Administradores a mais, eventuais conflitos de interesse, ausência de experiência bancária e um plano alternativo “urgente” à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD), caso o plano do Estado se revele “impraticável”. São estes os alertas do Banco Central Europeu (BCE) à situação que se vive atualmente no banco do Estado, revelou Marques Mendes, no comentário político que faz semanalmente na SIC
“Em virtude das significativas incertezas em torna da recapitalização do banco do Estado, a CGD necessita urgentemente de desenvolver e apresentar ao BCE um plano alternativo para potenciar a sua advocação de capital para a eventualidade de a recapitalização por parte do Estado acabar por se revelar impraticável”, escreveu o BCE na carta dirigida à CGD e que foi citada por Marques Mendes este domingo.
O comentador destacou mais três pontos que constam da carta de 8 de junho. Primeiro, o facto de o BCE alertar para a existência de 19 membros no conselho de administração da CGD, quando pede explicitamente que este conselho não ultrapasse os 15 membros.
“O BCE diz que acha isto um erro, que são demais e que não deve ultrapassar o número 15”, disse Marques Mendes.
Além de os nomes serem mais do que aqueles que a instituição europeia recomenda, o comentador destaca ainda o facto de o BCE se ter queixado de ter sabido dos nomes que compõem o novo conselho de administração, liderado por António Domingues, através da comunicação social portuguesa.
“É a primeira coisa estranha: a 8 de junho não havia nenhum nome no BCE, quando já tinha havido uma assembleia-geral da Caixa, convocada e desconvocada”, afirmou Marques Mendes.
O BCE alerta também para o facto de António Domingues acumular funções de Presidente do Conselho de Administração (Chairman) e Presidente da Comissão Executiva (CEO), quando a instituição europeia defende explicitamente que deve haver separação dos dois cargos.
O facto de alguns membros não executivos do novo conselho de administração da CGD não terem experiência no setor da banca também merece a atenção da instituição europeia.
“O BCE recomenda que os membros do conselho de administração, mesmo que sejam não executivos, tenham experiência na banca. Por isso, em que ficamos?”, diz Marques Mendes.
O quarto ponto apontado pelo BCE e citado pelo comentador político é o facto de poder haver eventuais conflitos de interesses nos nomes que compõe o novo conselho de administração. “O BCE diz que conheceu vários nomes através da imprensa portuguesa e que não pode haver aqui conflitos de interesse de qualquer natureza”, revelou o comentador, questionado se isto levará a que surjam eventuais alterações aos membros do conselho.
Marques Mendes acaba por concluir que há “um braço de ferro entre o BCE, por um lado, o Governo e o novo presidente da Caixa, por outro” e questiona quem irá ceder agora. “Acho que era útil haver aqui alguns esclarecimentos. Devia haver uma explicação preto no branco”, referiu.