A entrada de Maria Luís Albuquerque para a comissão permanente de Pedro Passos Coelho, como vice-presidente do PSD, caiu mal em muitos dirigentes do partido com que o Observador conversou ao longo da noite de sábado, na nave dos desportos em Espinho, onde decorre o 36.º Congresso do partido. “Um escândalo!”, afirmou um dirigente distrital habitualmente alinhado com Passos. Na sua opinião, partilhada por outros congressistas que também não quiseram ser citados, a polémica do emprego da ex-ministra das Finanças numa empresa da área financeira torna esta escolha tóxica. Apesar de Maria Luís não estar a violar a lei das incompatibilidades, o mesmo congressista considerou que Passos Coelho “está a provocar o partido, mas mais ainda o país”.

São poucos os congressistas que dão a cara por estas críticas. José Eduardo Martins, que se assumiu como oposição interna, comentou ao Observador com ironia: “Quem escolhe é o Pedro Passos Coelho. Ele escolheu, ele é o responsável”. Sugere que será responsável pelas consequências. Mas Pedro Duarte é mais claro e, quando questionado pela SIC sobre se teria escolhido Maria Luís, é perentório: “Para ser completamente sincero não, optaria por uma lógica de renovação dos protagonistas”, disse.

Ribau Esteves, presidente da câmara de Aveiro, é mais direto: “Não acho uma boa solução, mas respeito o líder”. Para este ex-secretário-geral do PSD, o problema não tem a ver com o novo emprego da ex-ministra: “Não acho que Maria Luís Albuquerque tenha as competências políticas de combate para um partido que está na oposição”. E acrescenta: “Devia ter renunciado à atividade de deputada. Eu como autarca não posso acumular outras funções.”

Muitos consideram que se manifestou mais uma vez a proverbial tendência de Passos Coelho para a teimosia. “É a cara do Passos. Quanto mais batem numa pessoa, mais ele a segura”. É o que o leva a tomar decisões como esta, fazendo o contrário do que seria politicamente correto. “É uma loucura”, comentava por sua vez um deputado com o Observador. “A malta acha que não havia necessidade de fazer isto. Acham que é o Passos a apoiá-la. É o que todas as pessoas com que falo me dizem”.

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Um antigo alto dirigente do partido que ocupou diversas posições no governo faz uma análise mais abrangente: “A equipa é fraca e aquilo é o rapar do tacho”. Passos Coelho fechou e não abriu. “Não deu qualquer sinal de abertura. Vê-se que já não tem base de recrutamento. Mais valia não ter mexido na Comissão Política”.

Enquanto um dirigente que se foi afastando de Passos com o tempo diz que o congresso foi “uma missa laranja”, os incondicionais elogiam as escolhas do líder. A ex-deputada Mónica Ferro afirma que a escolha de Maria Luís Albuquerque foi uma “prova de confiança”, porque a ex-ministra lidou com o problema das alegadas incompatibilidades “de forma transparente”.

O vice-presidente Marco António Costa aborda estas críticas dizendo que “isso é fogo-de-artifício”. E responde: “Não nos deixamos impressionar. Gostamos da festa mas não nos deixamos incomodar com as luzes.”

Luís Montenegro, líder parlamentar, argumenta que “é sinal de que está a premiar o mérito e a destacar as pessoas pelo trabalho”, e destaca a evolução de Maria Luís: “Antes de ir para o Governo era uma cara relativamente desconhecida, mas destacou-se e faz todo o sentido ir agora para a direção.”