ser-lhe dada mais importância. Acho que a educação sexual tem de começar na família. Também acho que deve estar na escola, mas as pessoas devem ter muito cuidado para não conduzirem as crianças ou os jovens a determinados conceitos e é fácil um professor emitir uma ideia ou um preconceito em relação à sexualidade, e os professores têm de ser trabalhados para falar destes temas sem criar juízos de valor e aí é que está a dificuldade da educação sexual. As pessoas têm de pensar que não se vai falar sobre isto quando aparecer o período à menina ou quando o menino tiver uma noite em que os lençóis fiquem molhados. Aí já é tarde demais.