O empresário Vasco Pereira Coutinho, responsável por alguns dos principais projetos imobiliários de Lisboa através do Grupo Temple, detém um conglomerado de sociedades offshore criadas nas Bahamas, Ilhas Virgens Britânicas, Malta e no estado norte-americano do Nevada. De acordo com o semanário Expresso e com a TVI, os meios de comunicação social portugueses que fazem parte do Consórcio Internacional de Jornalistas que investiga os Panama Papers, o património detido por essas empresas resultará de poupanças pessoais do gestor.

O offshore central do conglomerado de Vasco Pereira Coutinho chama-se Goldeneye Finance Services e foi criado em 2009 nas Ilhas Virgens Britânicas. Esta sociedade detinha a Try-Vin Holdings (Malta), que, por seu lado, era dona da Valco Holdings (Ilhas Virgens Britânicas) e era proprietária de 90% da sociedade de direito português Cidade do Porto — Investimentos Imobiliários. Todas aquelas sociedades offshore terão contas bancárias abertas no Banco Comercial Português.

A Valco, por exemplo, investiu cerca de 180 mil dólares (157,2 mil euros) para comprar 50% da sociedade Prominvest — construtora que desenvolve um projeto de habitação, escritórios e comércio chamado Muxima Plaza, localizado no centro de Luanda e avaliado em mais de 198 milhões de dólares (cerca de 175 milhões de euros).

Filipe de Botton desmente Expresso

O Expresso e a TVI revelaram mais nomes de empresários portugueses que constarão do arquivo documental do escritório Mossack Fonseca, sendo que alguns deles não detêm sociedades offshore.

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Filipe de Botton e Alexandre Relvas (acionistas do Observador) são referidos pelo semanário como tendo feito um negócio de venda da titularidade de uma sociedade de direito português com um offshore do Grupo Espírito Santo. Trata-se da Eurobarcelona, que, após ter sido criada em 2004 em Cascais por Filipe de Botton, Alexandre Relvas e Carlos Monteiro, terá sido vendida em 2007 ao GES. De acordo com o Expresso, cerca de 90% da sociedade terá sido adquirida por um offshore chamado Heydell Real Estates, representado por José Castella — que era controlador financeiros do Grupo Espírito Santo — enquanto que os 10% remanescentes terão sido comprados por Caetano Beirão da Veiga, um dos homens que lidera atualmente o que resta do grupo da família Espírito Santo.

Contactado pelo Observador, Filipe Botton explicou que “a Eurobarcelona, uma sociedade de direito português e não uma sociedade offshore, foi criada em 2004 para adquirir um imóvel na rua Rodrigo da Fonseca, em Lisboa. Tratava-se de um prédio que pertencia à Fundação Sardinha. A nossa ideia passava por transformar aquele imóvel num prédio residencial. Tentamos desenvolver o projeto, incorrendo em despesas, mas não conseguimos chegar a acordo com a fundação. Foi nessa altura que surgiu a Espart, que se mostrou interessada e conseguiu adquirir o imóvel à Fundação Sardinha”, afirma. A Espart era uma sociedade do BES com sede em Lisboa que se dedicava à comercialização de ativos imobiliários, gerindo diversos fundos imobiliários.

Filipe de Botton nega que alguma vez tenha negociado a Eurobarcelona com uma sociedade offshore. “Criamos uma empresa em Portugal e vendemos a Eurobarcelona a uma sociedade portuguesa: a Espart. O que a Espart fez com a sociedade não sei. É como vender um carro a alguém: depois de vendermos o carro, não sabemos o que o comprador faz com a viatura. Aqui é a mesma coisa”, enfatiza.

Confrontado com o facto de o Expresso afirmar que Botton e Alexandre Relvas fizeram negócios com uma sociedade offshore, o gestor afirmou: “O Expresso está a mentir e a usar os nossos nomes ilegitimamente para vender jornais”.

A decoradora, o grupo Lena e o BPN

A decoradora Graça Viterbo e o seu marido, Miguel Vieira da Rocha, criaram uma sociedade offshore chamada Seashore Holding, Ltd nas Ilhas Virgens Britânicas. Segundo explicou Miguel Vieira da Rocha, a empresa serviu para ajudar a internacionalização da Viterbo Interior Design, nomeadamente com a sucursal aberta em Singapura. “A empresa em Portugal não detém qualquer sociedade offshore. A Seashore já não se encontra ativa”, afirmou ao Expresso.

Já os irmãos Barroca, do grupo Lena, detinham a Udun Investments, Ltd., também das Ilhas Virgens Britânicas. Segundo garantiu fonte oficial daquele grupo de construção, a explicação para esse facto é simples: “Quando o Lena Hotéis comprou em 2008 uma unidade hoteleira no Natal (Brasil) comprou a sociedade que a detinha (a referida Usun Investments)”, afirmou. A mesma fonte oficial acrescentou ainda que o “grupo Lena assegura que hoje não tem quaisquer interesses em empresas offshore“. A Udun terá sido dissolvida em maio de 2014 por ordens de António Barroca e Joaquim Barroca (arguido na Operação Marquês).

Luís Caprichoso, um dos homens fortes do já desaparecido Banco Português de Negócios, participou entre 1999 e 2001 no offshore Multiarea Consultancy Limited (Bahamas). Paulo Farinha Alves, advogado de Caprichoso, diz que a sociedade já tinha tinha sido referenciada no caso BPN mas não ocupa um papel central naquele processo judicial.