Os alunos portugueses do 4.º ano estão melhores a matemática do que aqueles que terminaram o primeiro ciclo do ensino básico em 2011. Esta é uma das principais conclusões, e a boa notícia, do Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS), um estudo internacional que avalia o desempenho dos alunos do 4.º (e do 8.º ano) de escolaridade a matemática e ciências e que foi aplicado no final do ano letivo de 2014/2015.
Olhando para o ranking dos 49 países e regiões, divulgado esta terça-feira, Portugal ocupa a 13ª posição, tendo subido duas posições face a 2011, e estando já à frente de países muitas vezes apontados como exemplo: a Finlândia e a Holanda. Os alunos portugueses do 4.º ano obtiveram uma média de 541 pontos a matemática, o que traduz uma subida de nove pontos relativamente a 2011.
Ainda de assinalar que, comparativamente com o ano de 2011, Portugal aumentou a percentagem de alunos nos níveis de desempenho avançado — em quatro pontos percentuais, para 12% — e elevado — em quatro pontos percentuais, para 46%. Por outro lado, “3% dos alunos portugueses não conseguiram atingir o nível básico das competências em matemática”. Neste caso, a percentagem manteve-se inalterada face a 2011.
Portugal alargou especialmente o contingente de alunos que conseguiu alcançar os níveis de desempenho mais exigentes no ciclo de 2015″, lê-se no relatório do TIMSS 2015.
Portugal insere-se, assim, no grupo de oito países que “alcançaram os melhores resultados médios em matemática no ciclo TIMSS 2015”, logo a seguir ao grupo dos cinco países asiáticos que ocupam a posição cimeira.
E se procurarmos perceber em que conteúdos os alunos mostram melhor desempenho, rapidamente verificamos que “Portugal não regista diferenças muito vincadas entre a pontuação média global e a pontuação alcançada em cada área de conteúdo da matemática”, sendo que aquela em que obteve melhor pontuação (546 pontos) foi na “apresentação de dados” e aquela em que mais progrediu face a 2011 foi nos “números” (mais 18 pontos). E foi precisamente no conteúdo relativo aos números que a maioria dos países pontuou melhor.
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O Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS) é um estudo internacional, quadrienal, conduzido pela International Association for the Evaluation of Educational Achievement, que tem como objetivo avaliar a literacia a matemática e ciências dos alunos do 4.º e do 8.º ano de escolaridade.
Nesta sexta edição, de 2015, participaram 56 países ou regiões, 11 mil escolas, 20 mil professores, 300 mil alunos e 250 mil encarregados de educação. Em Portugal foram aplicados testes em 217 escolas e participaram 4.693 alunos do 4.º ano. É a terceira participação de Portugal neste testes. As outras duas foram em 1995 (1ª edição) e 2011.
O TIMSS 2015 permite ainda perceber que os alunos portugueses do 4.º ano até conhecem as matérias e conceitos, mas têm mais dificuldades na aplicação e no raciocínio, embora tenham melhorado nas três dimensões, entre 2011 e 2015.
Lembre-se que as novas metas curriculares de matemática entraram em vigor no 1.º e 3.º ano em 2013/14, tendo-se estendido ao 2.º e 4.º ano em 2014/15, portanto os 4.693 alunos do 4.º ano que foram submetidos a esta avaliação em 2015 já tinham sido abrangidos pelas novas metas, de Nuno Crato, contestadas por muitos professores e especialistas, pela sua extensão e inadequação à idade das crianças. Chegou mesmo a ser lançada uma petição para reavaliar as metas curriculares. Embora o novo Executivo ainda não tenha alterado as metas curriculares, já deu orientações às escolas para flexibilizarem os programas e as metas de matemática nos vários ciclos de ensino.
Este estudo avaliou crianças que entraram para o 1º ano do Básico exatamente no primeiro ano da gestão de Nuno Crato, isto é, o seu ciclo de ensino coincidiu com a anterior legislatura.
A participar pela terceira vez neste estudo quadrienal — as outras duas foram em 1995 e em 2011 –, Portugal foi o país que apresentou maior progressão a matemática nos últimos 20 anos, no conjunto de países que participaram em ambos os ciclos de testes. De 1995 para 2015, os alunos pontuaram mais 100 pontos. Nove dois quais entre 2011 e 2015.
Não se deve ignorar porém que, em 1995, Portugal estava na cauda dos 17 países que participaram naquela que foi a primeira edição deste estudo, mais precisamente no antepenúltimo lugar.
Alunos portugueses caíram 13 posições a ciências
A má notícia é que a ciências, os alunos portugueses ficaram-se por um resultado médio de 508 pontos, registando “uma descida significativa de 14 pontos” relativamente à pontuação alcançada em 2011, caindo 13 posições, para o 32º lugar. Uma evolução contrária àquela que se verificou na maioria dos países e regiões participantes nas duas edições. Sublinhe-se contudo que na Finlândia os resultados a ciências também baixaram 16 pontos. Ainda assim os finlandeses mantêm-se nas posições cimeiras: 7.º lugar.
