Era o único convidado socialista da Universidade de Verão do PSD e vestiu a camisola da equipa da casa. Num jantar-conferência com os jovens sociais-democratas, o ex-presidente da Assembleia da República identificou os problemas urgentes que a União Europeia atravessa, do brexit ao terrorismo, e deixou claro que Portugal não pode ficar de fora na busca de uma solução.

Num claro recado aos partidos da esquerda que suportam o Governo e que não apoiam o projeto europeu, Jaime Gama apontou o dedo aos que se fixam na “descrença, no desinteresse, na piada fácil, na reivindicação imediata” e na “repreensão oportunista”. “Os que não passam certidões de óbito à União Europeia são os que estão no bom caminho”, disse, piscando o olho ao partido da casa, tradicionalmente europeísta a par do PS.

Falando em terreno social-democrata, enquanto orador convidado do primeiro jantar-conferência da Universidade de Verão, que decorre até domingo em Castelo de Vide, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros socialista pediu “responsabilidade”, “consistência” e “substância” no caminho que Portugal deve fazer, a par dos restantes Estados-membros, para superar os desafios que se atravessam no caminho do projeto europeu.

“Estou certo de que Portugal deverá manter por muitos anos a articulação fundamental entre todos os que responsavelmente querem manter uma via europeia para o país, os que querem prosseguir ideias sobre a Europa e não repreensões oportunistas sobre as dificuldades da Europa”, começou por dizer, sublinhando que o Governo e os partidos que conduzem o país devem elevar Portugal à condição de “protagonista” da procura de soluções para os problemas da Europa e não devem “anexar o país à descrença, ao desinteresse, à piada fácil ou à reivindicação imediata”.

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A crítica chegou aos ouvidos do PCP e do BE, parceiros do PS no acordo de governação mas críticos convictos do tratado orçamental e das regras europeias. Para o histórico socialista o caminho não é por aí, mas é precisamente pelo sentido contrário. “O caminho tem de ser de consistência, de substância, e tem de ser responsável sobre a União Europeia”, disse, defendendo que Portugal não pode “ficar de fora”. O apelo, por sua vez, chegou direitinho aos ouvidos do chamado anterior arco da governação, isto é, PS, PSD e até CDS, que defendem a integração europeia e o cumprimento dos compromissos assinados com os parceiros europeus.

Este é um momento difícil para a UE, e nós que somos a favor da União Europeia e não desistimos, não passamos uma certidão de óbito à UE, nós temos a responsabilidade de trabalhar no sentido de apontar caminhos, estruturar respostas e intervir para que a UE siga em frente dando o seu grande contributo para que a comunidade internacional fique mais estável, segura e próspera”, disse.

Apesar de afastado da vida partidária, o histórico militante do PS aparece assim como uma voz mais europeísta numa altura em que o partido, a braços com comunistas e bloquistas, tem endurecido o discurso contra as instituições europeias. No congresso socialista de junho, várias foram as vozes que se levantaram para fazer voz grossa e punho fechado à Europa, tendo sido Francisco Assis a voz que apareceu isolada no papel inverso. Na altura, Jaime Gama não interveio nem esteve presente no conclave socialista.

Certo é que aquele que chegou a ser apontado como um dos possíveis candidatos socialistas às presidenciais do passado mês de janeiro, está afastado da vida político-partidária e assim vai continuar. Perante a plateia de jovens sociais-democratas que o convidou para dar uma espécie de aula sobre os desafios da Europa, Gama deixou claro que a sua vida política está “encerrada”. “Foi encerrada em 2011, agora as contas estão todas saldadas”, disse, sublinhando que isso não significa que não continue a ter “opinião” e a discutir publicamente sobre “assuntos que merecem ser pensados e refletidos”.