Lisboa, neste momento, já é “um polo atrativo para o talento” tecnológico. Mas “ainda há muito a fazer”, ao nível das universidades, para que existam mais “miúdos de 17, 18 anos, interessados neste tipo de cursos”. Até porque, em Portugal, “ainda há muito o estigma de que um programador é um nerd, o que é uma estupidez, porque, hoje em dia, programar é quase como saber uma língua”, alerta Pedro Oliveira, cofundador da Landing.jobs, uma startup de recrutamento tecnológico que se prepara para montar a segunda edição do Landing.jobs festival, um evento que começou por ser uma feira de emprego e é, hoje, muito mais do que isso.
O Landing.jobs Festival já é um misto de conferência tech com feira de emprego, com Hackhaton, com festival de música. No ano passado, quando fizemos o festival, foi no sentido de lançar a marca para o mercado. Também foi na Marina de Lisboa, também houve algumas talks, mas foi uma coisa de pequena dimensão. Este ano é completamente diferente. Temos o dobro do espaço, o dobro das empresas, vamos ter oradores, painéis, talks, a Hackhaton que não tivemos o ano passado. O “core” do festival continua a ser a história do hiring [recrutamento], mas o objetivo foi internacionalizar, fazer uma coisa duas ou três vezes maior”, explica o responsável da Landing.jobs.
Pedro Oliveira nota uma grande evolução no interesse dos jovens formados em tecnologias de informação e comunicação (TIC) em seguirem a via do empreendedorismo. “Conheço pessoas que estão a acabar cursos e só querem ir para startups, o que é inédito. Há cinco anos não existia nada disto”, sublinha, destacando o trabalho de entidades como a Academia de Código, que estão “a ajudar imenso a produzir talento”. É preciso, no entanto, “um melhor trabalho de captura” de talento a nível das universidades, para “sensibilizar e incentivar mais pessoas a virem para estas áreas”.
Pode passar por coisas tão simples como as empresas juntarem-se mais ao Estado e oferecerem bolsas de estudo para estas áreas, oferecendo, por exemplo, as propinas do primeiro e segundo ano aos alunos. Com 100 mil euros já conseguíamos pagar propinas a muita gente. Teria um impacto que seria difícil de quantificar, mas passava uma mensagem de incentivo”, acrescenta.
Um festival que se quer com “impacto”
O festival decorre em Lisboa e começa esta sexta-feira, 3 de junho, terminando no dia seguinte. Terá oradores internacionais como Jamahl McMurran, head of talent da Seedcamp, Josep Oriel Lavado e Willem Isbrucker, da Booking.com, e Mike Sexton, head of insight da Web Summit, assim como oradores nacionais, que vão desde a venture developer da Faber Ventures, Sofia Santos, ao country lead da Airbnb, Ricardo Macieira, passando por Pedro Bizarro, cofundador e CSO da Feedzai, Miguel Santo Amaro, CEO da Uniplaces, Hugo Pinto, head of innovation EMEA da IBM UK, Cristina Fonseca, cofundadora da Talkdesk, e Ricardo Vice Santos, o português que desenvolveu uma app que já recebeu um investimento de 1 milhão de dólares.
O Ricardo Santos, da Roger, percebeu o conceito, não foi difícil trazê-lo. Vai estar num dos painéis, tem um percurso e uma história muito interessantes. Temos pessoas da IBM do Reino Unido, que vêm cá, temos pessoas da Booking.com, temos uma pessoa que trabalha na Automattic, criadora do WordPress, cuja equipa está totalmente remota, e que vai falar de como isso funciona. Todos os oradores que convidamos são pessoas muito tech“, sublinha o responsável, que acrescenta que, no evento, são esperadas “entre 1.500 a 2.000 pessoas”.
A ideia é que os painéis de debate “sejam úteis para quem lá vá. O objetivo é que quem vá saia dali com um impacto, seja positivo ou negativo: positivo no sentido de estou no caminho certo da minha carreira, negativo no sentido de estou a fazer as coisas mal e tenho de mudar“, explica o responsável. Outro dos objetivos passa por ligar pessoas a empresas, empreendedores a empreendedores — leia-se, criar um ambiente que favoreça que do evento nasçam negócios, parcerias e emprego para quem o procura.
Alguns dos clientes que temos agora foi porque foram ao festival no ano passado. Tem efeitos difíceis de quantificar [em termos de emprego], claro, mas temos uma forte componente de networking [criação de rede de contactos], vontade de juntar pessoas brilhantes com o objetivo de se conhecerem. O ambiente e contexto ajudam imenso, as pessoas podem estar a falar com outras pessoas com quem se calhar acabam a montar uma empresa, ou de quem se podem vir a tornar colegas”, diz.
No Landing.Jobs Festival estarão também pessoas que a empresa recrutou especificamente para o evento, vindos da Europa e América Latina. O objetivo é trazê-los para serem contratados por algumas das empresas presentes no evento — entre elas estão, por exemplo, a Smartbox, a OLX, a Feedzai, a KPMG, a Farfetch e a Deloitte Digital.
Fizemos uma competição para a Europa e outra para a América [latina]. Os candidatos fizeram testes técnicos e aos melhores págamos voo de avião e estadia aqui em Lisboa, mas para serem contratados pelas empresas que estão no festival. Os candidatos que vêm são 71 e quero mudar-lhes a vida a todos. Olhando só para feiras de emprego, nunca fui a nenhuma que pagasse a candidatos para irem”, sublinha o responsável.