Um projeto do Programa Alimentar Mundial (PAM) está a ensinar a população de cinco distritos de Manica, centro de Moçambique, a quebrar tabus na sua alimentação e recuperar dietas saudáveis, disse à Lusa fonte ligada à iniciativa.

O projeto, que começou a abranger as comunidades dos distritos de Mossurize, Sussundenga, Barué, Guro e Machaze, visa cultivar hábitos alimentares saudáveis e recuperar o estado nutricional da população, através do programa Comunicação para a Mudança Social de Comportamento, segundo Ernesto Almeida, voluntário das Nações Unidas.

“Estamos a implementar o programa de comunicação para a mudança social de comportamento baseado na redução da desnutrição crónica e anemia, através do Comité de Saúde, que leva a sensibilização às comunidades para mudanças de comportamento e quebrar os tabus alimentares, que são as causas das dietas monótonas”, explicou Ernesto Almeida, ao serviço do PAM em Mossurize.

Com o financiamento da União Europeia, o PAM, em parceria com as Secretarias Distritais de Saúde, Mulher e Ação Social (SDSMAS), criou 90 Comités de Saúde nos cinco distritos, totalizando 1.440 membros, para serem os vetores na educação nutricional e de saúde nas comunidades.

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A maioria da população tem dietas alimentares monótonas naqueles distritos com altos índices de desnutrição crónica, mas também de restrições no aproveitamento do cultivo de vários produtos locais, muitos deles desperdiçados.

As mulheres no campo limitam-se a dar papas de farinha de milho com sal ou açúcar aos bebés, na primeira fase alimentar, desperdiçando sementes e folhas de abóbora, folhas de batata-doce e mandioca, hortícolas e leguminosas com bastantes proteínas e disponíveis em abundância nos seus campos.

Aos adultos, a dieta não passa de xima (farinha de milho) e peixe seco repetido nas refeições ao longo de todo o ano, uma situação que contrasta com o grau de produção e disponibilidade de outros alimentos, além de rios com água e peixe em abundância na maioria das zonas da província.

“Registamos casos de desnutrição aguda, principalmente em crianças menores de cinco anos, sendo as principais causas o desmame precoce e depois o mau aproveitamento dos produtos produzidos localmente”, frisou Solange José, médica-chefe distrital de Mossurize, o maior exemplo do contraste entre desnutrição e a disponibilidade de comida.

A taxa de desnutrição crónica ronda aos 40% na província de Manica, provocada geralmente por maus hábitos culturais na alimentação.

Em Moçambique, 44% das crianças sofrem de desnutrição crónica, que se manifesta em problemas no crescimento nos primeiros anos de vida e é responsável por um terço de mortes em crianças menores de cinco anos, segundo dados do UNICEF.

Uma em cada duas crianças menores de 5 anos não consegue atingir o seu potencial de crescimento físico, mental e cognitivo, em locais onde reinam dietas monótonas.

Enquanto dá de mamar no peito a um bebé, Angelina Raquissone, novamente grávida, lembra a morte prematura do seu primeiro filho, na sequência da desnutrição.

“Eu dou papa de farinha e peito a todos os meus filhos. Mas agora percebi que há muitos produtos que temos na machamba (horta) que dando a crianças elas desenvolvem mais rápido do que vários leites, papas e bolachas importadas”, disse Angelina Raquissone.

Uma feira alimentar realiza demonstrações culinárias, inseridas no programa do PAM, para as mulheres aprenderem na prática a confecionar comida através de dezenas de variados pratos locais feitos à base de abóbora, mandioca e batata-doce, e as respetivas folhas, inhame, iogurte de malambe e outros produtos, todos locais.

“Algumas pessoas já usam a produção local, mas limitam-se a ferver o inhame, batata e mandioca e a tomar com chá. Então ensinamos a população a fazer papas com estes produtos, a maioria ricos e nutritivos”, explicou Florência Mondlane, nutricionista e membro do Comité de Saúde de Mossurize, que expôs na feira, sopas e papas feitas na base de batata-doce, abóbora e inhame.