O responsável editorial do Grupo Porto Editora, Vasco Teixeira, alertou para os riscos da medida que prevê a gratuidade e reutilização dos manuais escolares para o primeiro ano de escolaridade. Em entrevista no programa “Terça à Noite”, na Rádio Renascença, deixou ainda avisos ao ministério da Educação.

De acordo com Vasco Teixeira, existem “cerca de 600 livreiros que vendem bastantes livros escolares”. O responsável da Porto Editora indicou que o grupo está a tentar “determinar qual a percentagem do volume de negócios do escolar na venda desses livreiros, para ver como é que eles vão ser afetados por esta medida”, mas avisa que o número deve andar “muito próximo de metade, ou mais de metade nalguns casos, o que provavelmente levará ao encerramento da maior parte destas livrarias”.

Por isso, afirma, a medida poderá “criar mil ou dois mil desempregados”, e ainda “dificultar o acesso das famílias e das pessoas à cultura, em determinados locais”.

Vasco Teixeira diz ainda que a fragilização do mercado português levará a que as “editoras internacionais, que obviamente não sofrerão muito pela destruição do mercado português”, tomem “conta disto”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os alunos desfavorecidos “não vão ter os livros na mão quando se forem preparar para os exames”, porque “vão ser retirados no final do ano letivo para serem entregues a outros alunos no início do ano letivo seguinte”. Por outro lado, as famílias mais favorecidas “poderão adquirir os livros e outros materiais”, o que, na opinião de Vasco Teixeira, leva a uma situação de desigualdade.

O responsável da Porto Editora considera que o tema da gratuitidade dos manuais escolares “entrou na agenda aceleradamente, na negociação do acordo parlamentar”, e que “não estava no programa eleitoral do PS”. Vasco Teixeira disse, na entrevista à Renascença, que o assunto foi discutido “precipitadamente”.

“Parece-me que o Ministério da Educação foi condicionado nessa decisão, e que porventura não foram pesados todos os inconvenientes e todas as dificuldades”, diz o responsável editorial da Porto Editora. “Uma coisa é um aluno não ter interesse por uma determinada disciplina, ou não ter exames a essa disciplina, e os pais venderem o livro, ou emprestarem-no; e outra coisa é o livro fazer-lhe falta e ele não o ter. E isso é que eu acho que não pode acontecer”.

Sobre o ministro da Educação, Vasco Teixeira reconhece: “normalmente são bem-intencionados”. “Eu já lidei com 12 ministros diferentes”, revela, e “eles querem fazer bem pela educação, só que têm a sua visão pessoal das coisas”. O responsável da Porto Editora avisa que “o ministério da Educação não é a empresa do ministro”, e que os ministros “têm de saber gerar consensos, saber planear e implementar medidas para depois do seu mandato”.