O presidente do Centro Nacional de Cultura (CNC) e administrador executivo da Fundação Gulbenkian, Guilherme de Oliveira Martins, afirmou este sábado na Batalha que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) “está aquém das suas potencialidades e responsabilidades”.
Numa conferência no Mosteiro da Batalha, Guilherme de Oliveira Martins disse que “a CPLP é uma instituição muito interessante”, mas “está claramente aquém das suas potencialidades e responsabilidades” na defesa da língua portuguesa.
“Há um campo extraordinariamente importante que tem de ser desenvolvido. Temos de trabalhar e trabalhar em conjunto [na CPLP]”, apontou, lembrando que “Portugal é um país pequeno, com recursos mais limitados que outros porque não somos um país rico, mas com responsabilidades de grande potência”, concretamente na salvaguarda do português no mundo.
O presidente do CNC recusou-se a comentar a entrada da Guiné-Equatorial na CPLP – “é uma questão controversa” – mas lembrou que, na Universidade de Pequim, na China, um dos centros mais desenvolvidos é o que se dedica às línguas ibéricas.
“Isso não acontece pelos nossos bonitos olhos. É pelos interesses económicos. Preocupam-se tanto pelo conhecimento das línguas ibéricas porque são línguas de grande desenvolvimento no mundo. Se não fossem, não haveria interesse”, notou.
Guilherme de Oliveira Martins recordou que o português “é a língua mais falada no hemisfério sul e a terceira língua europeia mais falada no mundo”: “Hoje são 250 milhões de pessoas, mas à medida que a estatística linguística progride, mais falantes se descobrem, graças sobretudo à concentração territorial na América do Sul, nomeadamente no Brasil, um caso singularíssimo”.
Até ao final do século, explicou, apenas cinco línguas se vão desenvolver de forma global: mandarim, hindi, inglês, castelhano e português. “No final do século haverá pelo menos 400 milhões de falantes de português. Até 2070, o maior crescimento do português irá verificar-se na América do Sul. Entre 2070 e 2100 será em África, designadamente na linha Huambo – Benguela”, frisou o presidente do CNC.
“Daí a necessidade que temos de preservar a língua. Falar bem a língua, cultivar a língua, não é questão de gramáticos, é questão de cidadãos. Porque é o modo de nos fazermos entender. É um dever”, disse na Batalha. O antigo ministro da Educação de António Guterres (entre 1999 e 2000), sublinhou ainda que “há poucas culturas que conseguem projetar-se em todos os continentes”, como acontece com a portuguesa:
“A nossa cultura projeta-se não pela capacidade de adaptação, mas pela capacidade de ir ao encontro dos outros e receber o contributo dos outros, enriquecendo a nossa própria perspetiva, a nossa própria cultura. A nossa identidade afirma-se aberta, complexa e diversa”.