Coletores de mel moçambicanos e tanzanianos conseguem comunicar com uma espécide de aves, informa um novo estudo intitulado “Reciprocal signaling in honeyguide-human mutualism”, publicado na revista Science.

Uma das espécies da família Indicatoridae conhecida em inglês como honeygides (“guias do mel”) ajudam os coletores da tribo moçambicana Yao e da tribo Hazda da Tanzânia a encontrar mel há várias gerações, como informa o estudo de Claire Spottiswoode e da sua equipa de investigação. Este caso de simbiose — relação entre dois seres vivos com vantagens para as duas partes — entre humanos e animais selvagens é bastante raro, informa também o estudo, segundo o El País.

O mel é um produto muito desejado por estas tribos e os seus habitantes descobriram uma forma de encontrar colmeias mais facilmente. Os nativos fazem o chamamento aos honeyguides, que respondem com um som “que só utilizam para ‘falar’ com humanos”, informa o documentário da BBC, cujo excerto se encontra reproduzido neste artigo.

Depois de ouvirem o chamamento, é comum as aves começarem a voar em direção ao local onde se encontra o alimento desejado: as colmeias. Os coletores devem então seguir o pássaro até que este mude o chamamento. Quando o piar muda, quer dizer que a colmeia se encontra mais perto.

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Os coletores procedem então à extração do mel de dentro das colmeias. Mas os “caçadores” não se podem esquecer do seu guia e, como agradecimento, devem deixar uma porção do mel que apanharam. Se não deixarem esta oferenda, da próxima vez “serão guiados até à gruta do leão”.

O que este novo estudo publicado na revista Science tentou descobrir foi se os honeyguides respondiam mesmo ao chamamento humano ou se apenas reagiam à presença de um ser humano.

Depois de gravar o chamamento — descrito no estudo como “um grunhido” — e de o testar juntos das aves, a equipa chegou a algumas conclusões.

33% - 66%

A probabilidade de um honeyguide guiar um humano duplica depois de ser feito o chamamento.

16% - 54%

A probabilidade de ser levado até um ninho mais que triplica, se o coletor entoar o chamamento.

Quando era empregue o chamamento, a probabilidade de ser guiado por um destes pássaros aumentava de um terço (33,3%) para dois terços (66,7%). A probabilidade de ser guiado até uma colmeia, por sua vez, aumentava dos 16,7% para os 54,2%, quando feito o chamamento.

Outro estudo, este feito na Tanzânia, mostra que o povo Hadza — retratado no documentário da BBC — também usa um chamamento, só que em vez de ser um grunhido opta por assobiar uma melodia aos pássaros.

A doutora Spottiswoode informou que a equipa gostaria de saber se os honeyguides aprenderam a reconhecer variações que os permitam identificar os melhores colaboradores de cada zona.