Luís Marques Mendes criticou o presidente da República, Cavaco Silva, pelo excesso de condecorações concedidas na última semana. Apesar de reconhecer que Cavaco atribui menos condecorações que outros presidentes, o ex-líder do PSD acredita que o presidente tem exagerado nos seus últimos meses em Belém.

“Um exagero banaliza e vulgariza. Não se percebe o critério. Por exemplo, eu via há uma semana, duas semanas, não interessa, atribuída uma condecoração a alguém que foi governante durante quatro meses. Meses. Sei que ser governante é um serviço público, mas quatro meses é um servicinho, um serviço mínimo”, justifica este domingo no seu habitual espaço de comentário na SIC. Ele espera mais “contenção” de Marcelo Rebelo de Sousa.

A afirmação faz referência a Luís Campos e Cunha, ex-ministro das Finanças de José Sócrates, homenageado na última semana pelos serviços prestados durante quatro meses como titular da pasta das Finanças, mas também pelo seu papel na sociedade. Mendes não falou contudo da condecoração a Sousa Lara, o secretário de estado que impediu a candidatura a um prémio literário de José Saramago, mas elogiou a distinção a Castelo Branco, uma das vítimas das FP25.

Em relação às críticas diretas que António Costa fez à atuação de Carlos Costa na negociação sobre a situação dos lesados do BES, Marques Mendes afirma que o primeiro-ministro “não devia ter dito o que disse”, porque “estas coisas não se tratam na praça pública por muitas razões que ele possa ter de queixa”.

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“O objetivo de António Costa era fragilizar mais o governador para sair. Os lesados do BES foram uma espécie pretexto para este efeito”, afirma. No entanto, acredita que o governador do Banco de Portugal recebeu “um presente inesperado” que reforçou-lhe o lugar.

Carlos Costa se pensava sair, agora já não sai. Primeiro porque não é pelo pé dele, por iniciativa própria, já está sendo visto que foi empurrado, obrigado a sair por razões políticas, logo não sai. Segundo, se agora sair, vai tudo dizer que o Governo deu uma machadada à independência do Banco de Portugal. (…) Mais ainda, o governador que viesse a seguir neste contexto era uma marioneta política”.

O comentador alertou ainda que a saída de Carlos Costa causaria um “pequena revolta no Banco Central Europeu”, porque o organismo é “muito cioso” da independência dos bancos centrais, além de que afetaria a imagem do país no mercado internacional, pois “Portugal seria visto como uma república das bananas”.

Há, contudo, outro assunto que preocupa Marques Mendes: a entrada de capital espanhol na banca portuguesa, ou como qualifica o comentador, a “espanholização da banca portuguesa”.

“Não tenho nada contra a Espanha, Agora, não acho bem os bancos portugueses estarem todos concentrados nos bancos espanhóis”, critica citando a questão da autonomia política como o eixo principal deste debate. “Num tempo de crise, quem é que vai decidir o crédito às nossas pequenas e médias empresas? A Espanha, Madrid?”, questiona.

Segundo fontes do ex-líder do PSD, nas próximas semanas “no BPI há decisões a tomar, provavelmente o banco espanhol La Caixa vai ficar com o BPI”.

Por fim, Marques Mendes elogia o convite que António Costa fez a Cavaco Silva para presidir um Conselho de ministros. “É um gesto muito bonito, muito correto e politicamente com muito significado”, afirma.