Os investigadores da Universidade de Liège (Bélgica) e do MIT de Boston (Estados Unidos) acabam de anunciar a descoberta dos três planetas com maior potencial para albergar vida extraterrestre na Via Láctea alguma vez encontrados na história da astronomia. Os corpos celestes que ainda não têm nome – são chamados pelos cientistas como TRAPPIST-1, TRAPPIST-1b e TRAPPIST-1c – orbitam uma estrela a 40 anos-luz da Terra, têm tamanhos semelhantes à Terra e ficam na posição relativa da constelação de Aquário.

Os planetas, observados pela primeira vez através de um telescópio localizado no Chile, têm condições extremamente parecidas com as da Terra. A distância à estrela que orbitam – também ela uma estrela anã, a mesma categoria a que o Sol pertence – permite-lhes ter condições de temperatura e exposição à radiação idênticas às do nosso planeta. Mas nem tudo é semelhante: a estrela é uma estrela anã ultrafria, tão pequena que não pode ser observada a olho nu. É pouco maior que Júpiter.

É a primeira vez que se encontra um sistema planetário em redor de um corpo com estas características (15% das estrelas da Via Láctea são anãs ultra frias). Normalmente, os exoplanetas descobertos pelos cientistas são sempre demasiado pequenos e acabam por ser ofuscados pela luz da estrela que orbitam, impedindo o seu estudo à distância. E é precisamente o estudo da atmosfera destes planetas que vai comprovar se eles são ou não habitáveis, porque dará informações sobre a estrela que orbitam, explica à Nature Michaël Gillon, um investigador envolvido na descoberta. No período de translação de um planeta à volta de uma estrela, a atmosfera bloqueia parte da luz que chega à superfície. Esse efeito depende da natureza da atmosfera: estudá-la de acordo com vários longitudes de onda vai permitir saber qual é a sua composição.

Ora, quanto mais pequena for a estrela em causa, maior a fração que a atmosfera do planeta consegue cobrir quando passa “à frente” dela. Além disso, o facto de a estrela ser pequena garante que o período de translação dos planetas também é menor. Sendo assim, os planetas em causa passarão mais vezes entre a Terra e a dita estrela, permitindo aos cientistas estudá-los com maior precisão. Se for detetada a presença de metano, ozono ou dióxido de carbono nas atmosferas do planetas, então eles poderão albergar vida. Mas esses são dados que os cientistas ainda não têm.

Dois dos planetas encontrados neste sistema estão muito perto da estrela que orbitam: um deles fica a 1,1% da distância entre a Terra e o Sol, enquanto outro fica a apenas 1,5%. Isto indica que esses dois planetas mais próximos da estrela poderão receber duas a quatro vezes mais radiação do que o nosso planeta recebe do Sol e isso significa que serão quentes demais para que um ser humano pudesse viver lá: é praticamente impossível que houvesse água em estado líquido na superfície.

Mas há um pormenor que os cientistas estão a levar em conta: estes planetas têm sempre a mesma face virada para o Sol. A outra face pode mesmo assim ser habitável e ter a temperatura certa para que exista água. É no terceiro planeta que estão as esperanças dos investigadores. Esse planeta recebe pouco menos da radiação que a Terra recebe do Sol, por isso pode mesmo ter água líquida na superfície.

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