Só um quarto dos alunos portugueses conseguiu alcançar o nível elevado a ciências e apenas 2% alcançou o nível avançado, o que evidenciou uma descida substancial face a 2011. E 4% dos alunos chegaram ao final do primeiro ciclo de ensino sem terem atingido os conhecimentos de ciências que são considerados básicos para esta instituição internacional.
Foi na área das ciências da terra que os alunos portugueses mostraram mais conhecimentos neste teste internacional, embora tenha sido neste conteúdo que mais pioraram face a 2011. As ciências físicas são o calcanhar de Aquiles dentro das ciências, para os alunos portugueses.
Portugal encontra-se entre os três países participantes no ciclo de 2015 que registaram quebras significativas de pontuação em todas as áreas de conteúdo das ciências”, lê-se no relatório.
A quebra verificada de 2011 para 2015 ficou a dever-se, sobretudo, às “descidas estatisticamente significativas” na dimensão “conhecer” (menos 21 pontos) e na dimensão “raciocinar” (menos 19).
Muitos dos professores que criticaram as novas metas curriculares do primeiro ciclo apontaram como um dos problemas o afunilamento curricular, ou seja, o enfoque no português e na matemática, deixando para segundo plano outras áreas. Os resultados obtidos a ciências, que tinham melhorado em 2011 face a 1995 (quando os alunos portugueses pontuaram 480), podem vir dar argumentos aos defensores da revisão das metas.
Eles melhores que elas. Leirienses em destaque. Privados à frente
Direcionando as agulhas apenas para o país, os alunos da região de Leiria são os melhores a matemática, pontuando 35 pontos acima da média nacional, num total de 576 (quase um quarto dos alunos de Leiria alcançaram o nível avançado). E são também os melhores a ciências: mais 23 pontos do que a média nacional. Seguem-se os alunos da região do Alto Minho (mais 28 pontos que a média a matemática e mais 15 a ciências), do Cávado (mais 26 a matemática e mais 14 a ciências) e do Médio Tejo (mais 13 e mais 8, respetivamente).
Por outro lado, os alunos da região do Tâmega e Sousa tiveram os “resultados mais fracos a nível nacional” tanto a matemática, 41 pontos abaixo da média nacional, como a ciências, 31 pontos abaixo da média. No grupo dos piores desempenhos surgem ainda os alunos do Alentejo Litoral, da Lezíria do Tejo e do Alentejo Central.
Olhando para o mapa de Portugal, “pode dizer-se que as unidades territoriais do Norte e algumas do Centro tendem a alcançar melhores desempenhos em matemática do que as congéneres do Sul”, lê-se no relatório produzido pelo IAVE, com os resultados dos testes aplicados em mais de 200 escolas, em 2015. A Ciências é nas regiões do litoral Norte e do centro que se encontram os melhores resultados.
Em termos de sexo, a diferença é “estatisticamente significativa”. São 11 os pontos que separam os alunos rapazes das raparigas a matemática. Portugal é o quinto país com diferença mais acentuada. No que diz respeito às ciências, os meninos também se destacam favoravelmente face às meninas — mais sete pontos.
Das 217 escolas onde o TIMSS foi aplicado em 2015, 19 eram colégios particulares e cooperativas e esses apresentaram melhores desempenhos que as escolas públicas a matemática — 588 pontos contra 536 das escolas públicas — e a ciências — 542 versus 404 pontos.
Em 2015 contamos, assim, com um período de duas décadas de resultados que nos mostram uma evolução globalmente muito positiva, no que se refere ao desempenho dos alunos”, escreve Helder Sousa, presidente do conselho diretivo do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), responsável pela aplicação destes testes em Portugal.
Singapura, Hong Kong, Coreia do Sul e Japão na frente
Tal como em 2011, os alunos com melhores desempenhos no TIMSS 2015 chegam da Ásia, mas precisamente de Singapura, Hong Kong, República da Coreia, Japão e Taiwan. No caso da matemática, por exemplo, os alunos de Singapura obtiveram, em média, 618 pontos – mais 77 que os portugueses.
Olhando para o quadro global, em 2o15 houve um aumento médio significativo para 22 países participantes nos resultados alcançados pelos alunos a matemática. “Em 2015, 63% dos participantes apresentam pontuações médias significativamente superiores ao ponto central da escala, enquanto em 2011 pouco mais de metade (51%) se encontrava acima desse valor”.
Dos países com subidas mais significativas nesta disciplina, e que pontuam acima dos 500, destacam-se o Dubai (mais 43 pontos), a Espanha (mais 23 pontos) e a Croácia (mais 12).
Já países como a Finlândia e a Holanda, apresentados tantas vezes como modelo a seguir, baixaram os resultados face a 2011. Ambos os países caíram 10 pontos. A Finlândia deslizou nove posições, para a 17ª no ranking da matemática — com uma pontuação média global de 535 pontos, penalizada pelo desempenho nos “números” — e no caso das ciências perdeu 16 pontos, tendo caído quatro posições na tabela. A Holanda escorregou sete posições a matemática, ocupando a 19ª em 2015, com 530 pontos.