O conselheiro de António Costa, e responsável pelas relações internacionais do Partido Socialista, Porfírio Silva, considera que a União Europeia está a ser gerida pela direita, não aceitando alternativas, e acusa, em entrevista ao jornal i, na sua edição em papel, funcionários europeus de estarem a “envenenar” a comunicação social contra Portugal.
“Nós corremos o risco de que a União Europeia se transforme numa União Soviética sem KGB”, afirmou o responsável do PS, explicando que “a União Europeia, apesar de reconhecer a diversidade dos países, de ter várias instituições, de contar com várias forças políticas, acaba na prática a ser gerida por uma ideologia dominante que não aceita alternativas e mesmo por uma espécie de novo partido dominante”.
A direita europeia, organizada no PPE, acaba por controlar governos, acaba por ter uma força desmesurada na Comissão Europeia (…) e a certa altura é mais importante saber o que decidem os líderes do PPE nas reuniões preparatórias do Conselho Europeu do que esperar para saber o que decidem as instituições.”
Além disto, Porfírio Silva aponta para outro elemento perturbador que se prende com a burocracia, mais uma vez comparando a UE ao Estado soviético, onde a “questão dos direitos e dos deveres [acabava] por ser reduzida a um funcionamento maquinístico”. Muitas vezes a UE transforma discussões políticas em discussões técnicas e burocráticas (fazendo descer a conversa do comissário para o funcionário que segue o dossiê), numa tentativa de “esconder uma coisa: nós já temos a nossa opinião e não queremos discutir isso”.
O conselheiro de António Costa afirma ainda que “há responsáveis em Bruxelas que têm andado a chamar jornalistas para, em off, envenenar a comunicação social contra Portugal, mostrando documentos que deviam ser reservados e dando pretensas explicações que são afinal falsidades”.
“Funcionários públicos europeus, pagos para servir o bem comum europeu, não deveriam deixar-se instrumentalizar, não deveriam deixar-se transformar em armas de arremesso da direita europeia”.
“Estamos felizes que tenhamos inventado a tal geringonça”
Sobre os acordos do PS à esquerda, para conseguir formar Governo, Porfírio Silva acredita que “a História dirá mais tarde que os acordos à esquerda foram um momento relevante da nossa democracia pós-25 de Abril”.
“Sim, a maioria parlamentar na qual o governo se apoio na Assembleia da República não é uma máquina perfeita e ainda bem que não é”, começou por dizer o conselheiro. “Estamos felizes que não tenhamos inventado uma máquina perfeita, uma máquina de guerra, que tenhamos inventado a tal geringonça, que não é perfeita é um instrumento democrático”, acrescentou.
Mudando para o assunto das Presidenciais, Porfírio Silva, que começou por dizer que não queria “desculpar” os resultados do PS “com os outros”, lá referiu que “Marcelo Rebelo de Sousa beneficia de anos e anos a fio de publicidade gratuita na televisão”, para depois dizer que o partido “começou por ter dificuldade porque havia vários candidatos possíveis que não quiseram ser candidatos” como António Guterres, António Vitorino e Jaime Gama.
Sobre uma eventual segunda volta, o conselheiro de António Costa acredita que “não houve por causa dos episódios da última semana de campanha”, especificamente as notícias em torno das suvenções. “Registo que o único que ganhou com isso foi Marcelo Rebelo de Sousa. Estou absolutamente convencido que se não tivesse havido esse episódio naquele momento, Marcelo teria sido obrigado a ir à segunda volta”, afirmou.