O ex-secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Wengorovius Meneses, em declarações ao Observador, invoca a estabilidade e o sentido de Estado para não fazer mais comentários sobre os motivos da sua saída do Executivo: “Prezo muito a dignidade do Estado, do Governo e do exercício deste tipo de funções, bem como a estabilidade política, que tanta falta nos faz neste momento, de modo que não farei mais qualquer comentário”.

A justificação que se conhece, para já, foi aquela que o próprio apresentou na sua página de Facebook, já passava da meia-noite desta quarta-feira. O ex-governante publicou uma mensagem onde se pode ler que saiu “em profundo desacordo com o Sr. Ministro da Educação no que diz respeito à política para a juventude e o desporto, e ao modo de estar no exercício de cargos públicos”, sem, contudo, entrar em mais detalhes.

Na tarde de ontem, João Wengorovius Meneses já não esteve na primeira reunião plenária do Conselho Nacional de Desporto desde a tomada de posse do novo Governo. Foi o próprio ministro, Tiago Brandão Rodrigues que substituiu o secretário de Estado.

Fontes do setor do desporto, contactadas pelo Observador, sublinharam que o ex-secretário de Estado tinha a fragilidade de não ser do setor e de não conhecer bem os dossiês, nem as pessoas. Ao passo que o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, além de ter interesse na área, foi adido da Missão Portuguesa nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e “acha” que percebe de desporto, o que terá provocado alguma fricção entre os dois. O Ministério da Educação recusou-se a comentar a saída.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Originalidade em Belém: substituto conhecido antes de se saber da demissão

A demissão do secretário de Estado da Juventude e do Desporto teve um aspeto inédito: para além da original comunicação de Wengorovius no Facebook, o nome do substituto foi conhecido antes de se saber que o antecessor tinha saído. O nome do socialista João Paulo Rebelo foi anunciado no site da Presidência da República em substituição de João Wengorovius Meneses, na terça-feira à noite, sem que o Governo antes tivesse dado conhecimento público desta baixa na equipa do Ministério da Educação.

O Observador sabe que o Presidente da República foi informado, durante a visita a Estrasburgo, do nome do novo governante. Poucos minutos depois, o anúncio foi colocado no site da Presidência, de forma que João Paulo Rebelo pudesse tomar posse com o novo secretário de Estado da Cultura esta quinta-feira. Uma vez que o primeiro-ministro comunicou a saída de Wengorovius e indicou de imediato um novo responsável para o cargo, o Presidente limitou-se a aceitar a decisão e acabou por ser ele dar as duas notícias (da demissão e da nomeação) na página da Presidência. Em Belém não se deu relevância a esta originalidade.

PSD e CDS vão chamar ex-secretário de Estado e ministro ao Parlamento

Por terem dúvidas sobre os motivos concretos da saída e a forma como a mesma se soube, os grupos parlamentares do CDS-PP e do PSD já anunciaram que vão chamar o ex-secretário de Estado da Juventude e Desporto e o ministro da Educação ao Parlamento.

“Não é só a demissão que justifica essa chamada, mas as razões invocadas pelo próprio secretário de Estado para se demitir. Quando um secretário de Estado se demite porque diz que discorda da condução das duas políticas que tinha sob tutela — a juventude e o desporto — e que para além disso discorda da forma de estar do seu ministro no exercício de funções públicas é de uma gravidade que naturalmente justifica essa presença e nós ainda hoje apresentaremos o requerimento a que ambos venham ao parlamento prestar declarações”, anunciou, esta manhã, o vice-presidente da bancada democrata-cristã João Almeida.

O centrista aproveitou ainda para sublinhar que o “ministro da Educação tem sido desde o início das suas funções um fator de instabilidade neste Governo”.

Também Simão Ribeiro, líder da JSD, disse que o PSD viu com “enorme preocupação” a demissão de João Wengorovius Meneses, “para mais nos molde em que é feita e com as declarações que foram proferidas aquando da sua saída”. “Cabe-nos a nós exigir que venham clarificar o que quis dizer com aquelas declarações e qual a estratégia que querem seguir” nas áreas do desporto e da juventude.

O deputado social-democrata questionou ainda a escolha do substituto, o socialista João Paulo Rebelo, que foi presidente da Movijovem, durante o tempo de governação de José Sócrates.